segunda-feira, 28 de setembro de 2015

Canção da morte interna


Ao cair da morte
Ao elixir, ao ego
Em respeito ao teu nome
Meu Senhor Interno
Ao deixar as sombras
Ao recair, entristecer
Em meio à penumbra
Eu vou te ver
Eu, Super Eu
Detentor da verdade
Sangue ardente
Luz guia da minha eternidade
A última trombeta
Toque melancólico
A ira, a dor
Em meu coração sóbrio
Amargura, sobre o caos
A razão dentro do ser
À noite deixei de respirar
Nas alturas o escurecer...

Noctur Spectrus

segunda-feira, 14 de setembro de 2015

Um gesto por você


Em seus sorrisos encontrei o seu encanto. Não pensava que tão cedo pudera achar algo realmente encantador em você. Talvez eu passei a vida ignorando sua beleza, iludido pela avareza. Você é doce e meiga, mas como toda flor, tem seus espinhos. Você é uma rosa rosa sem cheiro e segredos. Você é um azul azulado com sabor de desejo. Você é, acima de tudo, capaz de se fazer confortável.

Por horas e horas escutei seu choro mas nunca disse uma palavra. Vários dias te encontrei sozinha, mas nunca te estendi a mão. Mas um dia, finalmente, olhei nos seus olhos. Pude ver que fui um tolo em não fazer nada por você durante todo o tempo que passou. Percebi que eu tinha perdido várias oportunidades de ter encontrado aquele olhar. Acariciei os seus cabelos e você parou de chorar... A cena foi tão linda que as vezes se repete quando eu sonho.

Você me encantou e me conquistou, mas meu coração frio te negou. Eu fiz por você apenas o que qualquer outra pessoa de bom caráter faria. Mas mesmo com as atitudes simples que tomei, acabei por abrir meu coração o suficiente para que percebesse que eu não sou um terrível monstro. Eu não podia deixá-la no sofrimento para todo o sempre. Foi uma pena ter que partir e não aproveitar os seus sorrisos que viriam. Mas nunca me esquecerei de nada, este foi um dos principais momentos que vivi na vida.

Noctur Spectrus

quarta-feira, 2 de setembro de 2015

Eu sou


Estou compondo a música da minha morte. Na letra, coloco palavras melancólicas que representarão minha conduta até o inferno. Eu pagarei... sei lá pelo que, mas pagarei... Na verdade, eu sou um ser qualquer com desejos fúnebres. Eu não preciso sofrer, mas optei por isso e continuo optando até agora. Eu insisto na escuridão do meu ser. Não mereço tortura eterna mas intensifico ela no meu coração.

Talvez exista um termo específico para masoquistas sentimentais. A tristeza, a dor e a solidão são prazerosas, mas possuem intensidade flexível. Primeiro elas ficam potentes e podem até induzir ao suicídio. Mas, como me tornei sobrevivente e respeitei ao máximo as situações obscuras, tais egrégoras se enfraqueceram. Hoje eu tento mergulhar no mais profundo buraco negro da minha alma, mas o nada que há lá, não é mais o nada que havia no passado.

É complicado definir o nada. É curioso aliás, quando penso que o nada pode ter diversas definições. Como algo que não existe pode ter várias representações? Como algo que não é, que não está e não existe, pode ter diversas formas de ser compreendido? Filosofia, poesia, amargura, depressão... eu nunca parei. Não nasci para ser feliz, afinal. A felicidade não é busca de todos, pois se fosse, eu também seria um buscador. A felicidade está na satisfação pessoal de estar vivendo conforme suas vontades, mas e se a vontade for a própria tristesa, poderia um indivíduo se feliz estando triste? Não sei, não amo, não odeio. Sou íntegro, mas disperso, sou completo, mas incompleto. Sou tantas coisas e tantas coisas não sou... ouso querer saber e poder.

Noctur Spectrus

segunda-feira, 31 de agosto de 2015

Coexistência


Não importa o tamanho da angústia. Não importa a dor e o sofrimento. Tudo vai passar e tudo irá ser curado. A morte trará a salvação e tudo será lindo e perfeito como no primeiro dia de luz. O renascimento trará novas oportunidades, a vida se fará bela novamente. O ciclo recomeçará... Virão novas condutas, novos dilemas, novas fases... Virão novos amores e novos desamores...

Mas é natural haver tristeza novamente. É natural que a libertação precise ser renovada, e a morte trará isso mais uma vez. Poderia ser assim infinitamente, até que um dia a alma se cansasse dessa cadeia de causas. Poderiam não haver consequências tão graves, mas isso implicaria em uma série de fatores difíceis. Não há tréguas nem medições. Não há parâmetros nem restrições. Tudo funciona do jeito que deve funcionar, mas sempre havendo espaço para defeitos coexistirem com qualidades.

Noctur Spectrus

domingo, 30 de agosto de 2015

Não somos artificiais


Não estamos diante do fim, senhores. É inacreditável olhar para pessoas tão bem arrumadas e perceber tamanha ignorância. Vocês são uns tolos, acham que sabem de tudo, mas estão presos no passado. Não é a nova geração que é mais coerente, são vocês que se deixaram levar pelo conservadorismo. Continuam conservando conceitos e dogmas que se tornaram inúteis.

Não vamos destruir nosso lar, aliás, todos nós somos insignificantes. Vocês gastam muito tempo tentando parecer superiores, mas não há diferença alguma. Nem eu nem vocês temos a verdade, a sabedoria perfeita. Vocês vivem dizendo que precisamos agir, mas as ações que vocês sugerem são de seu caráter e não do meu. Eu não sou obrigado a seguir a ética de ninguém pois a ética, é cada um que faz com os seus pensamentos

Não há medidas exatas na intuição, não há razão capaz de determinar toda a matemática cósmica. Quando morrerem, serão apenas ossos de um corpo em decomposição. A estrutura física, óssea, ficará suja e esquecida. Não há nada demais nisso, é algo natural, mas vocês abominam. Não consigo ver inteligência em homens que não reconhecem os ciclos naturais. Não consigo acreditar na teoria de homens que acham que tudo o que existe é artificial.

Noctur Spectrus

quinta-feira, 27 de agosto de 2015

Preenchimento


Enraizado no medo e na angústia, talvez até um pouco abalado pela falta de água. Com sede e vazio nos pensamentos, vagava em direção à lua, sem saber quando e como chegar. Era guiado pela luz, sem se importar com os obstáculos, coitado. Não tinha mais uma família para lhe apoiar, não tinha mais um abraço para lhe confortar.

Sua caminhada era uma meditação, uma respiração controlada. Sua cabeça doía e os braços tremiam de frio. Sentia vontade de chorar, mas não queria se deixar levar... Era jovem demais para o sofrimento que lhe atingira. Sempre, com os olhos fixados no espelho, dizia em voz baixa: "Aqueles que sofrem, o fazem por merecimento."

Mas agora ele sofria e não se achava merecedor de tanto. Talvez tivera sido enganado pelos dogmas sociais. Talvez acreditou logicamente em algo que não tinha lógica. Não sabia mais o que era verdade e o que era ele. Não tinha mais noção, juízo, estava sozinho, destemido.

Noctur Spectrus

quarta-feira, 26 de agosto de 2015

O ser na solidão


Sozinho eu vou mais longe, não importa o que digam. Estão todos cegos, se importando com coisas inúteis. E todos dependem de um sorriso falso para seguir em frente, mas eu não. No mais sincero voto de injustiça eu ergo minha cabeça. Eu não preciso das amarras sociais que estiveram me segurando por tanto tempo. Não se trata somente de liberdade, mas consciência individual.

A independência é paciente, imperadora do inconsciente. Quando eu fecho os meus olhos e me entrego aos pensamentos, percebo o quanto fui ignorante. A maior ilusão de todas é achar que a vida é um conjunto de inúmeros seres conectados. Eu estou aqui em outro plano tentando entender minha própria solidão consagrada. Que apoio eu terei? Nem mesmo minha razão está de acordo com meus pensamentos neste momento, mas eu não devo esquecer que ela só é importante enquanto eu estiver acordado.

