domingo, 31 de maio de 2015

Superação


Subindo a torre mais alta, escalando sem medo e sem segurança. Não importa o esforço necessário, não importa a luta, a conquista. O coração decidido, a alma que se empenha, o desejo do espírito, nada me trará a desistência. Eu sou um ser determinado e meu objetivo será alcançado. Um dia chegarei ao topo e olharei para trás para ver meu esforço. Um dia terei sucesso e olharei para o trabalho que eu tive até alcançar o meu nível.

Não sou reconhecido no meio social, nem sequer alcancei a glória da minha sabedoria. Mas eu tenho muito caminho para percorrer, comigo carrego as armas e o alimento que preciso para minha jornada. Eu sou fraco, mas tenho uma grande disposição para adquirir a força. A minha vontade supera tudo que há dentro de mim. Eu sou esforçado, luto pelos meus sonhos, e tenho muitos. Com certeza você não dormiria bem se pensasse metade do que eu penso.


Eu estou dando passos curtos e longos de forma alternada. Eu ouço musica e reforço minhas forças. Sou um agregador de sentimentos e olho para meu futuro sem me esquecer do meu passado. Eu sou um livro cheio de memórias vazias e preenchidas. O dever de minha alta estima é superar o medo e vencer meus desafios. Não há barreiras que eu não possa superar, nunca duvido de minha capacidade.

Nem todos os dias estarei disposto a acreditar de forma positiva. Mas em todos os dias acreditarei em alguma coisa. Minha mente não para, meu coração bate sem parar. Minha alma se chacoalha e espera, ela é nobre. Eu tenho deveres, missões e sei muito bem o que devo fazer para concluir tudo isso. Farei, nada me impedirá e eu retornarei com as mãos vazias e a essência cheia.

Eu não sentirei dor enquanto estiver no meu estado perfeito. Minha compreensão mútua que se expande sem parar... Olho para o céu e vejo meu reflexo. Minha mão consegue alcançar as estrelas e pegar seu brilho. Grande luz concedida como um presente, uma dádiva, uma obrigação e um direito de receber de espírito puro este amor. Que dure para sempre minha vida e minha chama nunca se apague!

Noctur Spectrus

Incêndio


Preso em chamas, a casa pegou fogo e não tinha para onde correr. Não conhecia os caminhos, por um acaso apareci ali através de um portal enigmático que minha mente produziu em um sonho surreal. Não sabia para onde ir, mas tinha que ir, ou seria queimado. O fogo queimava de forma intensa e eu sentia de verdade a pele queimar.

Haviam portas, vários quartos e uma enorme escada que descia uns três andares, passei correndo e saltei de um lado para outro onde havia um enorme buraco. A fumaça me fazia sufocar, mas eu tinha que suportar. Alcancei a escada mas as chamas estavam lá em baixo, o que faria?


Havia uma janela fora do meu alcance que se posicionava do outro lado do fogo, pensei em pular pelo fogo e agarrá-la, seria meu ato mais corajoso. Não tinha muita escolha, tinha que viver aquela emoção antes que ela acabasse. Pulei através do fogo, mas somente uma de minhas mãos segurou na janela. Foi suficiente, porém minha roupa começou a queimar.

Não tinha possibilidades de arrancá-la naquele momento, então com todas as minhas forças, subi. Aquela janela aberta seria a minha chance de sobrevivência. Mas não era tão simples, ela era muito alta. Não pensei duas vezes, me sentei sobre ela e tirei minha camisa, sofri poucas queimaduras, mas meu corpo ardia.

Se eu fosse bom de cálculo diria que eu estava a quinze ou vinte metros do chão, seria tolice pular. Mas o fogo estava vindo. Ou morria de um jeito ou de outro, decidi me jogar. Pulei com todo o gosto o mais longe que eu podia, cairia na grama, mas era muito alto para sair vivo. Que grande tolice! Se não fosse minha consciência, não seria uma história legal. Acordei! Vivenciei o sorriso de saber que ainda tenho bons sonhos. Detesto coisas monótonas, passar por perigos me faz se sentir muito melhor no final. Eu prefiro assim...

Noctur Spectrus

Abra seus olhos


Eu sei, eu passei a vida toda chorando sem demonstrar meu sentimento doloroso. Eu sei que eu não sou a flor mais bonita do jardim, me perdoe. Eu sou a fuga, o temor e o caos. Mas a ira que me reza não amedronta minha crença. Sou destemido na noite e não ouso durante o dia, encarar o sol. Mas também acredito que minha vida está girando em torno de um paradigma.

Eu sou fraco, demasiado torto em linhas como um furacão em tempestade vulcânica. Eu sou uma mistura maluca de eventos naturais que não se encontram, mas estão presentes em um lugar ou em outro. Atire a primeira pedra aquele que entende o que eu falo. Seja direto forasteiro! Não perca seu tempo em comunhão com o que não está são. Você é muito mais que uma lebre perdida no campo de caça.

Eu vou parar, eu juro que vou parar. Não precisa se preocupar, a mortífera cegonha não trará outro ser como eu. É tão simples... basta acreditar e a montanha se moverá. O que há de errado em ter um pouco de fé? Grande sombra, grande terror. Ninguém mais se assusta com o que tem escondido em baixo da cama. A sociedade precisa de novos inimigos. Talvez minha mente tenha os inimigos necessários.


Eu não ouso nem sequer abrir a caixa de Pandora, por que será que eu estou rindo? Um sorriso em meio a uma multidão de gente aterrorizada? O frio delírio da compreensão largada por aí. Por favor, ora por favor, sejamos mais sensatos e honestos. Não tem porque ficar se torturando o tempo todo, não adianta e nós sabemos. Sempre soubemos, mas e daí? É divertido a dor...

