segunda-feira, 31 de agosto de 2015

Coexistência


Não importa o tamanho da angústia. Não importa a dor e o sofrimento. Tudo vai passar e tudo irá ser curado. A morte trará a salvação e tudo será lindo e perfeito como no primeiro dia de luz. O renascimento trará novas oportunidades, a vida se fará bela novamente. O ciclo recomeçará... Virão novas condutas, novos dilemas, novas fases... Virão novos amores e novos desamores...

Mas é natural haver tristeza novamente. É natural que a libertação precise ser renovada, e a morte trará isso mais uma vez. Poderia ser assim infinitamente, até que um dia a alma se cansasse dessa cadeia de causas. Poderiam não haver consequências tão graves, mas isso implicaria em uma série de fatores difíceis. Não há tréguas nem medições. Não há parâmetros nem restrições. Tudo funciona do jeito que deve funcionar, mas sempre havendo espaço para defeitos coexistirem com qualidades.

Noctur Spectrus

domingo, 30 de agosto de 2015

Não somos artificiais


Não estamos diante do fim, senhores. É inacreditável olhar para pessoas tão bem arrumadas e perceber tamanha ignorância. Vocês são uns tolos, acham que sabem de tudo, mas estão presos no passado. Não é a nova geração que é mais coerente, são vocês que se deixaram levar pelo conservadorismo. Continuam conservando conceitos e dogmas que se tornaram inúteis.

Não vamos destruir nosso lar, aliás, todos nós somos insignificantes. Vocês gastam muito tempo tentando parecer superiores, mas não há diferença alguma. Nem eu nem vocês temos a verdade, a sabedoria perfeita. Vocês vivem dizendo que precisamos agir, mas as ações que vocês sugerem são de seu caráter e não do meu. Eu não sou obrigado a seguir a ética de ninguém pois a ética, é cada um que faz com os seus pensamentos

Não há medidas exatas na intuição, não há razão capaz de determinar toda a matemática cósmica. Quando morrerem, serão apenas ossos de um corpo em decomposição. A estrutura física, óssea, ficará suja e esquecida. Não há nada demais nisso, é algo natural, mas vocês abominam. Não consigo ver inteligência em homens que não reconhecem os ciclos naturais. Não consigo acreditar na teoria de homens que acham que tudo o que existe é artificial.

Noctur Spectrus

quinta-feira, 27 de agosto de 2015

Preenchimento


Enraizado no medo e na angústia, talvez até um pouco abalado pela falta de água. Com sede e vazio nos pensamentos, vagava em direção à lua, sem saber quando e como chegar. Era guiado pela luz, sem se importar com os obstáculos, coitado. Não tinha mais uma família para lhe apoiar, não tinha mais um abraço para lhe confortar.

Sua caminhada era uma meditação, uma respiração controlada. Sua cabeça doía e os braços tremiam de frio. Sentia vontade de chorar, mas não queria se deixar levar... Era jovem demais para o sofrimento que lhe atingira. Sempre, com os olhos fixados no espelho, dizia em voz baixa: "Aqueles que sofrem, o fazem por merecimento."

Mas agora ele sofria e não se achava merecedor de tanto. Talvez tivera sido enganado pelos dogmas sociais. Talvez acreditou logicamente em algo que não tinha lógica. Não sabia mais o que era verdade e o que era ele. Não tinha mais noção, juízo, estava sozinho, destemido.

Noctur Spectrus

quarta-feira, 26 de agosto de 2015

O ser na solidão


Sozinho eu vou mais longe, não importa o que digam. Estão todos cegos, se importando com coisas inúteis. E todos dependem de um sorriso falso para seguir em frente, mas eu não. No mais sincero voto de injustiça eu ergo minha cabeça. Eu não preciso das amarras sociais que estiveram me segurando por tanto tempo. Não se trata somente de liberdade, mas consciência individual.

A independência é paciente, imperadora do inconsciente. Quando eu fecho os meus olhos e me entrego aos pensamentos, percebo o quanto fui ignorante. A maior ilusão de todas é achar que a vida é um conjunto de inúmeros seres conectados. Eu estou aqui em outro plano tentando entender minha própria solidão consagrada. Que apoio eu terei? Nem mesmo minha razão está de acordo com meus pensamentos neste momento, mas eu não devo esquecer que ela só é importante enquanto eu estiver acordado.