Nos desvios assíncronos da alma, na segurança da penumbra, eu ando nas sombras. Eu vejo a luz, mas não me misturo, pois um espírito negativo não precisa da humilhação. Eu ando descalço por aí imaginando um mundo melhor e depois destruindo ele aos poucos, como o mais poderoso dos demônios faria... Quem quer saber? Até eu mesmo perco a lucidez de vez em quando... Dentro do abismo tudo é inexistente e descomplicado. E nada importará fora da mais destemida realidade. Não há como negar, ilusão e realidade vivem no mesmo lugar, no mesmo espaço, compartilhando o mesmo funcionamento.


O indivíduo é o ser que almeja a glória, mas sem perceber, a oferece para outro ser que não tem individualidade. Sem salvação, ele se perde pelos nomes impuros que desatam os nós da correnteza da vingança. O egoísmo é uma arma bélica de fácil manipulação. Em massa, muitos se perdem tentando se encontrar, quando na verdade, não precisavam de nada. No chão, homens e mulheres rastejam em busca de um pão sagrado que nunca cairá da mão do profeta. E apesar de tudo, poderei andar sozinho. Por que não? Não há consciência interna ou externa capaz de controlar meu domínio. Lá eu vejo reflexos espontâneos que precisam ser ajustados rapidamente para me dar conformidade. Eu tenho um lar, mas não tenho uma casa... É assim que o mundo desaba.

Noctur Spectrus

segunda-feira, 24 de agosto de 2015

O ego incompreensível


Imprescindível entender a questão profunda do meu ser. Tantas vidas, tantas mortes e nenhum tempo para relembrar. Tantos votos, tantas súplicas e nenhuma esperança para repor. De que cor é o sangue da Terra? Qual a água mais pura do oceano? Quem é o mais digno de conhecer o verdadeiro céu? Por muitos anos a humanidade vem acreditando em coisas que nunca se concretizam, e eu aqui, aturdido, cansado, mas com sede filosófica pelo contestamento, continuo expondo as minhas dúvidas para o além.

Em meio a fulgores desconhecidos encontrei uma chama sem combustível. Com passos medonhos e comprimidos cheguei perto até sentir seu calor. Nenhuma forma, nenhum sentimento, nenhum pensamento, nenhum nada... Apenas o completo direito de saber dignamente que a validade do caos é inesperada. Uma figura negra pode se esconder na luz se por alguma falha a luz vier a piscar. Os olhos não enxergam tudo, mas as vezes o que há de escondido passa a ser visível por alguns instantes na nossa visão periférica.

Em meados de tantos séculos houveram rumores os mais diversos. Mas em todos eles sempre houveram expectativas boas e ruins coexistindo. Lágrimas descem todas as noites de virada do ano, ao passo que promessas sobem para as nuvens. As realizações sempre tendem a adiar sua chegada e diminuir a fé dos que dela esperam o sentido de suas vidas. Não... não há suspiro que salve a má concentração negativa no ego.

Noctur Spectrus

quarta-feira, 19 de agosto de 2015

A cidade de Rafael


Todos iam perder suas casas e ir embora. A cidade estava defasada, desanimada, era um declínio imortal que pairava por ali. Tudo bagunçado, as ruas destruídas e ninguém mais se importava com liderança. Nem sequer havia um prefeito ou um capitão que fosse. Apesar de tudo, a terra era fértil e produtiva, a questão é que ninguém sabia produzir.

As pessoas eram preguiçosas, teimosas e conformadas com seu próprio lixo. Haviam cerca de 150 pessoas ali, mas nem as crianças eram mais tão animadas. Os parques e as praças quase não existiam. Em todos os cantos ouviam-se as pessoas resmungando, mas nunca modificando. Todos queriam algo diferente mas ninguém lutava por isso. E muitos tentavam sair, mas não tinham para onde ir.

A cidade era esquecida, abandonada. Por muito tempo foi assim, até que a economia parou, o dinheiro deixou de funcionar e as pessoas voltaram a fazer trocas. O plantio era a única solução, mas não estava mais funcionando. Sem falar que a população masculina cresceu tanto que haviam 20 homens para cada mulher, e por conta disso haviam disputas. O índice de adultério era alto e a miséria fez com que muitos tomassem atitudes desrespeitosas e agressivas.


Por muito pouco as pessoas se destroem. Elas formam dentro de si conceitos concretos de ética e moral, mas esses conceitos de nada valem quando a situação fica altamente crítica. Foi isso que ocorreu com aquela pequena população. Todos esqueceram o amor e o carinho. Todos deixaram de lado seus bons costumes quando perceberam que passariam fome caso ajudassem ao próximo. Todos tinham medo de dar ao vizinho o que necessitavam para sobreviver. Não demorou muito até que uns começassem a roubar os outros. Muitas confusões ocorreram e a cada dia que se passava, as soluções e as reflexões iam sendo deixadas para trás.

Aquela cidade deixou de ser uma cidade. As mulheres foram estupradas até a morte porque os homens, extremamente machistas, fizeram questão de assediá-las até esse ponto. Terríveis criaturas dominadas pelo pecado e pela sede sexual. Depois mataram uns aos outros culpando-se individualmente por problemas que todos eles construíram em conjunto. Meio século depois, a cidade foi encontrada às ruínas por pesquisadores. Moradores mortos nas calçadas ou dentro de casa. Alguns enterrados no fundo da cidade e outros ainda, cobertos por palhas de bananeira.

As conclusões foram diversas e não entraram em consenso. Mas todos, no fundo, sabiam que ali houve um colapso social. Um grupo de pessoas, esquecidos pelo mundo e sem a presença de qualquer líder, automaticamente destruíram uns aos outros. Não são todos que vivem sozinhos sem um guia, por mais que este guia seja outra pessoa. Para não depender deste guia, é preciso ter autoconhecimento e autoliderança, e ninguém ali tinha desenvolvido isso. Todos eram ignorantes, mas não porque deviam e sim porque não buscavam o conhecimento. E assim, por falta de comunhão social, aquela cidade deixou de existir.

Noctur Spectrus

segunda-feira, 17 de agosto de 2015

Traição


É difícil ser traído, passado para trás. É horrível a sensação gélida do abandono, bem como saber que todos ao seu redor fingem ser pessoas que não são somente para te enganar. É natural sentir raiva, ódio. O rancor e a mágoa ficarão por um longo tempo atormentando sua mente durante o sono. E você não vai querer contar pra ninguém com medo de zombarem de você. Logo vem aquele sentimento horrível de humilhação e desamparo. Por que as pessoas são assim? Por que elas querem ser assim?

Egoístas, interesseiras, mesquinhas. Só pensam em si próprias, não dão espaço para a compaixão. A sociedade atual é um conjunto de indivíduos antissociais. Todos andam próximos mas em conjunto não formam um grupo. Só se unem em benefício próprio. É muito raro encontrar pessoas que realmente se importam com o bem comum entre todos. É muito difícil achar alguém que deseje do fundo do coração que todos sejam felizes na mesma medida.

Como confiar nas pessoas se elas são emocionalmente frágeis? Como acreditar nas pessoas se elas são tão mentirosas? E por que deixar de confiar e deixar de acreditar é considerado por muitos uma falha ou um equívoco? Por que ser uma pessoa fechada é ruim? Todos querem confiança, mas nem todos merecem isso. Todos querem flores enquanto muitos merecem espinhos. Mas mesmo assim, as pessoas, orgulhosas de si mesmas, preferem negar seus defeitos e exaltar suas qualidades.

Noctur Spectrus

sábado, 15 de agosto de 2015

História de um ser maligno


Eu seguia os passos dela pela cidade. Observava seus caminhos, suas condutas, seu histórico social. Eu não conseguia entender por que ela me atraía tanto. Eu simplesmente não conseguia me livrar desse pesadelo. Ela se torturava por coisas muito infantis. Mas eu não conseguia simplesmente ir embora e deixá-la para trás. Sempre que tentava, o destino nos unia novamente.

Comecei a me sentir responsável pelos seus atos. Comecei a tentar influenciá-la de alguma forma a fazer as coisas certas. Tentei ajudar como eu podia. Me apaixonei por ela de alguma forma. Ela não me via, era como se eu fosse transparente no seu mundo. Eu falava no ouvido dela: "faça isso", "faça aquilo". No início ela não me atendia e sempre se dava mal. Mas depois... quando estava no fundo do poço, algo nos conectou naturalmente e ela pôde me ouvir.