Nada é tão simples, nada é tão complicado, é tudo questão de entendimento. Seja tolo ou seja sábio, todos tem uma chance, por que desperdiçar? O tempo é uma questão inata que não se resolve. Você e eu sabemos que existem mais coisas entre o Céu e a Terra do que possamos imaginar. Então sejamos livres e enfrentemos. Não sabemos de nada mas nem de tudo precisamos.

Rasteje, sufoque-se no seu próprio sangue, mas não tenha medo. Nunca tenha medo! Ou melhor, tenha um pouquinho, afinal, o nosso humor necessita. A ideia é uma sugestão pacífica e mental. Seja tolerante consigo mesmo, siga meu exemplo e se perca no caminho vago entre a vida e a morte. Algum dia tudo se acabará mesmo, então por que se preocupar? Seja você, viva a vida!

Noctur Spectrus

sábado, 30 de maio de 2015

Sair do caminho


Olhando a chuva cair, relembrando os passos que a humanidade tomou. Pensamentos preconceituosos, marchas fúnebres para o amor e a solidariedade. Levantaram muitas bandeiras, mas nenhuma delas que representasse tudo e todos. Os homens se humilharam e sempre se humilharão para satisfazer sua ganância. A união excludente não deixa de ser uma hipocrisia, mas ainda assim, é ignorada e nunca criticada.

O passado... que saudade! Olho para trás e vejo coisas que nunca mais verei neste mundo. Olho e vejo o sorriso de pessoas que nunca mais vão sorrir. Veja o rumo que a sociedade tomou... Triste caminho que decidiram seguir. Ninguém sabe onde tudo isso vai parar. As vezes fico sem saber o que dizer sobre tudo isso. Tem muito rancor e muita mágoa guardados nesta terra. Seria bom poder sair daqui. Viver longe da civilização, encarar outros campos, outras gramas.

Noctur Spectrus

sexta-feira, 29 de maio de 2015

Solidão e tristeza


A depressão e a angústia. Tão furiosas estão comigo, eu que sempre respeitei o momento delas... O sufoco, a respiração mal feita, o coração que bate errado. Estou no fundo do poço, no lugar mais frio, onde a alma congela e o tempo passa sem que se perceba. O lugar é distante, meu olhar vai longe, mas minhas expectativas são destruídas sem piedade pela insegurança e o medo.

A fúria dos sentimentos negativos resolveu se libertar da cadeia do inferno. Aqui está ela, fazendo o seu detentor sofrer sem chorar. Tão desgraçadas são as dores que apesar de nenhuma lágrima cair, elas estão ali, em algum lugar. O ego derrotado, acabado e sem esperanças de retorno. Por que? Por que fazem mal a quem faz o bem?

Onde foi se refugiar a lei que governa o universo dos fracos e humildes? Uma criatura que sempre foge nos meus sonhos. A única luz com quem sonha o triste e solitário lobo que uiva para a lua. Na floresta perdi meus enigmas, espero que os corvos os resolvam. A morte é o futuro esperado, mas nem sequer enxuguei meu suor.

O que sempre tive foi a ilusão de pensar que havia um sinal no fim do túnel. A minha realidade é outra. Fui arremessado num calabouço frio e sujo. A pena para crimes que não fiz. Um mundo infernal onde crianças morrem de fome e adolescentes morrem de depressão. Os adultos são apenas corpos sem graça e sem fôlego espiritual.


A droga que agita o sangue e circula a euforia não é capaz de salvar o pobre desanimado que se esconde. Não há vez para as vítimas, os assassinos tomaram o poder. E só de saber que não há ninguém olhando para mim... cuidando de mim... Vou ao encontro solitário com o canto obscuro da minha casa. Uma ordem mal organizada no meu cérebro.

Uma grande vantagem que não existe. Não há dias melhores na vida dos fracassados. Quando olho para baixo, penso em tantas coisas... esqueço o julgamento infiel que lança flechas nas minhas costas. Lembro-me somente dos momentos que eu achei que foram bons na minha vida. E o que fazer quando o maior sonhador do mundo tem todos os seus sonhos destruídos?

Não há interrogações suficientes para descrever a tamanha dúvida da existência. Um pecador pregado na cruz deve pagar pelos seus erros? Por que tanto sofrimento em uma sociedade em que ninguém diz que o outro é perfeito? A perfeição é outro enigma que eu perdi na floresta. Não há flores, não há espinhos. O que existe é uma realidade baseada na sobrevivência dos mais fortes e aptos.


Demorei muito tempo para decidir a minha batalha. Acabei sendo atirado no abismo. O ódio voltava os olhos para mim no momento em que eu mais distribuía amor. Quem me salvará? Não há um herói com disposição suficiente para me estender a mão.

Sinto fome... sinto sede... estou jogado no lixo e hoje a noite, ninguém me recolherá. Existem monstros me perseguindo por dentro, na minha mente. E existem monstros me perseguindo por fora, neste mundo estúpido. De que adianta encarar a tudo e a todos se essa guerra nunca acabará?

É um grande desperdício jogar palavras ao esmo quando elas tem um potencial surreal. A prova do medo é um pesadelo que não tem fim. Subi uma escada que me levava para baixo. Mas nunca desci uma que me levasse para cima. Quando os pensamentos se chocam, surge sempre uma coisa nova. Há sempre algo de errado que me faz delirar pelas emoções mais vagas.

Me recordei por alguns minutos de todos que eu já considerei amigos alguma vez. O que são amigos? Não sei mais dizer, acho que não sou mais alguém digno de ter algum. A mente não suporta tanta coisa ao mesmo tempo, um desastre é tão imprevisível... problemas, sugestões inúteis. Sempre haverá um idiota para torturar sua paz.


Hoje nunca acontecerá. O dia acabou e o que passou ficará. Hoje o poeta não escreverá seu poema para expressar seus bons sentimentos. Ele apenas desabafará seus péssimos presságios. O submundo, a desgraça, o péssimo hábito de acreditar que em tudo há confusões. Está é a covardia esperada do guerreiro que dispõe de angústia.