Nos desvios assíncronos da alma, na segurança da penumbra, eu ando nas sombras. Eu vejo a luz, mas não me misturo, pois um espírito negativo não precisa da humilhação. Eu ando descalço por aí imaginando um mundo melhor e depois destruindo ele aos poucos, como o mais poderoso dos demônios faria... Quem quer saber? Até eu mesmo perco a lucidez de vez em quando... Dentro do abismo tudo é inexistente e descomplicado. E nada importará fora da mais destemida realidade. Não há como negar, ilusão e realidade vivem no mesmo lugar, no mesmo espaço, compartilhando o mesmo funcionamento.


O indivíduo é o ser que almeja a glória, mas sem perceber, a oferece para outro ser que não tem individualidade. Sem salvação, ele se perde pelos nomes impuros que desatam os nós da correnteza da vingança. O egoísmo é uma arma bélica de fácil manipulação. Em massa, muitos se perdem tentando se encontrar, quando na verdade, não precisavam de nada. No chão, homens e mulheres rastejam em busca de um pão sagrado que nunca cairá da mão do profeta. E apesar de tudo, poderei andar sozinho. Por que não? Não há consciência interna ou externa capaz de controlar meu domínio. Lá eu vejo reflexos espontâneos que precisam ser ajustados rapidamente para me dar conformidade. Eu tenho um lar, mas não tenho uma casa... É assim que o mundo desaba.

Noctur Spectrus

segunda-feira, 24 de agosto de 2015

O ego incompreensível


Imprescindível entender a questão profunda do meu ser. Tantas vidas, tantas mortes e nenhum tempo para relembrar. Tantos votos, tantas súplicas e nenhuma esperança para repor. De que cor é o sangue da Terra? Qual a água mais pura do oceano? Quem é o mais digno de conhecer o verdadeiro céu? Por muitos anos a humanidade vem acreditando em coisas que nunca se concretizam, e eu aqui, aturdido, cansado, mas com sede filosófica pelo contestamento, continuo expondo as minhas dúvidas para o além.

Em meio a fulgores desconhecidos encontrei uma chama sem combustível. Com passos medonhos e comprimidos cheguei perto até sentir seu calor. Nenhuma forma, nenhum sentimento, nenhum pensamento, nenhum nada... Apenas o completo direito de saber dignamente que a validade do caos é inesperada. Uma figura negra pode se esconder na luz se por alguma falha a luz vier a piscar. Os olhos não enxergam tudo, mas as vezes o que há de escondido passa a ser visível por alguns instantes na nossa visão periférica.

Em meados de tantos séculos houveram rumores os mais diversos. Mas em todos eles sempre houveram expectativas boas e ruins coexistindo. Lágrimas descem todas as noites de virada do ano, ao passo que promessas sobem para as nuvens. As realizações sempre tendem a adiar sua chegada e diminuir a fé dos que dela esperam o sentido de suas vidas. Não... não há suspiro que salve a má concentração negativa no ego.

Noctur Spectrus

quarta-feira, 19 de agosto de 2015

A cidade de Rafael


Todos iam perder suas casas e ir embora. A cidade estava defasada, desanimada, era um declínio imortal que pairava por ali. Tudo bagunçado, as ruas destruídas e ninguém mais se importava com liderança. Nem sequer havia um prefeito ou um capitão que fosse. Apesar de tudo, a terra era fértil e produtiva, a questão é que ninguém sabia produzir.

As pessoas eram preguiçosas, teimosas e conformadas com seu próprio lixo. Haviam cerca de 150 pessoas ali, mas nem as crianças eram mais tão animadas. Os parques e as praças quase não existiam. Em todos os cantos ouviam-se as pessoas resmungando, mas nunca modificando. Todos queriam algo diferente mas ninguém lutava por isso. E muitos tentavam sair, mas não tinham para onde ir.

