sábado, 2 de maio de 2015

A culpa e o vazio


Crescia uma dor insuportável no peito, o sentimento de culpa torturava meu coração. Já estava a dois dias sem dormir, mas ainda me via nessa neblina escura. O piano tocava músicas tristes no fim da Igreja. E eu chorava de cabeça baixa esperando minha punição. Naquele momento, não havia muita coisa importante. Nada era importante, somente eu e minha dor sufocante. Delírios da memória passaram na minha mente e eu não pude suportar, caí ao chão e chorei sem parar.

Naquele momento eu implorei, que o tempo voltasse, que eu pudesse tentar outra vez. Eu implorei, por tudo que é mais sagrado, eu implorei. Mas já era tarde demais, o piano pararia a música e eu estaria acabado no mesmo instante. Minha vida toda estaria condenada. Por que eu merecia viver? Por que justo eu? Não me achava digno de nada, nem mesmo da morte. Eu era um ser entristecido que levava a vida sem sentido. Minha alma nem sequer tinha um destino, eu nem sequer pensava em mais nada, aos poucos minha mente ficava parada.

Tudo estava sendo esquecido, minha família, meus amigos, meus dias, depois a mim mesmo. O que restava agora? O vazio da alma, a ocultação do espírito. A música trazia um ar gélido que resfriava todo o corpo. Nunca teria uma nova chance, nunca o tempo voltaria por mim. Nunca aliás, nada nem ninguém, voltaria por mim. Eu era um andarilho perdido na multidão, invisível e incompreendido.

Noctur Spectrus

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