O fim está próximo... o medo vai se aproximando, as noites vão sendo perdidas. Tem uma ferida que derrama o sangue para dentro. Eu sinto as convulsões do meu íntimo. Eu sou um corpo frágil com uma alma poderosa. O que mais posso pensar de mim? O que mais dirão sobre mim? Quem me trará respostas para questões tão difíceis? Hoje, tudo terá um fim... A última esperança é de que haja um recomeço. Mas em dias difíceis onde a solidão e a tristeza dominam o coração, essa esperança se esconde atrás das árvores.

Noctur Spectrus

A falsa viúva


Não foi uma surpresa inesperada e arrogante. Ela era o desespero da carência, enfraquecida pelo desejo carnal. Uma dama vestida de preto que vivia de luto pela sua própria inocência. Tinha no cabelo uma rosa negra para simbolizar sua dúvida constante sobre a vida.

Havia um turbilhão de sentimentos pulando e circulando em sua mente. Ela era sincera consigo mesma, mas insistia em mentir para os outros. O mundo exterior não existia para ela, fria e calculista, com o veneno impecável da sedução. O mundo interno girava ao seu favor e favorecia seu ego.

A jornada pela mente em busca do pecado. A loucura do medo e a soberba. O tempo todo pensava em destruir aquele cantinho onde sua bondade se refugiava. Ria dos seus próprios pesadelos, dormia indignada. Menosprezava os sentimentos alheios, sugava a alma dos homens. Ela era um vampiro tenebroso.

Mas um dia o seu véu iria cair e seu rosto envelhecer. Ela não era imortal, embora tivesse o espírito jovial. Era apenas mais uma mulher comum que tinha um corpo à oferecer. No fundo, carregava também algumas cicatrizes no seu coração, que doíam na solidão. Ela era pobre de intuição, uma escrava do vício e da ignorância. Cega pelo próprio ego, vagava e não encontrava a paz.

Noctur Spectrus

quinta-feira, 28 de maio de 2015

Insignificância


Noite de lua, estrelas no céu brilhando. Olhar para o alto nos faz perceber o quão grandioso é o universo. Somos seres tão insignificantes, pequenos, minúsculos, fracos. Por que tem tanta gente se achando especial e superior? Por que tem pessoas que se acham os incríveis? Não há nada de incrível aqui, ninguém é mais do que um ser entre bilhões de seres, entre bilhões de espécies, entre bilhões de planetas, constelações, depois galáxias...

A pior ignorância é aquela que deixa o indivíduo cego. É aquela que o faz pensar que tem muito valor, quando na verdade, não tem. Muitos neste mundo se acham mais evoluídos que outros. Alguns até acreditam que depois da morte ocuparão lugar melhor e de destaque, subirão na hierarquia. O ser humano se satisfaz com o poder, por isso se sente bem com crenças desse tipo.

O ser humano é um escravo de si mesmo, ele tende a se iludir com ambientes que o façam se sentir melhor que os outros. Pela própria natureza, o poder dos humanos está ligado a capacidade de julgar e comandar os demais. O ser humano é a espécie da hipocrisia. É o único ser capaz de matar por causa de coisas insignificantes. É o único ser capaz de acreditar que dinheiro e luxo são as coisas mais valiosas da vida.


E num universo tão gigante, onde provavelmente em bilhões de lugares há vida, como podem acreditar que somos especiais? Se são tão espertos e inteligentes, porque zombam quando alguns acreditam que existe vida em outro planeta, talvez inteligente? Para seres realmente sábios, isto não é uma hipótese, é um fato. Onde estamos?

Você já parou pra pensar? Você se acha especial? Você acha que faz parte de uma raça especial? Olhe para o passado, olhe para o presente, olhe para o futuro! Você realmente acha que faz parte de uma raça especial? Responda para si mesmo, você acha que neste mundo, há pessoas tão especiais assim? Qual o nosso peso no universo? Quem somos? Somos quase nada!

Noctur Spectrus

quarta-feira, 27 de maio de 2015

Inspiração


Sopro, vento, vida, o primeiro momento da decadência. A imaginação visualizada no espelho das sombras. Trevas ilustres, os pergaminhos foram perdidos. Palavras sem sentido eram lidas diante dos bobos da corte. Era o julgamento final baseado no tolo, no louco. A última carta que marcava o reencontro com o despertar são.

Um gótico escondido atrás de uma árvore produzia poemas que ninguém tinha o direito de entender. Ele não se importava com o que achariam. O obscuro da alma, o surrealismo da mente, não é pra ser entendido. A compreensão é uma busca nada confiável pela esfera filosófica perdida no cérebro. Uma luz que vaga sem destino e sem origem.


Uma centelha de fogo que desperta o elixir de uma alma. A linha espiritual que ascende pela espinha dorsal. O gótico ouvia música e desenhava palavras com a caneta. Não pensava em muita coisa, mas era rápido, dramático e tempestuoso. Feria sua alma de propósito, cortava a pele e se machucava a fim de ganhar a inspiração para sua escrita.

Havia provado um dia o poder da solidão. A grata saudade do tempo esquecido que a alma não era capaz de recordar. A profunda e incompreensível dádiva que estava guardada no fundo do coração sombrio. A vida se torna bela quando ela se humilha por sua atenção. Um pouco de tinta pode trazer a mais bela força de amor, terror e significados vagos.

Noctur Spectrus

Somos sonhadores


Somos sonhadores, somos lutadores. Almejamos alcançar a graça. Todos os obstáculos venceremos, temos nas mãos a força da persistência. Corremos contra o tempo em busca da vitória, sabemos o que queremos. Agimos com cautela, mas sacrificamos nosso próprio sangue pelos nossos objetivos. Somos guerreiros.