Ela tinha pais difíceis de lidar, uma batalha incessante na faculdade. Quando começou a me ouvir, se tornou mais eficaz. Aos poucos ela estava se dando melhor na vida. Percebi que a vida não era o que todos diziam, que a vida não é só questão de ética. Logo transmiti isso para ela também, que apesar de não me ver, me entendia muito bem. Ela se tornou mais egoísta, confesso, mas cresceu.

Muitos invejosos surgiram em sua vida para irritá-la, tentar derrubá-la. Isso fez com que crescesse um ódio terrível nela. Esse ódio me fortaleceu quando eu também fui capaz de senti-lo. Pela primeira vez, eu consegui me desconectar dela, mas apenas para me vingar de pessoas que tentavam atrapalhar. À essa altura eu nem sabia mais quem eu era, de onde eu vim, o que sou... Eu só queria saber de ajudar ela. E eu usava aquele ódio todo para consumir seus inimigos.

Desestabilizava suas emoções, era muito maldoso com os que a atacavam durante o dia a dia. Então percebi que existia algo que poderia me dar mais força. Descobri ao visitar lugares tenebrosos, a existência da magia negra. Logo fiz uso de minha influência para que ela conhecesse isso. Em menos de uma semana ela já estava pondo em prática. Ela era a mediante e eu o executor. Não demorou muito até nos conhecermos finalmente.


Minha aparência era diabólica e não mais humana como eu pensava que era. Ela conversou comigo tranquilamente e eu a mostrei tudo o que fiz por ela durante todo o tempo. Ela ficou muito grata e passamos a trabalhar juntos. A partir desse momento se tornamos altamente destrutivos. Ela conseguiu o emprego que sempre quis, conquistou o dinheiro que sempre desejou. E eu me alimentava do ódio que ela sentia. Era uma troca de favores.

Por muito tempo foi assim até eu conseguir influenciar com mais forças em suas decisões. Eu já não conseguia somente sugerir ações, como ordenar também. Eu podia usar isso para satisfazer os meus desejos, mas preferi utilizar para ajudá-la ainda mais. Eu a amava, não podia permitir que ela namorasse ou se casasse com ninguém. Então não deixava ela abrir brechas para relacionamentos.

E dessa forma passei a proibi-la de diversas coisas e de diversas formas. Eu a impedia de realizar algumas coisas que desejava para fazer as coisas que eu queria que ela fizesse. Logo se tornei o dono dela. Se tornamos mais afins, pois ela passou a praticar mais magia negra. Nos acoplamos intensamente pela primeira vez durante um ritual sinistro. Naquele momento nem eu mesmo podia controlar o que estava havendo. Eu percebi que tinha chegado no ápice da nossa relação, eu não somente podia tomar as decisões por ela como também podia agora, fazer as coisas por ela. Sim, eu a possuí e ela teve a sensação de estar mais forte.

Eu conseguia sentir o que ela sentia, ouvir o que ela ouvia, ver o que ela via, saber de tudo que ela sabia. Eu era ela, eu estava nela e aquele corpo agora pertencia a mim. Todo o ódio e toda a fúria que tínhamos construído juntos foi lançada para fora e eu não sabia controlar tudo isso. Comecei a quebrar as coisas e destruir os objetos ali presentes, então saí correndo pela rua sem rumo até chegar numa encruzilhada escura. Começamos a rir juntos e se gabar do nosso poder. Eu socava o chão, arranhava nossos braços e nenhum de nós sentia dor. Eu puxava nossos cabelos até arrancá-los e não doía.

Encontramos um cachorro, o matamos com nossas próprias mãos e tivemos a coragem de beber o seu sangue. Olhávamos para o céu, para a lua e rugíamos como se fôssemos lobos ferozes. Aquele ódio que nos fortaleceu esse tempo todo agora crescia sem parar e ficávamos mais valentes. Estávamos mais unidos do que nunca e prontos para fazer o mal a quem quer que fosse. Eu tinha certeza que não estávamos errados e que haviam muitos como eu na vida de muitas pessoas por aí fazendo a mesma coisa. Todos tinham esses ajudantes malignos que indicavam caminhos o tempo todo. Todos podiam um dia ter o mesmo destino, era só questão de tempo e de sabedoria destes seres malignos.


Enquanto passeávamos eu podia ver muitos dos meus semelhantes fazendo o mesmo processo de indução. Mas os tolos sempre buscavam satisfazer vícios insanos. Eu fui mais esperto, não me apeguei a isso, busquei o ápice. Eu consegui subir a montanha e dominar o tigre. Agora estou aqui com o meu prêmio. O amor acabou, restou somente o prazer. Ela não é mais minha amiga, é minha serva, enquanto viver.

Noctur Spectrus

sexta-feira, 14 de agosto de 2015

Sinos no inferno


Tocaram os sinos do inferno
Foram desenterrados os pesadelos
Ressuscitaram os pobres enfermos
Os colocaram no desespero
Usava véu a prostituta
Queria ser uma santa diabólica
Dançava nua em cima da sepultura
De uma criatura gélida e mórbida
Com olhos fundos e negros
Passeavam os escravos do medo
Desvendando os piores segredos
Dos que começaram sua jornada cedo

Noctur Spectrus

terça-feira, 11 de agosto de 2015

Guerra interna


Um motivo, uma única luz. Um brilho forte numa escuridão irritante. Tudo que necessito é acreditar, ser melhor do que já sou. A única pessoa que posso superar sou eu mesma. Posso riscar no chão um desejo qualquer e prometer que irei cumprir até o final da estação. Meu coração bombeia em intervalos menores toda vez que eu me arrisco contra minha própria palavra. Eu sou a imagem obscura que atormenta meus próprios sonhos.

Não há algemas que possam segurar minhas emoções quando elas se vão. Não há prisões, cadeias, nada! Eu não posso simplesmente forçar meus sentimentos a fazerem o que eu quero, a virem na hora que eu quero. Ouço o som de uma música que toquei na infância. Estou numa guerra, morta, com vontade de ressurgir nas sombras. Eu olho minha face no espelho e tudo o que eu quero é socar no meio dela. Estou numa guerra interna!

Eu quero quebrar as paredes e fugir, quero olhar para a luz e seguir... Mas meus pés molhados escorregam sem querer. Para onde irei? Do que temerei? Um sorriso, um choro, no início e no fim. Eu tenho algo para resolver. Pular de galho em galho não me ajudará! Eu preciso ser mais valente, corajosa e fiel aos meus instintos. Eu estou em graça, mas vivo uma desgraça, frente ao ódio, mas com um pouco de amor.

Noctur Spectrus

domingo, 9 de agosto de 2015

Dependo


As vezes é bom olhar para o mar e pensar em quantas coisas se passaram na minha vida. As vezes eu não me contento somente com o vislumbre da luz nas águas vindo de encontro aos meus olhos. A brisa diante do mar é tão suave e refrescante, que é normal esquecer o passado por alguns instantes. É insuportável perder a inspiração em um momento tão interessante como esse.

Em algumas situações, dentro da minha casa, tenho refletido sobre a exposição dos meus pensamentos. É natural que muitas vezes eu não tenha nada a dizer. Isso nunca me atrapalhou, mas atualmente, eu não sei mais como isso funciona. Parece até que sou um dependente das sombras. Toda vez que olho para as paisagens mais belas, perco meu foco. Eu queria ir até as águas mais profundas e tentar entender o que acontece comigo.

Eu queria buscar um tesouro no fim do oceano, cheio de ideias surreais. Eu quero tantas coisas neste mar imenso, quero tantas águas visitar... Mas me sinto preso no desejo desanimado de sempre voltar para casa. Talvez a solução mais pertinente seria esquecer a mim mesmo, esquecer quem eu sou, para depois de tudo isso, descobrir as respostas novamente. Talvez eu tenha o dever de me redescobrir, me conhecer novamente... Ou talvez, eu só precise compreender um pouco melhor a minha mente.

Noctur Spectrus

sábado, 8 de agosto de 2015

Andarilho na escuridão


Lamentável meu coração, que tantas horas se esforça para agradar meus instintos. Doloroso é o conflito interno que passo todos os dias diante de minha própria imagem no espelho. Triste, mas de cabeça erguida. Eu tenho dentro de mim muita coisa estranha. Eu olho nos meus olhos e sinto o receio em mostrar para o mundo o que penso, o que imagino. "Eu não sou um monstro". Digo isso o tempo todo, chorando, tentando fazer com que eu mesmo acredite nisso.