A cidade era esquecida, abandonada. Por muito tempo foi assim, até que a economia parou, o dinheiro deixou de funcionar e as pessoas voltaram a fazer trocas. O plantio era a única solução, mas não estava mais funcionando. Sem falar que a população masculina cresceu tanto que haviam 20 homens para cada mulher, e por conta disso haviam disputas. O índice de adultério era alto e a miséria fez com que muitos tomassem atitudes desrespeitosas e agressivas.


Por muito pouco as pessoas se destroem. Elas formam dentro de si conceitos concretos de ética e moral, mas esses conceitos de nada valem quando a situação fica altamente crítica. Foi isso que ocorreu com aquela pequena população. Todos esqueceram o amor e o carinho. Todos deixaram de lado seus bons costumes quando perceberam que passariam fome caso ajudassem ao próximo. Todos tinham medo de dar ao vizinho o que necessitavam para sobreviver. Não demorou muito até que uns começassem a roubar os outros. Muitas confusões ocorreram e a cada dia que se passava, as soluções e as reflexões iam sendo deixadas para trás.

Aquela cidade deixou de ser uma cidade. As mulheres foram estupradas até a morte porque os homens, extremamente machistas, fizeram questão de assediá-las até esse ponto. Terríveis criaturas dominadas pelo pecado e pela sede sexual. Depois mataram uns aos outros culpando-se individualmente por problemas que todos eles construíram em conjunto. Meio século depois, a cidade foi encontrada às ruínas por pesquisadores. Moradores mortos nas calçadas ou dentro de casa. Alguns enterrados no fundo da cidade e outros ainda, cobertos por palhas de bananeira.

As conclusões foram diversas e não entraram em consenso. Mas todos, no fundo, sabiam que ali houve um colapso social. Um grupo de pessoas, esquecidos pelo mundo e sem a presença de qualquer líder, automaticamente destruíram uns aos outros. Não são todos que vivem sozinhos sem um guia, por mais que este guia seja outra pessoa. Para não depender deste guia, é preciso ter autoconhecimento e autoliderança, e ninguém ali tinha desenvolvido isso. Todos eram ignorantes, mas não porque deviam e sim porque não buscavam o conhecimento. E assim, por falta de comunhão social, aquela cidade deixou de existir.

Noctur Spectrus

segunda-feira, 17 de agosto de 2015

Traição


É difícil ser traído, passado para trás. É horrível a sensação gélida do abandono, bem como saber que todos ao seu redor fingem ser pessoas que não são somente para te enganar. É natural sentir raiva, ódio. O rancor e a mágoa ficarão por um longo tempo atormentando sua mente durante o sono. E você não vai querer contar pra ninguém com medo de zombarem de você. Logo vem aquele sentimento horrível de humilhação e desamparo. Por que as pessoas são assim? Por que elas querem ser assim?

Egoístas, interesseiras, mesquinhas. Só pensam em si próprias, não dão espaço para a compaixão. A sociedade atual é um conjunto de indivíduos antissociais. Todos andam próximos mas em conjunto não formam um grupo. Só se unem em benefício próprio. É muito raro encontrar pessoas que realmente se importam com o bem comum entre todos. É muito difícil achar alguém que deseje do fundo do coração que todos sejam felizes na mesma medida.

Como confiar nas pessoas se elas são emocionalmente frágeis? Como acreditar nas pessoas se elas são tão mentirosas? E por que deixar de confiar e deixar de acreditar é considerado por muitos uma falha ou um equívoco? Por que ser uma pessoa fechada é ruim? Todos querem confiança, mas nem todos merecem isso. Todos querem flores enquanto muitos merecem espinhos. Mas mesmo assim, as pessoas, orgulhosas de si mesmas, preferem negar seus defeitos e exaltar suas qualidades.

Noctur Spectrus

sábado, 15 de agosto de 2015

História de um ser maligno


Eu seguia os passos dela pela cidade. Observava seus caminhos, suas condutas, seu histórico social. Eu não conseguia entender por que ela me atraía tanto. Eu simplesmente não conseguia me livrar desse pesadelo. Ela se torturava por coisas muito infantis. Mas eu não conseguia simplesmente ir embora e deixá-la para trás. Sempre que tentava, o destino nos unia novamente.