Onde passamos, deixamos rastros de superação. Tudo o que é feito pelo nosso prazer é retribuído. Não somos injustos nem temos temperamento fraco. Somos nossos próprios juízes, julgamos nossos sentimentos. Sabemos lidar com a dor e o sofrimento. Desprezamos a covardia e o vandalismo. Somos a favor da ordem e concórdia. Carregamos no peito as marcas das batalhas.


Cavalgamos nossos pesadelos e dominamos nossas mentes. Vencemos o medo e derrotamos os desejos fúteis. Somos focados, concentrados e vamos até o fim. Não somos escravos da esperança, somos realistas. Medimos nosso alcance e se preciso, encaramos nossas próprias estatísticas e previsões. Estamos prontos para matar, se for necessário. Mas também estamos prontos para morrer.

Nossas roupas tem emblemas simbólicos do trabalho e da conquista. Nossas espadas se erguem para enfrentar os mais terríveis inimigos. Defendemos nossos ideais, atacamos os ideais contrários. Somos unidos, e assim vencemos. Somos fortes, pois a força nos foi concedida por merecimento. Lutamos na vantagem e na desvantagem, a coragem é nosso escudo. Somos os exemplos perfeitos de como devem ser os sonhadores e os lutadores.

Noctur Spectrus

terça-feira, 26 de maio de 2015

Não me traga a vida


Sangrando, doendo, tenha misericórdia de mim senhora. Por favor me dê sua mão, estenda-a para mim. Estou num abismo terrível, preciso da sua ajuda. Vai me deixar chorar eternamente para lamentar o meu fracasso? Por favor, não seja tão cruel, tenha clemência. Eu vivi a vida toda pensando na morte, pensando em ti. Eu sofri a vida toda porque ninguém nunca me compreendeu. Ninguém voltava bons olhos pra mim. Minha alma doía a cada segundo da minha existência.

Eu estava presa por correntes sociais, não tinha amigos, não tinha amores, não tinha nada. Vivia perambulando como uma vagabunda sem rumo. Eu olhava para todos os lados com vergonha de mim mesma. Por favor me ouça, ninguém nunca me ouviu. Me deixariam apodrecer se eu passasse fome. Eu estive num mundo onde a sobrevivência sempre teve um valor muito alto, exigindo muitos sacrifícios. Mas nunca fiz mal a ninguém.


O tempo todo minha mente corria para fugir do desespero, da angústia, da ira, da revolta. Meu ego era uma casa pequena demais para meus pensamentos. Eu tinha dores de cabeça terríveis e ninguém nunca me acudiu. Eu era virgem, teimosa e frágil. Meus olhos sempre tinham olheiras. Eu nunca tive boas noites de sono. Os pesadelos me assombravam, a cama me sacudia para todos os lados, como um colapso nervoso.

Eu decidi não viver, por favor não me faça voltar atrás. Por favor, não me ponha neste mundo novamente, eu não quero passar tudo isso de novo. Eu já cumpri minha pena, sofri, mas não suportei. Hoje eu quero descansar, quero deixar de existir, não existe esperança pra mim, ela se perdeu quando eu ainda era criança.

Não choro de arrependimento, choro de sofrimento. Choro por tudo que passei e por tudo que estou deixando para trás agora. Choro porque nada mais me resta senão minhas próprias lágrimas. Não quero mais motivos pra viver, já é tarde demais agora. Não quero que ninguém chore por mim, nem sequer que se lembrem. Quero sangrar e ver o céu escurecer devagar, aos poucos, até ficar completamente escuro.

Noctur Spectrus

Ciranda

Circulavam dançando três criancinhas, brincando, rodando sem parar até o tempo acabar. Não sorriam, não choravam, não se importavam com o que estavam fazendo. Tinham expressões sérias demais para crianças normais. Cada uma delas carregava um mistério no olhar. Giravam, pulavam e cantavam a canção dos campos obscuros. Evocavam com força o senhor das trevas, com suas próprias bocas...


No círculo da morte vamos todos circular
Vamos ser os seus corpos, os seus corpos vamos ser
No círculo da morte um dia todos vão estar
Vão ser vítimas do tempo e a vida esquecer
Oh! Senhor das Trevas!
Evocamos, evocamos! Venha até nós!
O Senhor das Trevas nos mostrou o seu poder
Ele é o soberano e a morte veio trazer
O Espírito das Trevas vive em nós
Ele está dentro e fora e possui o nosso ser...

Contavam de um até três e repetiam sem parar. No meio do círculo o espírito se fez presente e todos puderam olhar. Continuavam dançando e circulando, gritavam mais alto como forma de pedir mais clareza. O espírito entrou na dança e começou a girar no círculo também. As crianças o olhavam fixamente e gritavam: Poderoso! Supremo!

A energia que veio das trevas fluiu em todas elas e ficaram mais dispostas. Circulavam cada vez mais rápido e voltaram a cantar com mais força. Era o momento sagrado da manifestação do poder. Era a hora perfeita para a sensacional possessão natural.


No círculo da morte vamos todos circular
Vamos ser os seus corpos, os seus corpos vamos ser
No círculo da morte um dia todos vão estar....
Invocamos, invocamos! Possua-nos! Possua-nos!

Um dois três... Um dois três... e um rosto empalideceu. A primeira criança caiu ao chão e a brincadeira terminou. Desmaiada e inconsciente, o espírito se manifestou. Estava lá ele dentro daquele corpo, levantou-se friamente e olhou para suas mãos. Percebeu que tudo dera certo, daria prosseguimento. O ritual das trevas estava feito, a possessão concluída.


Caiu a segunda criança, a energia do espírito a fez ficar girando no chão. Seu corpo se balançava e se chacoalhava, até que finalmente cedeu à possessão. Levantou-se friamente e com o olhar mais tenebroso do que antes. A alma envolta em trevas e na energia do espírito. Mais uma possessão concluída, o ritual funcionara.