Eu não quero fazer mal a ninguém, mas eu sei que somente palavras não bastam. Eu me sinto capaz de oferecer algo bom para as pessoas, mas não há tantas delas na minha vida. Eu consigo viver na luz e nas trevas, eu consigo ser bom e ser ruim, mas em qualquer das situações, nunca destruiria ninguém. Eu não sou um demônio, mas eu sei que um dia eu direi que sou. Eu não sou um anjo, mas eu sei que um dia me sentirei assim. Eu ainda vou mudar de ideia várias vezes sobre mim. Eu ando me estudando, mas tem coisas que eu tenho medo de saber.

Eu tenho tantos motivos para desistir... e tantos outros motivos para seguir em frente... Mas a realidade me desanima. Os fatos são traiçoeiros, eu sou vítima do meu próprio destino. Eu queria ir mais além, mas as vezes acho melhor ficar por aqui mesmo. As vezes eu penso que eu não sou um bom livro para se ler. As vezes eu me recuso a confiar nos meus impulsos naturais. Eu tenho muitas coisas para aprender, algumas coisas para ensinar também. Mas talvez, ninguém devesse seguir os meus passos, pois sou um andarilho na escuridão.

Noctur Spectrus

Menina diabólica


Ela era uma criança revoltada contra os próprios pais. Mas não conseguia viver sem eles. Ela buscava renovar seu estoque secreto de cabeças humanas, as quais nunca conseguiu se desapegar. Tinha sete anos, mas já havia matado mais pessoas do que se pode contar com os dedos. Ninguém desconfiava, ninguém sabia, somente ela e o demônio com o qual conversava todas as noites antes de dormir.

Ela tinha medo de Deus e amor pelo diabo. Ela sonhava todas as noites que estava sendo possuída e gostava. Ela queria entregar seu corpo para que os demônios fizessem desgraças por meio dela. Ela era adoradora de Satã mas ninguém imaginava. Ela tentava esconder seus comportamentos grosseiros e seus desejos maléficos na frente dos familiares, mas o tempo todo planejava a morte deles.

Ela queria morrer antes de completar dez anos, planejava várias formas de suicídio. Ela se cortava em várias partes do corpo e dizia para os pais que eram apenas arranhões feitos pelo gato ou feridas ocasionadas por espinhos de plantas no quintal de casa. Ela planejava matar todo mundo antes de ir para o inferno. Ela queria carregar pelo menos a sua própria família e os colegas da escola.


Ela tinha muita vontade de fazer sexo, mesmo sendo uma criança. Ela queria estuprar seus coleguinhas e enfiar uma faca nos seus estômagos. Ela era diabólica, brincava de evocar espíritos as três horas da manhã. Ela enfeitiçava suas bonecas com magia negra. Ela mordia o dedo até sangrar para oferecer aos seres das trevas o sangue em troca de ataques espirituais. Ela condenava e amaldiçoava os vizinhos e desejava que eles morressem. No natal ela blasfemava contra Cristo sem ninguém perceber.

Ela ensinava aos mais próximos que Satã era o governante do mundo. Ela queria que todos o adorassem. Ela queria ter o prazer de beber sangue de pessoas recentemente mortas. Ela queria beber vinho no cemitério e desenterrar cadáveres. Ela queria poder se embriagar como os adultos faziam. Ela queria amarrar fogos de artifícios em cachorros e fazê-los sofrer. Ela queria matar passarinhos para não deixá-los animarem mais ninguém.

Ela forçava o próprio vômito só como passatempo. Ela jogava dados sem parar como se fosse o seu maior vício. Ela implorava para que o mal dominasse o mundo. Ela era, sem dúvida a mais cruel criança. Não demonstrava medo diante de nada, não piscava os olhos quando alguém fingia que iria lhe bater. Não se importava com altura e odiava assistir filmes de terror, não achava graça. Ela queria provocar o terror, tinha orgulho de gente maligna. Ela sempre torcia para os vilões. Ela era... a criança diabólica mais terrível que se pudesse imaginar, mas ninguém chegava nem perto de imaginar o que ela seria capaz de fazer...

Noctur Spectrus

sexta-feira, 7 de agosto de 2015

Voar ou não voar

Não há espaço para o desespero, quando o coração encara o medo
Não há temores escondidos, a infância não foi perdida
E nada haverá de intermediário, entre a cura e a ferida
Nada entre o nada no vazio e no vácuo, os sonhos não se acabaram
Um suspiro é o suficiente para se erguer e seguir em frente
Sempre com consciência, ética e controle da mente


Era meio tarde para estar pensando asneiras sobre o passado. O futuro parecia mais brilhante embora não tão real. Eu estava preso no paradigma imortal da imaginação, podia olhar para as paisagens e ver meu próprio ser se misturando com as árvores. Eu estava um pouco cansado pelo dia terrível, mas também um pouco animado, aprimorado e sensível. Tosco era acreditar que talvez, dali não sairiam tantas coisas novas...

Original, vasculhando o interior dos meus pensamentos, indo ao encontro com meu próprio Eu. Estava eu ali deitado na minha cama observando o teto sem qualquer coisa interessante flutuando na mente. Logo a noite chegaria e traria algo para mim. Um aperto no peito, uma confusão na alma, uma luz branca como um orb, passou diante dos meus olhos. Não me importei, chega de ilusões, eu queria acreditar em algo de verdade.

Não podia esperar de mim mesmo a sorte, pois ela é aleatória. Eu sou dinâmico, flexível, mas não arrisco tudo por uma opção incerta. Na verdade, outras vezes já fiz isso. O arrependimento nunca me foi um problema contínuo. Para um andarilho dos próprios pensamentos, o único arrependimento é a idade e o tempo. Não posso pará-los, retrocedê-los ou controlá-los completamente. Isso não faz de mim um fracasso, mas as vezes me deixa intrigado. É hora de sair, ver o mundo de fora e deixar um pouco de lado o de dentro.

Noctur Spectrus

quarta-feira, 5 de agosto de 2015

Sentido


A vida é um enigma, um desafio, uma dádiva. Qualquer coisa que você aprenda e usufrua é um lucro para sua própria consciência. Você é um ser em expansão, com sentimentos, emoções, razão e intelectualidade. Você é um composto de características marcantes e não marcantes. Você é um indivíduo que vive numa sociedade. Você é influência, você é influenciado. Você respira, você almeja, você sonha, você deseja.

Talvez você ache que não exista nenhum objetivo específico em tudo isso... Por que viver? Por que estudar? Por que construir coisas, projetos, se você não vai viver para sempre? Por que estar vivo e vivenciando experiências se no final, a morte baterá o martelo? É... eu sei, muitas questões assim podem surgir, e é bem provável que não exista resposta para nenhuma delas. Mas o engraçado, é que elas não precisam de uma resposta.


Não existe um sentido fixo para a vida, cada pessoa cria ou adere o seu próprio sentido. Cada indivíduo decide qual a meta que ele quer atingir. E cada indivíduo também é livre para não ter metas, objetivos. Cada ser é um ser, cada alma é uma alma, cada mente, uma mente. O grande problema, é que algumas vezes, deixamo-nos levar por essas questões e nos deprimimos, achamos que não deveríamos estar vivos. Eu já me senti assim... e sei que muitos também já passaram por isso.

A verdade é que você pode construir sua própria verdade. Você não precisa estudar, não precisa construir coisas novas ou projetos. Não precisa fazer amigos, não precisa ter ética, você nem mesmo precisa viver. Mas fazer tudo isso, com certeza é uma opção melhor do que simplesmente desistir de tudo. Uma coisa é certa, se não existe sentido na existência, também não haverá sentido na inexistência. Se você acha que precisa de um sentido para viver, deveria iniciar uma busca no seu próprio interior. Você não pode escapar da morte, mas pode fazer com que daqui até lá você viva momentos realmente gratificantes.

Se divertir é o primeiro passo, pois isso eleva nossa felicidade, uma coisa essencial para um bem estar físico e emocional. Buscar coisas que te agradem e evitar coisas que para você, são uma chatice, é essencial para não levar uma vida monótona e tediosa. O tédio aliás, é um grande problema, ele te trava, te assedia de forma mental e no final ainda te lança no abismo da preguiça e do conformismo. Lembre-se que seu cérebro é como um tipo de máquina fascinante e ele pode realizar uma variedade enorme de tarefas, basta você ter em mente qualquer coisa para fazer.