Comecei a me sentir responsável pelos seus atos. Comecei a tentar influenciá-la de alguma forma a fazer as coisas certas. Tentei ajudar como eu podia. Me apaixonei por ela de alguma forma. Ela não me via, era como se eu fosse transparente no seu mundo. Eu falava no ouvido dela: "faça isso", "faça aquilo". No início ela não me atendia e sempre se dava mal. Mas depois... quando estava no fundo do poço, algo nos conectou naturalmente e ela pôde me ouvir.


Ela tinha pais difíceis de lidar, uma batalha incessante na faculdade. Quando começou a me ouvir, se tornou mais eficaz. Aos poucos ela estava se dando melhor na vida. Percebi que a vida não era o que todos diziam, que a vida não é só questão de ética. Logo transmiti isso para ela também, que apesar de não me ver, me entendia muito bem. Ela se tornou mais egoísta, confesso, mas cresceu.

Muitos invejosos surgiram em sua vida para irritá-la, tentar derrubá-la. Isso fez com que crescesse um ódio terrível nela. Esse ódio me fortaleceu quando eu também fui capaz de senti-lo. Pela primeira vez, eu consegui me desconectar dela, mas apenas para me vingar de pessoas que tentavam atrapalhar. À essa altura eu nem sabia mais quem eu era, de onde eu vim, o que sou... Eu só queria saber de ajudar ela. E eu usava aquele ódio todo para consumir seus inimigos.

Desestabilizava suas emoções, era muito maldoso com os que a atacavam durante o dia a dia. Então percebi que existia algo que poderia me dar mais força. Descobri ao visitar lugares tenebrosos, a existência da magia negra. Logo fiz uso de minha influência para que ela conhecesse isso. Em menos de uma semana ela já estava pondo em prática. Ela era a mediante e eu o executor. Não demorou muito até nos conhecermos finalmente.


Minha aparência era diabólica e não mais humana como eu pensava que era. Ela conversou comigo tranquilamente e eu a mostrei tudo o que fiz por ela durante todo o tempo. Ela ficou muito grata e passamos a trabalhar juntos. A partir desse momento se tornamos altamente destrutivos. Ela conseguiu o emprego que sempre quis, conquistou o dinheiro que sempre desejou. E eu me alimentava do ódio que ela sentia. Era uma troca de favores.

Por muito tempo foi assim até eu conseguir influenciar com mais forças em suas decisões. Eu já não conseguia somente sugerir ações, como ordenar também. Eu podia usar isso para satisfazer os meus desejos, mas preferi utilizar para ajudá-la ainda mais. Eu a amava, não podia permitir que ela namorasse ou se casasse com ninguém. Então não deixava ela abrir brechas para relacionamentos.

E dessa forma passei a proibi-la de diversas coisas e de diversas formas. Eu a impedia de realizar algumas coisas que desejava para fazer as coisas que eu queria que ela fizesse. Logo se tornei o dono dela. Se tornamos mais afins, pois ela passou a praticar mais magia negra. Nos acoplamos intensamente pela primeira vez durante um ritual sinistro. Naquele momento nem eu mesmo podia controlar o que estava havendo. Eu percebi que tinha chegado no ápice da nossa relação, eu não somente podia tomar as decisões por ela como também podia agora, fazer as coisas por ela. Sim, eu a possuí e ela teve a sensação de estar mais forte.

Eu conseguia sentir o que ela sentia, ouvir o que ela ouvia, ver o que ela via, saber de tudo que ela sabia. Eu era ela, eu estava nela e aquele corpo agora pertencia a mim. Todo o ódio e toda a fúria que tínhamos construído juntos foi lançada para fora e eu não sabia controlar tudo isso. Comecei a quebrar as coisas e destruir os objetos ali presentes, então saí correndo pela rua sem rumo até chegar numa encruzilhada escura. Começamos a rir juntos e se gabar do nosso poder. Eu socava o chão, arranhava nossos braços e nenhum de nós sentia dor. Eu puxava nossos cabelos até arrancá-los e não doía.