Caiu a terceira criança, no chão dizia sem parar: um, dois três... Então gritou e sua alma saiu do corpo. Cedeu espaço também para sua possessão. Se levantou o espírito das trevas naquela terceira criança. Estava tudo pronto, tudo feito. Era hora de prosseguir a dança que não podia parar. Os três espíritos estavam prontos.

Deram as mãos, começaram a girar devagar e de forma sombria. Diziam sem parar: "Ciranda! Ciranda! Vamos todos circular! Vamos dar a volta da morte, a volta da morte vamos dar!". O sabor da vida, o sabor da ferida, o sabor do poder!

Noctur Spectrus

segunda-feira, 25 de maio de 2015

A pena é oferecida


Os antigos escribas que ofereciam seus poemas às esfinges, adocicavam com medo seus versos a fim de parecerem mais suaves. Espíritos intrusos estavam à espreita. A gélida sensação de que nem tudo que era oferecido, era de fato entregue. A humildade dos trabalhadores era uma dádiva do seu povo, assim pensavam... A agonia dos escravos era o sufoco do crescimento da pólis.

Enfurecidos, traziam nas costas sementes para plantar. Esperavam contudo, uma boa colheita, mas a esperança não era companheira fiel daqueles inocentes. A incerteza do tempo traria outro mito para satisfazer suas dúvidas sobre o mundo. Toda a vida é uma mitologia, um conto de fadas insano.


O mais corajoso é aquele que nega sua própria existência diante de uma luz muito maior. É aquele que se joga no abismo para ver o que tem lá. Sem se preocupar com o risco de não voltar. Mais corajoso é aquele que encara seus próprios medos e derrota o dragão que há dentro de si próprio. É aquele que usa a espada do Arcanjo com fúria e determinação.

Em todo simbolismo há uma saída horripilante para a imaginação. O ocre espalhado nos corpos para transmutar a vida. O congelamento da dor, a perdição no ócio e a conjuração dos pecados. A vida moderna com um toque arcaico. Em todos lugares há figuras que expressam a fuga melancólica da mente. A hipnose diabólica das paredes da caverna. As imagens tenebrosas que dançam na sua frente sem você perceber.

Os restos de pele largados no chão, são infortúnios. Almejam demais os gananciosos e se contentam demais os pobres. A revolta é o julgamento conjunto da ira e do caos. A paz emerge da substância que causa a guerra. A noite surge do dia, um paradigma inconstante que reflete a sabedoria. Saudações são gratas, na gratidão, saudado está! Soberanos Reis e Príncipes que calculam os custos de uma nova civilização ordinária. O peso da pena não é suficiente para equilibrar a Terra. A condenação virá sem piedade, os corações irão parar em vão.

Noctur Spectrus

Dogmas cinzentos

O fogo, a inspiração
Temor, explêndido
Dor, insuportável, luxúria
Tenebrosos dogmas
A cor mais suave no terno da morte
Planos inferiores, descida, declínio
O cheiro das flores jogadas nos túmulos
Rosas envelhecidas
Lágrimas, caindo, palidez
Uma angústia, máscara da fraqueza
Uma onda, espectro de luz
Uma fotografia, lembrança, memória, passado!


Tudo se passava muito rápido, a mente não suportava. Dor, sofrimento, solidão, tudo jogado na escuridão. Sobrou muito pouco, a alma carregou os dogmas cinzentos. Os ensinamentos, a supremacia de uns sobre os outros. Pólvora, Tânatos! Era uma em um milhão, aquela marca esquisita que surgia no curto espaço da alma. O sangue era como um impostor no meu novo corpo. Pulsação! Pra onde olhava meu coração?

Quem eram os Deuses? Onde se escondiam? Por que não me viam? Declínio... declínio... estava em direção à Hades. Eu mesmo remava na jornada, queria logo chegar e ver o que estava preparado para mim. Se eu soubesse... teria escrevido um inferno melhor, onde o fogo revigorasse os pensamentos. Maldita dor sofreria por acreditar nas pregações do enxofre. A cruz seria melhor. Elemento simbólico de uma salvação que nunca existiu e nunca existirá!

Noctur Spectrus

sexta-feira, 22 de maio de 2015

Veneno da boca

Flocos de neve caíam e enfeitavam o dia
Pássaros voavam
Cachorros passeavam
Era tão estranho ver tudo aquilo e pensar
Que talvez fosse acabar
As crianças brincando no parque
Os idosos conversando na praça
E a vida se esgotando sem se perceber
No fim do dia um coração iria doer


Sombrios pecados que atormentavam o destino covarde dos fracassados. Desceram mais de mil línguas de fogo apenas para blasfemar contra a justiça dos homens. O alçapão das górgonas estava aberto e um só iria entrar. Sua cabeça seria alvo da mais terrível fantasia. Mulheres e serpentes tudo no mesmo lugar. É seu inconsciente trabalhando novamente.

O maior medo que uma princesa pode ter é o de se casar com o príncipe errado. O reino estaria comprometido e a traição seria uma consequência. Um óbito seria melhor. Muitas pensaram assim e muitos morreram por isso. O veneno da boca é o mais silencioso mortífero. Suave como o vento e sensual como uma dama. O vermelho de amor na boca, torna-se ferozmente o vermelho da morte no túmulo.

Os pesadelos de uma criança são mais humildes do que os sonhos dos escravos desse tempo. Injuriados com tudo e com todos, não sabem viver da melhor maneira e por isso sofrem. São pecadores imundos se passando por santos. Não se pode evoluir se você acha que não tem mais para onde ir. É por isso que os mais espertos nunca estacionam. Eles encontram sempre algum caminho pra continuar sua jornada.

