domingo, 3 de maio de 2015

Fuga melancólica


Arrancaram as asas do destino. Propuseram o descanso do inconsciente no mais nobre leito da morte. A fome e a miséria eram incansáveis obstáculos dos povos. Os espíritos clamavam pela misericórdia. O sol estava exposto por trás das nuvens, como uma bola de gelo flutuante que brilhava de forma cansada. O véu da noiva de ossos foi descoberto e sua face foi exibida. O casamento foi cancelado, sofreram os familiares.

As mais confusas famílias caíram em desespero. Se confundiram com a sombra melancólica das montanhas do oeste. Perderam-se todos e o sol se pôs. Não haviam onde mais encontrar a luz, seus olhos se fecharam, caíram num profundo sono. O silêncio da noite que não se esgota é mais tênue que o da noite que acabará.


Passos firmes eram dados em direção a cachoeira dos ventres negros. Os cabelos ondulados das mulheres dos hostis acentuavam sua tristeza. As fêmeas gazelas dos machos leões arrumavam suas malas. Partiriam antes da chuva da madrugada. Se seriam felizes, não importava, o coração que é livre não precisa de felicidade. Deixariam para trás as mágoas e as desgraças, viveriam para os dias que viessem e não pelos que já foram. Os sentimentos mortos seriam esquecidos, os valentes desejos pregados na cruz. Sacrifícios teriam de ser feitos, mas o resultado recompensaria, pela primeira vez na vida delas, os fins justificariam os meios.

Noctur Spectrus

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