Noctur Spectrus

segunda-feira, 3 de agosto de 2015

Me leva


Refletia no espelho o senhor das trevas. Olhando fixamente para os seus olhos tentando me perder. Implorando pelo motivo inexplicável do suicídio. Esperava com boas intenções encontrar o inferno. Desejava com todas as forças arrastar os demônios em uma corrente de fogo. Queria ser um caçador, uma presa e um jogador no jogo mais difícil de todos os mundos.

Gritando por atenção, intimidade, mas nunca por desespero. Já se passara anos desde que deixei o medo para trás. Fui atormentado por figuras assombrosas, fui aterrorizado por criaturas das sombras. Hoje nem me importo mais com a presença de nada. Uma flecha que atinge o meu peito de forma furiosa não tem tanto impacto quanto minha própria frieza. Eu tenho um coração de gelo que se recusa a derreter.

Alguns já me perguntaram o que eu achava de mim mesmo... eu nada respondia. Fuga ou resposta, o silêncio nunca me foi um obstáculo. Eu encontrava razões no meio do nada, através do nada e por nada. Eu não torcia minhas roupas molhadas antes de vesti-las. Eu não esperava a chuva passar para caminhar pela terra. Eu simplesmente me molhava, sentia o vento, o frio e a água.

Não tem como medir minha perseverança. Eu perdi a esperança de querer ter esperança. Eu perdi o desejo por coisas boas e ruins, mas também não me apeguei ao vazio. Lobos solitários uivavam para a Lua enquanto eu gritava pedindo para que a misericórdia se afastasse. Eu via as pessoas indo e vindo de um lado para o outro. Cheias de coisas inúteis pra fazer, perdidas no sistema. Quando me viam, me achavam um psicopata ou um doente mental. Evitavam me olhar nos olhos. Acho que pensavam que eu era estranho demais para estar no meio deles. Pobres humanos... se acham os donos do mundo...


Corpos possuídos como marionetes circulando no centro urbano. Orações da boca pra fora. As pessoas pediam perdão antes de cometer os erros. Todos se arrastando, sofrendo e lamentando pelas perdas. Todos chorando escondidos e se perguntando o porquê da vida ser tão difícil. Mas apesar de tanta hipocrisia, eu era o único que merecia ser chamado de amaldiçoado.

Sim, eu olhava e esperava, queria ver se o senhor das trevas me carregaria, afinal... Já estava em dúvida se não era eu mesmo sendo refletido no espelho. Me perguntava se eu tinha me tornado isso. Eu conhecia demais, mas as coisas que eu conhecia estavam em uma realidade paralela, escondida, onde os monstros eram livres e os fantasmas dominavam. Todo mundo tem fantasmas, todo mundo tem medos. Eu vivia num lugar onde eu podia desfrutar de todos eles, ao mesmo tempo. Isso é pior do que qualquer treinamento militar, até mesmo no umbral. Mesmo assim não lembro de sorrisos nem choros.

Noctur Spectrus

quarta-feira, 29 de julho de 2015

Subconsciente


Me conceda o descanso, o digno silêncio
Pois a morte me é de direito
O suspiro sufocado na escuridão que almeje a paz
A tranquilidade que se movimenta na sombra, que seja meu aconchego
O caçador precisa dormir, sonhar, triunfar
O trabalhador precisa da recompensa dos seus esforços
Os sentimentos que me dão trégua
As emoções que pararam de me seguir
Agora é o momento da dúvida me esquecer
É o momento da mente ficar lúcida
A conexão interna do ser, o combate interno do ego
Nada disso será um incômodo significante
Pois tudo agora deixa de fazer parte do meu eterno
E passa a ser manipulável
A morte leva um pouco do consciente
Mas eu trouxe os experimentos do inexistente
Eu sou uma alma que fecha os olhos
Eu sou uma alma que descansa em paz
Não preciso mais pensar, não preciso mais questionar
Apenas necessito entrar na escuridão
Visitar as trevas, entrar no subconsciente
Nada haverá, somente vultos
Nada me tocará, somente eu mesmo.

Noctur Spectrus

segunda-feira, 27 de julho de 2015

Inferno


Uma alma soprada no vento, um doce acalento em ternura. Uma sabedoria entregue ao mais interior da alma. A loucura, a insanidade, a mais pura humanidade correndo direto para o fogo. O suave aroma dos pecados enveredava pelos altos. As colinas distantes produziam diamantes negros que apontavam para as quatro direções.

Havia na estrada da morte, um assassino em série. Arrastando uma criança com o braço. Ela era uma vítima, uma refém do medo e da soberba. Lá estava ele a enforcando, a garota quase estava sem ar. A terra imunda transportava impurezas, doenças, vermes e todas as fobias. Ninguém mais apontava o dedo para acusar o reflexo no espelho. Os entes queridos se tornaram entes despercebidos. Naquele inferno, julgavam-se os infiéis e os que nunca compreenderam a razão de um dia terem tido a oportunidade de estarem vivos.

Correntes quebradas se espalhavam por todos os lados. Elas eram o resquício de sofredores que tentaram escapar. Em vão olharam para o céu e desistiram de toda a esperança. A cura para a dor não existia ali. Não havia prazer, nem drogas, nem amor. Era tudo seco, morto, sem cor. Era uma era que nunca teve início e nunca teria fim. Era um estado interminável e inquebrável.

Noctur Spectrus

domingo, 26 de julho de 2015

Nunca obsessor


Simples, interessante sofrimento
Doce, amargurado talento
Em rabiscos, desenhava o tempo
Cantarolava para meu próprio acalento
Eu intervia no meu próprio pensamento
Eu dava luz ao meu próprio sentimento
Fiel... ao meu desejo insondável
Forte no meu íntimo impenetrável
Adocicado no meu coração afável
Adormecido na minha alma estável
Eu sonhava e me esticava para o interior do Universo
Eu era lúcido, indiferente, mas disperso...

Em tantas horas de pensamentos confusos, ouvi a dúvida cutucar minha mente. Era uma sombra, uma peculiar amargura que passeava sem rumo nos corredores da cabana. Que triste, sem aparência, vislumbrava uma luz no formato de uma gente. Quem poderia ser? Eu tinha pena, mas por que? Talvez tivera sido alguém que conheci no passado...

Eu era um espaço vago esperando a mais bela flor. Enigmático, sofredor, mas nunca obsessor. Eu espionava os atos mecânicos do meu corpo. Sentia subir a energia primordial do sexo. Eu era a paz convertida no pecado, no erro, na insanidade. Eu era simples, interessado na lucidez da alma universal. Eu lutava contra todas as forças da solidão. Eu lutava e não temia... Esse era, talvez o maior dos problemas...

Noctur Spectrus

sábado, 25 de julho de 2015

Anjo caído


O início de uma transgressão sociopata. Um surto da inteligência que se deslocou para o mais maligno desejo de morte. A fusão de ideias e loucuras que levavam à um único vilão: o ser humano. Raça imunda de vermes sem noção. Seres inferiores, tomados pelo medo e pelo egoísmo. Tão insignificantes eram, mas pra quem vive nas traças de um mundo imperfeito, tomar qualquer atitude, não seria nada inesperado.

Era a hora e a época, o signo e a véspera. Estava no tempo desejado, na condição adequada. A vida, uma substância volátil que esperava sua libertação. Um poço obscuro, molhado, esquecido. Não havia para onde olhar, senão para cima, mas mesmo assim, olhei para baixo. Vi, mesmo no escuro o reflexo de um sujeito humilhado pela própria existência. Um ser caído nas trevas com uma promessa desconhecida.

Entre diversos enigmas, havia um em especial que superava o estigma. Era ele relacionado ao tamanho das circunstâncias provocadas por todas as revoltas. O surreal, o mais mutável caminho desconhecido. O caminho que nunca mostrava paisagens, mas ao invés disso, tormentos. E mesmo assim, eu tentava abrir minhas cicatrizes e ferir o medo mais ainda. Mesmo assim eu ousava desafiar as sombras e encarar com emoção meu coração...