Noctur Spectrus

domingo, 10 de maio de 2015

Corte os pulsos


Pense! Corra! Olhe para a direção oposta e glorifique! Os lutadores da aurora virão dali e comerão os restos dos corpos. Amarre sua vítima na escuridão e saia o mais rápido possível antes que os demônios a devorem. Seja rápido! Seja cauteloso! Hoje a luz se ofusca no horizonte, amanhã ela incendeia a sua alma. Ouça o cheiro, veja o som, cheire a terra. Tudo está pelo avesso, é a sua mente que se embaraçou nos sentidos.

Perca a emoção, você é um andarilho frio que calculou o tempo de sua própria morte. Agora vá e não olhe para trás, uma jornada sem fim está lhe esperando. Não se iluda, você não tem tanto valor, mas mesmo assim os pássaros cantarão pra te alegrar. As flores nascerão para você vê-las. Cate uma e estraçalhe, esse mundo não foi feito pra você. Você é um verme ambulante, que coisa! Ora ora, que tal beber do cálice insano novamente?


A chuva não molha mais o seu corpo, que triste! Dane-se a esperança que você viveu achando que era real. O que você tem agora é apenas uma lâmina para cortar os pulsos e esperar a morte chegar. Seja sincero na morte, deixe sua falsidade estúpida para trás, olhe no espelho e veja sua covardia. Quem você é? Quem você pensa que é? Um, dois, três... Chegou a hora, as trevas o carregará! Cedo ou tarde você se lembrará.

Noctur Spectrus

Cavalgando


Montado no meu cavalo branco, passei pelos campos
Encontrei em meio as flores, uma dama pálida sorridente
Me encantei com sua beleza, logo fui ao seu encontro
Ao vê-la de perto, me surpreendi com seus cabelos reluzentes
Uma vida havia se passado
E eu não havia encontrado alguém tão linda
Meu coração que estava gelado
Se esquentou nas suas carícias
Foi amor a primeira vista, incrivelmente
Tanto meu, como dela
Nos apaixonamos e nos completamos de repente
Seu coração era meu, e o meu, pertencia a ela

Noctur Spectrus

sexta-feira, 8 de maio de 2015

O marinheiro


Uma armadilha incompreensível no meio do nada. Um rapto inusitado no tempo indesejável, aos desejos de um coração solitário. A bela sereia que cantava seus versos atraentes, deixou sua voz de lado ao saber do triste marinheiro. O mar agitado levara sua esposa e o véu do dilúvio deturpara suas esperanças.

Caíram no abismo os piratas que acumulavam impostos dos humildes. Eles afundaram junto com todo ouro coletado injustamente. O marinheiro era um guerreiro, um herói e um guardião. Sem nunca ter ganho uma recompensa sequer, lutara para que o mundo fosse melhor, um pouquinho melhor...

Ele era tão significante que nem sequer se importava em ser reconhecido. Prezava mais o reconhecimento do amor e da paz do que o do seu status. Não se sentia atraído pelos imundos desejos do lado obscuro da alma. Sua língua afiada com palavras de liderança, descarregavam palestras emotivas de superação. Não era só um marinheiro...

E também não era só um marinheiro incrível. Passara a sofrer pela falta daqueles que defendera com as próprias mãos. Com o nobre coração vazio, talvez hoje ele resolvesse se entregar ao canto das sereias. Sabia que estaria perdido e morreria, mas o faria mesmo assim. Mas por sorte, ou por puro merecimento, a sereia que o encantaria não o levaria para o fundo do mar, e sim para a vida, seria sua nova esposa, de verdade e não ilusória.

Noctur Spectrus

quarta-feira, 6 de maio de 2015

Brumas


Lábios tristes que vibravam somente para respostas vagas no vazio da mente obscura. Um tremendo sentimento de dor infestava a ira do ego e transmitia o perdão dos mal hábitos. As palavras eram velozes como tigres e ferozes como leões, feriam a alma e entristeciam o coração. Mas ainda assim eram usadas sem piedade pelos mais arrogantes escrúpulos. A dor da perca que se espalhava por todo o corpo recordava momentos bons ou ruins, de quaisquer estações do ano, vividas com liberdade. Tudo havia acabado num piscar de olhos quando o olhar indecifrável do traidor caiu em lágrimas de arrependimento.

As bestas se escondiam por trás das cortinas e comentavam ironias. O repugnante odor dos perfumes estragados de uma viúva que não se cuidava, propagou-se pelo ar. Tremeram os velhos que viveram a época antecedente que marcava o início de um combate mental. Os homens estavam alienados pelas máquinas, colhiam e plantavam ferro e cobre. As mulheres eram prisioneiras da sociedade e quase não tinham escolha.


Era janeiro, os fogos explodiam no ar alertando um ano novo. Enquanto muitos sorriam e desejavam felicidades, outros desconfiavam de que a maior blasfêmia de todas estava por vir. Como reagiriam? Decidiriam logo após os festejos. Por enquanto o que lhes importava era como acabaria a noite, se bem ou mal.

Alguns fantasmas do passado sobreviveram a grande catástrofe na memória dos amargurados. Eles assombrariam o futuro com visões do passado. Os que temeram foram atacados e os que resistiram, cercados. Onde quer que andassem as brumas das trevas, estavam lá presentes os soterrados e degredados filhos da desunião.

Noctur Spectrus

domingo, 3 de maio de 2015

Fuga melancólica


Arrancaram as asas do destino. Propuseram o descanso do inconsciente no mais nobre leito da morte. A fome e a miséria eram incansáveis obstáculos dos povos. Os espíritos clamavam pela misericórdia. O sol estava exposto por trás das nuvens, como uma bola de gelo flutuante que brilhava de forma cansada. O véu da noiva de ossos foi descoberto e sua face foi exibida. O casamento foi cancelado, sofreram os familiares.

As mais confusas famílias caíram em desespero. Se confundiram com a sombra melancólica das montanhas do oeste. Perderam-se todos e o sol se pôs. Não haviam onde mais encontrar a luz, seus olhos se fecharam, caíram num profundo sono. O silêncio da noite que não se esgota é mais tênue que o da noite que acabará.