Encontramos um cachorro, o matamos com nossas próprias mãos e tivemos a coragem de beber o seu sangue. Olhávamos para o céu, para a lua e rugíamos como se fôssemos lobos ferozes. Aquele ódio que nos fortaleceu esse tempo todo agora crescia sem parar e ficávamos mais valentes. Estávamos mais unidos do que nunca e prontos para fazer o mal a quem quer que fosse. Eu tinha certeza que não estávamos errados e que haviam muitos como eu na vida de muitas pessoas por aí fazendo a mesma coisa. Todos tinham esses ajudantes malignos que indicavam caminhos o tempo todo. Todos podiam um dia ter o mesmo destino, era só questão de tempo e de sabedoria destes seres malignos.


Enquanto passeávamos eu podia ver muitos dos meus semelhantes fazendo o mesmo processo de indução. Mas os tolos sempre buscavam satisfazer vícios insanos. Eu fui mais esperto, não me apeguei a isso, busquei o ápice. Eu consegui subir a montanha e dominar o tigre. Agora estou aqui com o meu prêmio. O amor acabou, restou somente o prazer. Ela não é mais minha amiga, é minha serva, enquanto viver.

Noctur Spectrus

sexta-feira, 14 de agosto de 2015

Sinos no inferno


Tocaram os sinos do inferno
Foram desenterrados os pesadelos
Ressuscitaram os pobres enfermos
Os colocaram no desespero
Usava véu a prostituta
Queria ser uma santa diabólica
Dançava nua em cima da sepultura
De uma criatura gélida e mórbida
Com olhos fundos e negros
Passeavam os escravos do medo
Desvendando os piores segredos
Dos que começaram sua jornada cedo

Noctur Spectrus

terça-feira, 11 de agosto de 2015

Guerra interna


Um motivo, uma única luz. Um brilho forte numa escuridão irritante. Tudo que necessito é acreditar, ser melhor do que já sou. A única pessoa que posso superar sou eu mesma. Posso riscar no chão um desejo qualquer e prometer que irei cumprir até o final da estação. Meu coração bombeia em intervalos menores toda vez que eu me arrisco contra minha própria palavra. Eu sou a imagem obscura que atormenta meus próprios sonhos.

Não há algemas que possam segurar minhas emoções quando elas se vão. Não há prisões, cadeias, nada! Eu não posso simplesmente forçar meus sentimentos a fazerem o que eu quero, a virem na hora que eu quero. Ouço o som de uma música que toquei na infância. Estou numa guerra, morta, com vontade de ressurgir nas sombras. Eu olho minha face no espelho e tudo o que eu quero é socar no meio dela. Estou numa guerra interna!

Eu quero quebrar as paredes e fugir, quero olhar para a luz e seguir... Mas meus pés molhados escorregam sem querer. Para onde irei? Do que temerei? Um sorriso, um choro, no início e no fim. Eu tenho algo para resolver. Pular de galho em galho não me ajudará! Eu preciso ser mais valente, corajosa e fiel aos meus instintos. Eu estou em graça, mas vivo uma desgraça, frente ao ódio, mas com um pouco de amor.

Noctur Spectrus

domingo, 9 de agosto de 2015

Dependo


As vezes é bom olhar para o mar e pensar em quantas coisas se passaram na minha vida. As vezes eu não me contento somente com o vislumbre da luz nas águas vindo de encontro aos meus olhos. A brisa diante do mar é tão suave e refrescante, que é normal esquecer o passado por alguns instantes. É insuportável perder a inspiração em um momento tão interessante como esse.

Em algumas situações, dentro da minha casa, tenho refletido sobre a exposição dos meus pensamentos. É natural que muitas vezes eu não tenha nada a dizer. Isso nunca me atrapalhou, mas atualmente, eu não sei mais como isso funciona. Parece até que sou um dependente das sombras. Toda vez que olho para as paisagens mais belas, perco meu foco. Eu queria ir até as águas mais profundas e tentar entender o que acontece comigo.

