terça-feira, 26 de maio de 2015

Ciranda

Circulavam dançando três criancinhas, brincando, rodando sem parar até o tempo acabar. Não sorriam, não choravam, não se importavam com o que estavam fazendo. Tinham expressões sérias demais para crianças normais. Cada uma delas carregava um mistério no olhar. Giravam, pulavam e cantavam a canção dos campos obscuros. Evocavam com força o senhor das trevas, com suas próprias bocas...


No círculo da morte vamos todos circular
Vamos ser os seus corpos, os seus corpos vamos ser
No círculo da morte um dia todos vão estar
Vão ser vítimas do tempo e a vida esquecer
Oh! Senhor das Trevas!
Evocamos, evocamos! Venha até nós!
O Senhor das Trevas nos mostrou o seu poder
Ele é o soberano e a morte veio trazer
O Espírito das Trevas vive em nós
Ele está dentro e fora e possui o nosso ser...

Contavam de um até três e repetiam sem parar. No meio do círculo o espírito se fez presente e todos puderam olhar. Continuavam dançando e circulando, gritavam mais alto como forma de pedir mais clareza. O espírito entrou na dança e começou a girar no círculo também. As crianças o olhavam fixamente e gritavam: Poderoso! Supremo!

A energia que veio das trevas fluiu em todas elas e ficaram mais dispostas. Circulavam cada vez mais rápido e voltaram a cantar com mais força. Era o momento sagrado da manifestação do poder. Era a hora perfeita para a sensacional possessão natural.


No círculo da morte vamos todos circular
Vamos ser os seus corpos, os seus corpos vamos ser
No círculo da morte um dia todos vão estar....
Invocamos, invocamos! Possua-nos! Possua-nos!

Um dois três... Um dois três... e um rosto empalideceu. A primeira criança caiu ao chão e a brincadeira terminou. Desmaiada e inconsciente, o espírito se manifestou. Estava lá ele dentro daquele corpo, levantou-se friamente e olhou para suas mãos. Percebeu que tudo dera certo, daria prosseguimento. O ritual das trevas estava feito, a possessão concluída.


Caiu a segunda criança, a energia do espírito a fez ficar girando no chão. Seu corpo se balançava e se chacoalhava, até que finalmente cedeu à possessão. Levantou-se friamente e com o olhar mais tenebroso do que antes. A alma envolta em trevas e na energia do espírito. Mais uma possessão concluída, o ritual funcionara.

Caiu a terceira criança, no chão dizia sem parar: um, dois três... Então gritou e sua alma saiu do corpo. Cedeu espaço também para sua possessão. Se levantou o espírito das trevas naquela terceira criança. Estava tudo pronto, tudo feito. Era hora de prosseguir a dança que não podia parar. Os três espíritos estavam prontos.

Deram as mãos, começaram a girar devagar e de forma sombria. Diziam sem parar: "Ciranda! Ciranda! Vamos todos circular! Vamos dar a volta da morte, a volta da morte vamos dar!". O sabor da vida, o sabor da ferida, o sabor do poder!

Noctur Spectrus

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