Passos firmes eram dados em direção a cachoeira dos ventres negros. Os cabelos ondulados das mulheres dos hostis acentuavam sua tristeza. As fêmeas gazelas dos machos leões arrumavam suas malas. Partiriam antes da chuva da madrugada. Se seriam felizes, não importava, o coração que é livre não precisa de felicidade. Deixariam para trás as mágoas e as desgraças, viveriam para os dias que viessem e não pelos que já foram. Os sentimentos mortos seriam esquecidos, os valentes desejos pregados na cruz. Sacrifícios teriam de ser feitos, mas o resultado recompensaria, pela primeira vez na vida delas, os fins justificariam os meios.

Noctur Spectrus

Luz da vida


As vezes a nossa vida nos dá esperança de algo melhor, não no futuro, mas no agora. A expressão momentânea da luz que invade o corpo e que revigora a alma. O sonho lúcido do prazer emocional e do equilíbrio perfeito. O ser é o acúmulo das experiências que ele vive. Sendo assim, observai portanto, o que te ocorre. Seja sábio e aprenda contigo mesmo, busque o conhecimento dentro do teu interior.

A luz acende nossa alma e faz com que nos sintamos melhor. Ora se ela é tão bela, deve ser valorizada. Graciosos são os seres de luz, que vivem distribuindo a si próprios para seres de pouca consciência. Aliados da evolução, sábios do misticismo, senhores da sabedoria, abençoados sejam!

Noctur Spectrus

sábado, 2 de maio de 2015

Crucifixos


Crucifixos pendurados no pescoço, eles são minha libertação da realidade mundana, e minha prisão no meu ambiente pessoal. Carrego-os por necessidade. Gratidão tenho aos seres humildes que caminham comigo. Gratidão tenho aos senhores da sabedoria que não negam sua luz aos mais pobres. Tristes estamos vivendo aqui, achando que a felicidade é real. Que esmo bom tem o rumo dos insensatos.

Dores, nudez e calamidade são as palavras chave daquele que monta o cavalo de bronze. Erguido nas trevas e amaldiçoado nos extremos subúrbios do inferno de Dante. Temos um amontoado de subplanos que ignoram a sublime elevação do éter. Onde o espírito se renova não há espaço para a passagem dos maus sentimentos. Aquele que cruza o caminho sagrado, onde os sete cantos se encontram, sabe o que há no fim do túnel, no próprio túnel e no seu início. Se o andarilho não sabe por onde anda, acabará falecendo no caminho. É preciso ter bons pés para caminhar com saúde e cautela. E boas mãos para saber pegar aquilo que tem valor e descartar o que não tem.

Protejo-me e protejo meus ideais pois eu sei que no futuro tudo valerá por tudo o que valeu. Atraímos para nós o que nos é afim, nunca o que não é. Somos portanto, polos de atração energética, onde o bem nos é favorável, e o mau nos prejudica.

Noctur Spectrus

A culpa e o vazio


Crescia uma dor insuportável no peito, o sentimento de culpa torturava meu coração. Já estava a dois dias sem dormir, mas ainda me via nessa neblina escura. O piano tocava músicas tristes no fim da Igreja. E eu chorava de cabeça baixa esperando minha punição. Naquele momento, não havia muita coisa importante. Nada era importante, somente eu e minha dor sufocante. Delírios da memória passaram na minha mente e eu não pude suportar, caí ao chão e chorei sem parar.

Naquele momento eu implorei, que o tempo voltasse, que eu pudesse tentar outra vez. Eu implorei, por tudo que é mais sagrado, eu implorei. Mas já era tarde demais, o piano pararia a música e eu estaria acabado no mesmo instante. Minha vida toda estaria condenada. Por que eu merecia viver? Por que justo eu? Não me achava digno de nada, nem mesmo da morte. Eu era um ser entristecido que levava a vida sem sentido. Minha alma nem sequer tinha um destino, eu nem sequer pensava em mais nada, aos poucos minha mente ficava parada.

Tudo estava sendo esquecido, minha família, meus amigos, meus dias, depois a mim mesmo. O que restava agora? O vazio da alma, a ocultação do espírito. A música trazia um ar gélido que resfriava todo o corpo. Nunca teria uma nova chance, nunca o tempo voltaria por mim. Nunca aliás, nada nem ninguém, voltaria por mim. Eu era um andarilho perdido na multidão, invisível e incompreendido.

Noctur Spectrus

Respostas vagas


Estamos aqui de novo, vítimas da existência e escravos da consciência. Nunca sabendo nossa origem, nem nosso destino. Apenas vivendo cegamente na ilusão do nosso ser e de nosso saber. Somos personagens de uma história mal contada. Somos imagens vagas de uma realidade escondida na caverna. As idéias reais ficam atrás de nós exibindo suas sombras modelo. E nós, fracos de sabedoria, acreditamos no que vemos.

Somos sobretudo, uma raça que se desconhece. Um amontoado de almas perdidas no tempo e no espaço. Tudo o que no resta é a dúvida, companheira inseparável dos ousados, e dama rejeitada pelos tolos. Os sábios adquirem mais perguntas do que respostas. E os tolos, mais respostas do que perguntas. Porém neste mundo, quase sempre as respostas estão erradas, então de que adianta achar que sabe, se no fim das contas, não sabe?


Somos ignorantes por natureza, pois não sabemos de nada. Como poderemos buscar a liberdade na nossa terra, se nem sequer a temos na nossa alma? Graciosos são os que reconhecem a si mesmos e sua insignificância. Imundos são aqueles que não se reconhecem e se acham superiores aos outros. Apesar de tamanhas reflexões, tudo provém de mesma origem, pois se é difícil explicar uma origem, imagina explicar diversas para coisas diferentes...Esperemos, nós ignorantes, que a morte nos traga uma resposta, pois talvez seja pra isso que ela leve nossa vida em sacrifício.