Eu queria buscar um tesouro no fim do oceano, cheio de ideias surreais. Eu quero tantas coisas neste mar imenso, quero tantas águas visitar... Mas me sinto preso no desejo desanimado de sempre voltar para casa. Talvez a solução mais pertinente seria esquecer a mim mesmo, esquecer quem eu sou, para depois de tudo isso, descobrir as respostas novamente. Talvez eu tenha o dever de me redescobrir, me conhecer novamente... Ou talvez, eu só precise compreender um pouco melhor a minha mente.

Noctur Spectrus

sábado, 8 de agosto de 2015

Andarilho na escuridão


Lamentável meu coração, que tantas horas se esforça para agradar meus instintos. Doloroso é o conflito interno que passo todos os dias diante de minha própria imagem no espelho. Triste, mas de cabeça erguida. Eu tenho dentro de mim muita coisa estranha. Eu olho nos meus olhos e sinto o receio em mostrar para o mundo o que penso, o que imagino. "Eu não sou um monstro". Digo isso o tempo todo, chorando, tentando fazer com que eu mesmo acredite nisso.

Eu não quero fazer mal a ninguém, mas eu sei que somente palavras não bastam. Eu me sinto capaz de oferecer algo bom para as pessoas, mas não há tantas delas na minha vida. Eu consigo viver na luz e nas trevas, eu consigo ser bom e ser ruim, mas em qualquer das situações, nunca destruiria ninguém. Eu não sou um demônio, mas eu sei que um dia eu direi que sou. Eu não sou um anjo, mas eu sei que um dia me sentirei assim. Eu ainda vou mudar de ideia várias vezes sobre mim. Eu ando me estudando, mas tem coisas que eu tenho medo de saber.

Eu tenho tantos motivos para desistir... e tantos outros motivos para seguir em frente... Mas a realidade me desanima. Os fatos são traiçoeiros, eu sou vítima do meu próprio destino. Eu queria ir mais além, mas as vezes acho melhor ficar por aqui mesmo. As vezes eu penso que eu não sou um bom livro para se ler. As vezes eu me recuso a confiar nos meus impulsos naturais. Eu tenho muitas coisas para aprender, algumas coisas para ensinar também. Mas talvez, ninguém devesse seguir os meus passos, pois sou um andarilho na escuridão.

Noctur Spectrus

Menina diabólica


Ela era uma criança revoltada contra os próprios pais. Mas não conseguia viver sem eles. Ela buscava renovar seu estoque secreto de cabeças humanas, as quais nunca conseguiu se desapegar. Tinha sete anos, mas já havia matado mais pessoas do que se pode contar com os dedos. Ninguém desconfiava, ninguém sabia, somente ela e o demônio com o qual conversava todas as noites antes de dormir.

Ela tinha medo de Deus e amor pelo diabo. Ela sonhava todas as noites que estava sendo possuída e gostava. Ela queria entregar seu corpo para que os demônios fizessem desgraças por meio dela. Ela era adoradora de Satã mas ninguém imaginava. Ela tentava esconder seus comportamentos grosseiros e seus desejos maléficos na frente dos familiares, mas o tempo todo planejava a morte deles.

Ela queria morrer antes de completar dez anos, planejava várias formas de suicídio. Ela se cortava em várias partes do corpo e dizia para os pais que eram apenas arranhões feitos pelo gato ou feridas ocasionadas por espinhos de plantas no quintal de casa. Ela planejava matar todo mundo antes de ir para o inferno. Ela queria carregar pelo menos a sua própria família e os colegas da escola.


Ela tinha muita vontade de fazer sexo, mesmo sendo uma criança. Ela queria estuprar seus coleguinhas e enfiar uma faca nos seus estômagos. Ela era diabólica, brincava de evocar espíritos as três horas da manhã. Ela enfeitiçava suas bonecas com magia negra. Ela mordia o dedo até sangrar para oferecer aos seres das trevas o sangue em troca de ataques espirituais. Ela condenava e amaldiçoava os vizinhos e desejava que eles morressem. No natal ela blasfemava contra Cristo sem ninguém perceber.

Ela ensinava aos mais próximos que Satã era o governante do mundo. Ela queria que todos o adorassem. Ela queria ter o prazer de beber sangue de pessoas recentemente mortas. Ela queria beber vinho no cemitério e desenterrar cadáveres. Ela queria poder se embriagar como os adultos faziam. Ela queria amarrar fogos de artifícios em cachorros e fazê-los sofrer. Ela queria matar passarinhos para não deixá-los animarem mais ninguém.