Noctur Spectrus

Palavras sábias


Quando o tempo passar, e ele sempre passa, algumas coisas ficarão para trás. O passado é um armazém de lembranças e o futuro um armazém de incertezas. O ser quer sempre estar para continuar sendo o que ele está a ser. Ciclos e mais ciclos vivemos num mundo onde as coisas parecem não ter sentido. Na verdade o sentido é como a perfeição, sempre desejamos alcançar, mas nunca obteremos com veracidade.

Possuímos medos que nos retraem, nos aprisionam e nos manipulam. Possuímos inseguranças e desafios e temos que tentar lidar com as duas coisas ao mesmo tempo. A alma é uma pintura que está sendo retratada em um quadro. O quadro é o nosso corpo, nossa matéria. Estamos aqui, vivendo uma obra de arte sem conhecer a verdade. O conhecimento é uma fronteira infinita porque não somos capazes de contê-lo.

Pensar, refletir, questionar é ao mesmo tempo desafiar o pensamento. Mas as vezes as pessoas tem medo de fazer isso, pois estão acorrentadas por ideias inatas. Ideias que sempre acompanharam sua linha de raciocínio e não querem deixar de existir. Para isso, tentam fazer com que a mente elimine qualquer discordância. Até parece algum tipo de sobrevivência maliciosa. Todas as pessoas do mundo estão sujeitas à essa alienação. A fase mais difícil, é entender o que se passa e se libertar disso.

Pessoas que vivem isso são escravas e inflexíveis. Elas vivem uma verdade falsa construída em uma linha de pensamento falsa. Mas ainda assim, não conseguem entender a falsidade por trás de si mesmas e encaram isso como uma ideia absoluta. Muitas vezes até, querem que os mais próximos se juntem à isso. Isso seria talvez, uma forma de replicação dos próprios pensamentos e de forma natural. O grande risco da natureza dessa ação, é a forma como uma ideia, mesmo que falsa, se espalha.


De todos os lugares, de todas as palavras, estão vindo influências de todo o tipo. Elas podem mudar nossa mente, fazer nossa cabeça e podem até nos transformar em algo que não conhecemos. Tudo isso, muitas vezes, sem tomarmos conhecimento do que está acontecendo. Ideias são como venenos, tóxicos, você está o tempo todo diante delas e precisa sobreviver. Precisa aprender a manipular todas elas ao invés de ser manipulado. Precisa aprender a construir no seu interior suas próprias ideias, porém com todo o cuidado, para não estar somente replicando insanidades sem perceber.

Não é que a vida seja difícil, é que ela é como um jogo, cheio de estágios e obstáculos. Quando você está equilibrado e com o jogo em equilíbrio, é sinal de que está com uma ótima pontuação. Quando está deprimido, com baixa autoestima e confuso, significa que está com uma pontuação mais baixa. É basicamente assim que funciona. O último estágio é a morte. Ela é o fim do jogo, mas apesar de tudo, não traz a certeza de que tudo acaba por ali mesmo.

Noctur Spectrus

quinta-feira, 23 de julho de 2015

O garoto primogênito de Sara


Estava lá, aturdido, coitado. Era pequeno, uma criança sem pais e sem notícias sobre qualquer coisa. Eu nunca o deixaria, mas não podia me mover. Estava diante de um campo minado, qualquer passo me destruiria. O garoto tinha um grande potencial, ele poderia ser um grande homem no futuro. O que eu mais desejava era ver como ele seria capaz de ajudar todas as pessoas. Mas naquele momento, não tinha o que fazer.

Ele estava assombrado, finalmente olhou para mim. Tentei o avisar para não se aproximar, mas ele não atendeu meus pedidos. Foi-se o primeiro passo na área do campo minado. Houve a primeira explosão. Ele pisou em cima da mina, meu Deus, meus olhos lacrimejaram. Mas de alguma forma, o seu corpo resistiu. Fiquei surpreso. Haviam alguns arranhões, ferimentos, mas ele estava intacto. Como poderia ser? O garoto tinha realmente super poderes.

Foi-se o segundo passo, mais uma bomba explodiu. A cada passo ele ia ficando cada vez mais ferido, mais danificado. Eu chorava, implorava para que ele parasse. Mas ele continuava. Estava sofrendo muito. Eu imaginava que a cada bomba que estourava, era como ser morto terrivelmente. Eu vi ele sofrer isso por dezenas de vezes até chegar à minha frente completamente ferido e ensanguentado. Me estendia a mão.

Não tive reação. Perguntei o porquê de ele ter feito isso. Ele simplesmente respondeu: "Eu sei que tenho grandes capacidades, mas preciso de alguém para me ensinar o valor de tudo isso, preciso de alguém que me ensine a desenvolver isso. Não posso viver neste mundo sozinho, sem direção". O garoto, apesar de novo, tinha uma personalidade forte. Peguei na sua mão e juntos saímos dali. Cuidei dos seus ferimentos. Eu sei que um dia ele será um grande herói e restituirá a Terra. Mas por enquanto, é necessário se preparar por anos e anos.

Noctur Spectrus

terça-feira, 21 de julho de 2015

Caído no deserto

Meus pés ardendo, tão quente estão. Circulando neste deserto que nunca acaba, o que eu faço? Olho para o céu e tento encontrar uma resposta, mas até a luz do sol brilhando me incomoda. Sinto que estou queimando aos poucos, minha garganta está seca. Não há nada, somente o mais terrível medo do sofrimento. Estou sufocando, perdendo mais água enquanto o tempo passa. Será que ao adormecer, viverei a mais eterna miragem?


Não tenho forças suficiente para caminhar com bom semblante. Não existe mais disposição, foi a falta dela que me pôs aqui. Não sei sair, não sei onde estou, não sei quem sou, não sei... Eu apenas sinto uma camada quente em volta do meu corpo. É como se eu estivesse tendo uma combustão interna. Estou delirando, tonto, sem norte. Sinto que vou desmaiar e que vou morrer aqui mesmo. Neste lugar, quente e seco, onde nem o vento é capaz de apaziguar a tortura.

Finalmente, caí ao chão, a areia quente agora me queima como se eu fosse lenha. Agora sei que tudo está perdido, pois não posso mais me levantar. Não tenho mais forças nem sequer para pensar. A dor invade meu coração, não consigo me lembrar de nada que vivi. Se tive experiências elas foram completamente em vão agora. Nada mais está no meu caminho, somente a miragem que eu já esperava que iria encontrar...

Noctur Spectrus

segunda-feira, 20 de julho de 2015

Disperso


A distância e o pecado, um terror sem identidade. Um estado sólido petrificado no coração amargurado. Sem espaço para o tempo e sem tempo para o espaço. Uma dor insuportável renegava o medo irresponsável. Estava memorizando os números da minha anormalidade. Quem sabe meu quociente me levaria à algum lugar... Eu tinha em mente aquilo que o intelecto precisava.

Eu era ambicioso, progressivo, mas também um guia de evolução interna. Eu enchia balões de ar somente para representar o universo e depois, propositalmente, estourava todos. Quem era eu? Um ser na nudez da natureza inflame? O que eu sentia? Não sei, não lembro... Eu sei que tem alguém em algum lugar tentando me frear. Eu sei que pessoas por aí não querem que eu me supere. Só que felizmente, a minha superação depende somente de mim.

Não importa o quanto eu erre, não importa quanta obscuridade eu viverei. Eu sempre superarei tudo isso e estarei de pé. Eu serei um corpo infestado de sentimentos e pensamentos. Mas mesmo assim, seres inúteis tentarão em vão me destronar. Eu reino no meu íntimo e viajo na minha existência. Se você não tem valor dentro disso, como poderá me enfrentar?

Noctur Spectrus

Transmutação


É inexplicável a forma, o vazio e a alma indiscreta num espaço inerte. Você é Sol, você é Lua, mas você não brilha. Já pensou como é se sentir assim? Talvez eu tenha em mim apenas mais um aspecto negativo ligado à autoconfiança. Mas eu não sei te dizer o porquê. Eu vivo sem substantivos tentando entender a vida nos adjetivos. Eu sei qual é a sensação de morrer, mas nunca me pergunte o que é viver.

Eu brinco sim, as vezes, com piratas e navios. Eu nunca sei por qual direção navegar. Mas isso não me assombra pois nunca desejo chegar à lugar nenhum. Eu espero no final encontrar um lugar onde o mar desabe no abismo. Eu queria poder viver um pouco das terras planas. Eu queria entender um pouco mais sobre a discórdia e sobre a ciência natural das coisas. Eu quero criar uma companhia confortável para os dias luxuosos.