Noctur Spectrus

sexta-feira, 1 de maio de 2015

Temores internos


Lavei o rosto com água
Precisava despertar, estava louco
Só podia estar? Ou não?
Por que minha vida se resumia em sofrimento e dor?
Por que tudo era voltado para a solidão?
Tão frio e inseguro era o tempo
De uma hora pra outra mudaria
E eu? Sofreria...
Sempre fora assim desde que todos se foram
Moro sozinho na minha mente
Mas hoje hei de plantar uma nova semente
Para que no futuro eu possa ter a chance
De ter experiências diferentes
De qualquer forma, a vida é assim mesmo
Hoje estamos vazios, amanhã preenchidos
Porém no meu caso
O vazio me preenche.
 

Acordei as três da manhã, meu corpo se balançava como se estivesse tendo uma convulsão. Por que? Não me lembrava do que tinha sonhado, provavelmente um pesadelo. Me controlei e tudo parou, porém eu não estava na minha cama, mas sim, em um lugar muito estranho. Não sabia onde era, será que ainda era um sonho? Ou melhor, um pesadelo? Um pesadelo dentro de um pesadelo?

Havia um pequeno canivete em meu bolso, eu sempre carregava ele como lembrança dos que se foram. Peguei e cortei minha pele no braço. O sangue escorreu e a dor me fez pensar se era real. Maior besteira que eu fiz... Agora graças ao sangue, me via cercado. Várias criaturas estranhas me encarando como se fossem me devorar.

Só podia ser um pesadelo... tais criaturas não existiam para mim. Concentrei-me e tentei me lembrar como viera parar ali. Foi então que me lembrei, havia acordado as três da manhã, mas não havia qualquer relógio ali para me provar isso. O relógio eu tivera visto na cabeceira da minha cama.


Finalmente, despertei, sonho confuso
Lúcido de temores internos
Que triste é meu íntimo vazio, sujo
Cheio de seres subalternos
Escravos da minha má imaginação
Servos irritados com minha indignação
O sofrimento fora eu quem causara por si próprio
Dentro do meu próprio coração.

Todos que sofrem internamente, experimentam tudo o que querem no interior de suas almas. Eu por muito tempo, me liguei aos valores internos da minha solidão, e eles não se importavam tanto comigo. A morte eu almejava todas as noites, mas ela nunca veio. Não tive coragem de forçá-la, por puro respeito, não queria obrigá-la a me levar embora. Hoje eu tive consciência de que não sei quem sou. Hoje a noite trará uma lembrança perdida do universo, choverá e eu me recordarei de todas as lágrimas que derramei. Assim, eu dormirei novamente, e ao acordar viverei intensamente, seja na alegria ou na tristeza.

Noctur Spectrus

A bruxa dos campos


Corria sem parar, não olhava para trás para saber o que à estava perseguindo. Tropeçava mas seguia em frente, não ousaria cair. Ela era a última do seu clã, precisava se manter viva e transmitir a tradição. O que aconteceria se falhasse? Seria mais uma bruxa queimada na Inquisição. O clero esperava ansiosamente a captura da feiticeira mais cobiçada do reino. Seria estuprada antes que chegasse à forca. Não poderia lhe permitir que fosse violada, não ela que durante toda vida se manteve pura e virgem, como a Grande Mãe.

Carregava no rosto, o olhar de uma Deusa, no coração, a humildade de uma camponesa. Ela era bela, os cabelos dourados e ondulados, a pele lisa e o corpo bonito. O que era tudo aquilo? Que época desgraçada estava vivendo? A Sacerdotisa fora capturada, estava à caminho do seu destino cruel, que fora imposto por mãos sujas. Como poderia um Deus de amor obrigar seus fiéis a matarem em seu nome?


O mal estava no coração dos homens... era nisso que pensava o tempo todo. Chegara a hora, cansou de correr, sabia que não iria muito longe. Jogou-se ao chão e começou a chorar, esperava tristemente que tivesse um destino imposto, como o da sua Sacerdotisa. Não ousava ainda assim virar-se para trás. Uma última oração foi proferida de sua boca, pedia misericórdia por tudo o que fizera, por toda vida dedicada que tivera. Pelo visto não adiantaria, apesar de não ver, ouvia os passos firmes e fortes de homens brutos correndo e se aproximando. Pegadas fortes, correria, gritaria, tombos, quedas...

Então tudo parou... tudo de repente se tornou luz, ela viu diante de si, sua própria face como uma outra versão sua, porém divina. Já sabia do que se tratava, morrera... Mas não estava triste pois não sentira dor, nem sequer viu o momento de sua morte. Entretanto a sua versão divina com muito carinho à disse: "Ide e seja a minha representação na Terra!".

Aquele rápido momento retrocedera à real situação. Ao cenário de uma triste bruxa perseguida por homens covardes. No entanto, desta vez ela teve a coragem de se levantar e virar-se para trás. Ao fazer, viu o maior acontecimento da sua vida realizado. Todos os homens caídos ao chão. Se estavam mortos, não sabia, mas no mínimo, estavam inconscientes. Seu rosto encheu-se de lágrimas novamente, sentiu-se emocionada. Fora salva, toda a sua vida acreditou nas coisas corretas, sua tradição seria transmitida, mas algo a fez retornar à cidade.


Boatos correram imediatamente de que uma bruxa poderosa estava indo em direção à comunidade espalhando a morte, o clero fora intimidado, todos temiam. A Sacerdotisa no entanto, não havia sido enforcada ainda. A bela bruxa, conseguiu o direito de libertação dos que restaram de seu clã. Reuniram-se e partiram. Foram em direção a floresta e lá seguiram suas vidas. Na cidade foram lembrados apenas com o Clã do Diabo, porém na natureza e entre os elementais, se tornaram conhecidos como o Clã da Magia Sagrada.

Noctur Spectrus