Ela forçava o próprio vômito só como passatempo. Ela jogava dados sem parar como se fosse o seu maior vício. Ela implorava para que o mal dominasse o mundo. Ela era, sem dúvida a mais cruel criança. Não demonstrava medo diante de nada, não piscava os olhos quando alguém fingia que iria lhe bater. Não se importava com altura e odiava assistir filmes de terror, não achava graça. Ela queria provocar o terror, tinha orgulho de gente maligna. Ela sempre torcia para os vilões. Ela era... a criança diabólica mais terrível que se pudesse imaginar, mas ninguém chegava nem perto de imaginar o que ela seria capaz de fazer...

Noctur Spectrus

sexta-feira, 7 de agosto de 2015

Voar ou não voar

Não há espaço para o desespero, quando o coração encara o medo
Não há temores escondidos, a infância não foi perdida
E nada haverá de intermediário, entre a cura e a ferida
Nada entre o nada no vazio e no vácuo, os sonhos não se acabaram
Um suspiro é o suficiente para se erguer e seguir em frente
Sempre com consciência, ética e controle da mente


Era meio tarde para estar pensando asneiras sobre o passado. O futuro parecia mais brilhante embora não tão real. Eu estava preso no paradigma imortal da imaginação, podia olhar para as paisagens e ver meu próprio ser se misturando com as árvores. Eu estava um pouco cansado pelo dia terrível, mas também um pouco animado, aprimorado e sensível. Tosco era acreditar que talvez, dali não sairiam tantas coisas novas...

Original, vasculhando o interior dos meus pensamentos, indo ao encontro com meu próprio Eu. Estava eu ali deitado na minha cama observando o teto sem qualquer coisa interessante flutuando na mente. Logo a noite chegaria e traria algo para mim. Um aperto no peito, uma confusão na alma, uma luz branca como um orb, passou diante dos meus olhos. Não me importei, chega de ilusões, eu queria acreditar em algo de verdade.

Não podia esperar de mim mesmo a sorte, pois ela é aleatória. Eu sou dinâmico, flexível, mas não arrisco tudo por uma opção incerta. Na verdade, outras vezes já fiz isso. O arrependimento nunca me foi um problema contínuo. Para um andarilho dos próprios pensamentos, o único arrependimento é a idade e o tempo. Não posso pará-los, retrocedê-los ou controlá-los completamente. Isso não faz de mim um fracasso, mas as vezes me deixa intrigado. É hora de sair, ver o mundo de fora e deixar um pouco de lado o de dentro.

Noctur Spectrus

quarta-feira, 5 de agosto de 2015

Sentido


A vida é um enigma, um desafio, uma dádiva. Qualquer coisa que você aprenda e usufrua é um lucro para sua própria consciência. Você é um ser em expansão, com sentimentos, emoções, razão e intelectualidade. Você é um composto de características marcantes e não marcantes. Você é um indivíduo que vive numa sociedade. Você é influência, você é influenciado. Você respira, você almeja, você sonha, você deseja.

Talvez você ache que não exista nenhum objetivo específico em tudo isso... Por que viver? Por que estudar? Por que construir coisas, projetos, se você não vai viver para sempre? Por que estar vivo e vivenciando experiências se no final, a morte baterá o martelo? É... eu sei, muitas questões assim podem surgir, e é bem provável que não exista resposta para nenhuma delas. Mas o engraçado, é que elas não precisam de uma resposta.


Não existe um sentido fixo para a vida, cada pessoa cria ou adere o seu próprio sentido. Cada indivíduo decide qual a meta que ele quer atingir. E cada indivíduo também é livre para não ter metas, objetivos. Cada ser é um ser, cada alma é uma alma, cada mente, uma mente. O grande problema, é que algumas vezes, deixamo-nos levar por essas questões e nos deprimimos, achamos que não deveríamos estar vivos. Eu já me senti assim... e sei que muitos também já passaram por isso.