Preciso parar de escrever diretamente e voltar a ser indiferente. Eu quero sentir novamente o sabor de uma doce fruta, aromática, livre de venenos. Eu não sou capaz de entender meu próprio ser surreal. Penso assim, vivo assim, mas também não necessito entender minha própria loucura. Viver intensamente? Talvez, mas não quero ser no fim das contas, engolido por um buraco negro.

As palavras produzem formas do meu pensamento. Minha mente potencializa meus desejos e os faz se tornarem reais. Eu sei que posso trazer para esta dimensão as coisas sombrias que guardo no meu próprio quartinho na escuridão. Eu sei que sou o tudo e o nada. Sei que sou o cheio e o vazio. Sei que sou a forma e a essência. Eu sei quem eu sou nos mais variados sentidos, mas eu sempre esqueço tudo sobre mim no momento que eu durmo. É estranho viver uma realidade paralela sem ao menos ter o direito de decidir qual deve ser a verdade. Mas, de qualquer forma, as vezes acho que tenho esse poder, quem sabe...

Noctur Spectrus

domingo, 19 de julho de 2015

O andarilho


Espere um pouco, tenho algo pra te dizer antes que você se vá. Não seja arrogante, pare e me escute, um instante, por favor. Eu sei que você carrega mágoas no seu coração e que isso irá te prejudicar no futuro. Eu sei que você passou por muitas coisas difíceis e que não adianta dizer que a vida é assim mesmo. Sua vida é complicada e eu entendo, mas não custa nada ouvir umas palavras a mais.

Você é apenas uma entre milhões de pessoas que passam por problemas difíceis de serem solucionados. Existe um grande número de gente desabrigada por aí. E você? Será mais um andarilho em uma busca inexistente. Sua missão é caminhar e nunca parar. Sua meta é nunca chegar à lugar nenhum, todos nós sabemos que isso fará você se sentir melhor. Mas de vez em quando, descanse. Passe uns dias aqui e acolá, seja um pouco estacionário também.

Um dia todos morrem, você também passará por isso. Não sabemos o que vem depois da morte, nem sequer sabemos se vamos se lembrar de algo aqui vivido. Então a sua chance de vivenciar de fato essa realidade, é fazendo parte dela em todos os sentidos. Eu já o vi sorrir, já o vi dar ótimas gargalhadas. Sei que você é capaz de se lembrar disso, mas e se um dia não for mais? Pense nisso, você pode viver tudo agora e deixar para depois um recomeço triunfante.

Eu só te desejo uma boa jornada! Que você vá e reflita com essas palavras e tente ver que em sua trilha também existem flores e moradia. Um bom andarilho não é aquele que simplesmente passa por vários locais, mas sim, aquele que guarda um pouquinho de cada canto que visita. Seja um verdadeiro andarilho, seja um armazém de coisas boas. Preencha seu coração com os bons sentimentos, eu tenho certeza que um dia eles superarão suas mágoas. Agora... até mais meu caro amigo.

Noctur Spectrus

segunda-feira, 13 de julho de 2015

Por trás daquela janela


É comum ver, desejar, deixar-se inspirar. Um veneno correndo nas veias, uma dádiva, um presente das serpentes do inferno. O poder de determinar e vencer o medo e a solidão. A sadia sensação de tristeza que traz a morte sagrada. O vazio interno que é preenchido pelo vazio universal. O silêncio, sim, nada tão nobre quanto o doce silêncio.

Sentada em um chão meio molhado pela chuva que entrou pela janela. Espionava os galhos com folhas balançarem. Traziam-me lembranças de qualquer momento cismado que tive na vida. Passei por tudo, menos amores. Vivi a escuridão, mas não as cores. Parecia diferente sair de um terrível meio obscuro e viver em um quarto sem móveis, mas no fundo era quase a mesma coisa.

As vezes cantarolava canções de ninar. As vezes chorava enquanto sorria. Deixava as lágrimas descerem por todo meu corpo. As vezes me cortava só pra passar o tempo. As vezes comia os insetos para não passar fome. As vezes uma coisa de cada vez e as vezes todas as coisas ao mesmo tempo. Eu morreria, e daí? Não é esse o rumo natural das coisas? Tudo morre, tudo apodrece, menos nossa alma, ela é imortal. Ela pode viver uma alegria intensamente ou uma tristeza eternamente.

Noctur Spectrus

domingo, 12 de julho de 2015

Erguer


O ódio tomou conta do meu ser, possuiu minha mente e me fez ver, com olhos sangrentos, a idolatria do teu altar. Tu és ira disfarçada de amor. Vejo na penumbra teu ciúme e arrogância. Eu conheço o desprezo e o sofrimento. Eu estou aqui para confirmar a realidade dos meus pesadelos. Por muito tempo você vem se alimentando dos fracos. Você não passa de um grande espírito das trevas usando uma máscara de palhaço.

Todos que caem de joelhos diante de ti acreditam que você irá fazer por eles o que eles acham que não podem fazer. Você sobrevive nas lacunas dos desejos ditos impossíveis. Mas eu sei que você também julga aqueles que não te dão ouvidos. Quem você pensa que é? Você pode ser a coisa mais importante para aqueles que dedicam tempo te adorando, mas para quem não se importa, você não é nada e nunca será nada.

Você não é capaz de atacar diretamente aquele que não acredita em você. É por isso que insiste tanto para que seus escravos façam outros escravos. Você quer dominar o mundo por completo se escondendo por trás de bendições. Mas você não passa de um agregador de maldições. No fundo do meu coração eu tenho guardado as relíquias da verdade. Eu também me lembro da tortura que você tentou me causar. Hoje você é impotente e eu sou maior que você.

Você nunca saberá nada sobre minha origem, nunca mais. Você está muito longe de me alcançar pois você é limitado. Eu não tenho limites, vivo ou morto eu estarei existindo e consciente da minha essência. Um mundo apodrecido em escuridão está sendo infestado por sua ganância. Você briga e mata por uma fruta podre. As pessoas se tornaram um câncer e você é uma das causas. Talvez você se sinta ofendido, não me importa, eu também por toda a minha vida fui ofendido por culpa sua.

Noctur Spectrus

sábado, 11 de julho de 2015

Venha comigo


Por sorte encontrei seu rosto nesta escuridão. Vejo seu olhar sofrido, cansado, sem esperança. Eu queria muito te encontrar, te busquei por anos e anos. Finalmente consegui, é uma pena estar te vendo assim, perdida, confusa... Eu sei que não é fácil depois da morte. A gente acaba acumulando tanta coisa no nosso interior que em algum momento tudo volta para nos assombrar. Mas não tema, agora você tem a mim.

Eu sei que você pode pensar que eu não sou mais real, que eu fiquei na sua vida passada. Agora não é isso que importa, pois de qualquer forma, eu estou aqui. Eu não tenho como te garantir de que não sou apenas mais um demônio tentando te iludir. Não tenho como te provar que não sou uma ilusão da sua mente desgastada. Mas eu te proponho a arriscar seguir os meus passos.

Eu realmente não poderia deixar você aqui sozinha, no frio, na penumbra, sem nenhuma proteção. Qualquer coisa poderia te fazer mal, até você mesma. Por favor, permita-me te ajudar. Eu passei anos te procurando sem parar. Eu nunca esqueci de você. Eu nunca deixei de acreditar que você estaria em algum lugar como este, tentando deixar de existir. Eu não sou a sua melhor memória, sei disso... Mas no momento, eu sou a única que voltou com uma intenção diferente. Não vim te atormentar, vim segurar na sua mão. Quero que sinta meu calor, quero que sinta meu amor.

Olhe para mim, veja os meus olhos. Eu sei que você pode ver a sinceridade e eu sei que você ainda pode acreditar. A esperança é a última coisa que deixa de existir. Se você ainda existe, é porque ela ainda não se perdeu completamente. É muito triste esperar de você qualquer reação e você ficar parada, imóvel. Sei que não posso exigir nada de você. Nunca desistirei, cheguei até aqui e com a sua permissão, quero te salvar deste lugar. Venha comigo, vamos embora, eu soube vim, saberei voltar. Você perdeu tudo, infelizmente. Mas agora pode recomeçar, não tenha medo. Você ainda é uma dama, linda, gentil e meiga. Sei que ninguém quis te dar o valor que deveriam dar, mas eu consigo ver através do seu olhar. Você é uma flor muito bonita por dentro. Eu acredito em você, sempre acreditei.