A verdade é que você pode construir sua própria verdade. Você não precisa estudar, não precisa construir coisas novas ou projetos. Não precisa fazer amigos, não precisa ter ética, você nem mesmo precisa viver. Mas fazer tudo isso, com certeza é uma opção melhor do que simplesmente desistir de tudo. Uma coisa é certa, se não existe sentido na existência, também não haverá sentido na inexistência. Se você acha que precisa de um sentido para viver, deveria iniciar uma busca no seu próprio interior. Você não pode escapar da morte, mas pode fazer com que daqui até lá você viva momentos realmente gratificantes.

Se divertir é o primeiro passo, pois isso eleva nossa felicidade, uma coisa essencial para um bem estar físico e emocional. Buscar coisas que te agradem e evitar coisas que para você, são uma chatice, é essencial para não levar uma vida monótona e tediosa. O tédio aliás, é um grande problema, ele te trava, te assedia de forma mental e no final ainda te lança no abismo da preguiça e do conformismo. Lembre-se que seu cérebro é como um tipo de máquina fascinante e ele pode realizar uma variedade enorme de tarefas, basta você ter em mente qualquer coisa para fazer.

Noctur Spectrus

segunda-feira, 3 de agosto de 2015

Me leva


Refletia no espelho o senhor das trevas. Olhando fixamente para os seus olhos tentando me perder. Implorando pelo motivo inexplicável do suicídio. Esperava com boas intenções encontrar o inferno. Desejava com todas as forças arrastar os demônios em uma corrente de fogo. Queria ser um caçador, uma presa e um jogador no jogo mais difícil de todos os mundos.

Gritando por atenção, intimidade, mas nunca por desespero. Já se passara anos desde que deixei o medo para trás. Fui atormentado por figuras assombrosas, fui aterrorizado por criaturas das sombras. Hoje nem me importo mais com a presença de nada. Uma flecha que atinge o meu peito de forma furiosa não tem tanto impacto quanto minha própria frieza. Eu tenho um coração de gelo que se recusa a derreter.

Alguns já me perguntaram o que eu achava de mim mesmo... eu nada respondia. Fuga ou resposta, o silêncio nunca me foi um obstáculo. Eu encontrava razões no meio do nada, através do nada e por nada. Eu não torcia minhas roupas molhadas antes de vesti-las. Eu não esperava a chuva passar para caminhar pela terra. Eu simplesmente me molhava, sentia o vento, o frio e a água.

Não tem como medir minha perseverança. Eu perdi a esperança de querer ter esperança. Eu perdi o desejo por coisas boas e ruins, mas também não me apeguei ao vazio. Lobos solitários uivavam para a Lua enquanto eu gritava pedindo para que a misericórdia se afastasse. Eu via as pessoas indo e vindo de um lado para o outro. Cheias de coisas inúteis pra fazer, perdidas no sistema. Quando me viam, me achavam um psicopata ou um doente mental. Evitavam me olhar nos olhos. Acho que pensavam que eu era estranho demais para estar no meio deles. Pobres humanos... se acham os donos do mundo...


Corpos possuídos como marionetes circulando no centro urbano. Orações da boca pra fora. As pessoas pediam perdão antes de cometer os erros. Todos se arrastando, sofrendo e lamentando pelas perdas. Todos chorando escondidos e se perguntando o porquê da vida ser tão difícil. Mas apesar de tanta hipocrisia, eu era o único que merecia ser chamado de amaldiçoado.

Sim, eu olhava e esperava, queria ver se o senhor das trevas me carregaria, afinal... Já estava em dúvida se não era eu mesmo sendo refletido no espelho. Me perguntava se eu tinha me tornado isso. Eu conhecia demais, mas as coisas que eu conhecia estavam em uma realidade paralela, escondida, onde os monstros eram livres e os fantasmas dominavam. Todo mundo tem fantasmas, todo mundo tem medos. Eu vivia num lugar onde eu podia desfrutar de todos eles, ao mesmo tempo. Isso é pior do que qualquer treinamento militar, até mesmo no umbral. Mesmo assim não lembro de sorrisos nem choros.

Noctur Spectrus