Sei que não posso contar com seu sorriso neste momento. Sei que é difícil escapar da depressão, mas quero que saiba que a partir de agora, você não está mais sozinha. Durante a vida sofreu, por isso quis morrer. Agora, morta, descobriu que de nada adiantou. Não podemos escapar do nosso carma. Não podemos fugir de nós mesmos. Mas podemos lutar, enfrentar, conviver, sobreviver. Eu pude fazer isso e sei que você também pode. Agora erga-se e vamos seguir juntos. Eu amo você e é por isso que nunca te abandonarei.

Noctur Spectrus

sexta-feira, 10 de julho de 2015

Uma flor de jasmim


Tão suave como aroma de jasmim
Ela tocou... em mim...
Olhou nos meus olhos com amor
Meu coração logo se apaixonou
Sua pele macia ao me acariciar
Me fez intensamente desejar
Seu coração, um furacão
De emoções e emoções
De tanto lar, eu fui estar
Ao seu lado à esperar
Um beijo seu, sentir seu cheiro
Satisfazer o meu desejo
Que seja cor azul do mar
Lindo e profundo, sempre a brilhar
Que seja verde como a grama
Que seja vida e esperança
Que o meu amor seja teu sabor
Que nossa união esteja sempre aqui
Fazendo eu e você sorrir
Ao ver as flores nos campos distantes
De mãos dadas, observando o horizonte

Noctur Spectrus

quinta-feira, 9 de julho de 2015

Eu sobrevivi à guerra


Em meio as trevas, olhei para o além. Descobri nos altos da minha misericórdia, a dor sufocante que perdi na guerra. Um mar de sangue cobria a Terra. Os mortos fediam e os vivos sofriam pelo medo e devastação. Não era uma guerra civil pois ninguém mais era civilizado. Não havia mais esperança de que tudo voltasse ao normal. A ganância e a sede de poder fez com que todos entrassem em um conflito interminável.

Por muito tempo a humanidade acreditou nas antigas profecias apocalípticas e em um único momento no qual deixaram de acreditar, elas se tornaram realidade. Os humanos enterraram sua própria vida numa cova profunda. Eu observava e apesar de tudo, não estava surpreso com aquilo. Muitos cavavam o chão tentando se esconder. Muitos perfuravam a própria pele, cortavam os pulsos, se jogavam de edifícios altos. Tentavam se suicidar, mas sempre eram frustrados, nunca conseguiam morrer.


A morte por muito tempo tivera sido o que todos evitavam. Naqueles momentos obscuros e terríveis, a morte passou a ser a passagem mais desejada. Todos queriam deixar de existir para não sofrer pelos seus erros. Eu não me importava, eu achava o máximo. Eu sabia que não haveria mais salvação para mim nem para mais ninguém ali. Eu poderia assassinar quantas pessoas eu quisesse e o diabo não olharia para mim. Nunca seria um recruta das invenções infernais.

Eu podia ser o que quiser. Quanto mais eu alimentasse meu ódio e minha fúria, mais poder eu teria. A Terra estava desamparada e eu poderia ser o novo rei. Em um dado momento, os anjos caídos abandonariam a Terra e buscariam outro refúgio. Eu queria muito poder voar para o horizonte, mas minha alma estava presa naquele solo infértil. Era uma tarde cinzenta, a brasa das fogueiras queimava os meus pés. Voltamos aos antigos costumes... as metrópoles foram todas destruídas. Uma nova raça seria criada para substituir a raça pecadora.


A Terra seria reconstruída para que deixasse de ser aquele inferno. Queriam transformá-la em um paraíso. O digno da luz que falhara outrora tivesse vindo encarnado para alimentar o amor, um dia gostaria de sentar no trono e citar ordens quaisquer conforme sua vontade. Ele seria acompanhado de vinte e quatro anciões fervorosos, loucos para mostrar o que são capazes. E eu estaria ali, esperando cada um deles. O rebelde humilde sem nenhuma chance de superação, o dolorido corpo esfaqueado pelas mãos de um espírito enfurecido.

Estaria eu ali, sem temer. Se superei toda a desgraça sorrindo e sem desejar a morte o tempo todo, eu que sempre a respeitei... Por que iria abaixar a cabeça para senhores de outras dimensões? Eu não me importaria, não havia nada que tivessem inventado nem aqui nem nos céus que fosse capaz de me causar medo. Não temia nem o bem nem o mal. Não se importava com tortura ou mutilação. Minha vida depressiva, no fim das contas, me tornou a pessoa mais preparada do mundo.


Eles iriam ter que se esforçar para me destruir na mesma medida que me esforcei para sobreviver. Deixaram o corpo errado sobreviver durante a dança cósmica da destruição. Agora, entre anjos e demônios, eu poderia olhar para qualquer direção com determinação. Eu sabia, sim eu sabia, que aqueles portadores de cajados que se diziam benditos e portadores do amor e da paz, não eram diferentes de mim. Eles tinham desejos obscuros e destrutivos, mas diferente de mim, escondiam por trás de suas auras. Mas eu vejo o mal, eu sou o mal, eu vejo o bem, eu sou o bem. Eu sou um ser ousado que sobreviveu a ira divina, agora... enfrentem-me!

Noctur Spectrus

terça-feira, 7 de julho de 2015

Seja insano


Você já pode investir em um novo paradigma surreal. Você pode novamente ser feliz escondendo a tristeza no cobertor da solidão. Você tem alguns frutos estranhos na mão, coma um deles, arrisque-se. A vida é feita de riscos, só assim você pode seguir em frente. Quem não arrisca não alcança. Você não precisa de algo mais concreto para viver sua estabilidade mental. Seja insano!

Seja controverso, enigmático ou favorável. Dependa do sujeito da frase que seu coração se ligou. Não deixe as artérias estourarem antes do sangue carregar sua esperança por todo seu corpo. Não se afogue em mágoas desconhecidas pelo tempo. Você é mais doce do que o amargo sabor de uma flor hidratada. Mastigue uma... seja insano!

Seja insano na alma e deixe palavras quaisquer serem libertadas pelos seus dedos. Escreva um poema e pregue em uma árvore. Deixe a natureza ler sua loucura. Confesse um dilema insensato, seja sincero e que se dane o que vão pensar. Ninguém é válido, uma multidão vazia não tem o peso de um corpo cheio de energia. Deixe as mutilações de lado, deixe de ser mastigado pelo sofrimento profundo. Anime-se, pelo menos no seu último dia de vida, seja insano!

Noctur Spectrus

segunda-feira, 6 de julho de 2015

Eu precisava que ele morresse


Olhei para ele e consegui ver através de sua carne. Um coração enfraquecido que bombeava um sangue preto e impuro. Seus olhos não tinham luz mas me encaravam firmemente, como se eu fosse uma presa. Ele estava furioso e desejava minha morte. Eu sabia que nada o convenceria de que eu estava certo e ele errado. Era um pouco tarde para salvar um corpo apodrecido.

Ele era uma alma mergulhada nas trevas. Estava no mais profundo sono, quando acordasse, já estaria morto e já teria matado centenas de pessoas. Não era mais um ser humano, era uma besta feroz que precisava mostrar sua ira. Eu estava ali, diante dele sem conseguir respirar direito. Não poderia encarar aquilo como um combate mortal. Eu sabia que ele não tinha culpa. Se eu o fosse impedir, teria que tirar sua vida. Mas não tinha outra forma.

Se eu o deixasse vivo, permitiria que o demônio tomasse conta da cidade. A desgraça seria muito maior... Com certeza eu não moveria um dedo para salvar aquelas pessoas hipócritas. Mas ao lembrar das crianças, parecia que eu via dezenas delas me implorando por ajuda. Minha mente tinha pouco tempo para raciocinar. Decidir optar pela ação mais dramática em meio a um retorno compulsivo. Engatilhei a arma e atirei. Um tiro na cabeça e o cérebro se destruiu. Estava morto, caído no chão. O sangue preto e diabólico escorria pelo chão, o odor inexplicável me deixava sem noção. Era o fim... simplesmente, o fim...

Noctur Spectrus