segunda-feira, 6 de julho de 2015

Eu precisava que ele morresse


Olhei para ele e consegui ver através de sua carne. Um coração enfraquecido que bombeava um sangue preto e impuro. Seus olhos não tinham luz mas me encaravam firmemente, como se eu fosse uma presa. Ele estava furioso e desejava minha morte. Eu sabia que nada o convenceria de que eu estava certo e ele errado. Era um pouco tarde para salvar um corpo apodrecido.

Ele era uma alma mergulhada nas trevas. Estava no mais profundo sono, quando acordasse, já estaria morto e já teria matado centenas de pessoas. Não era mais um ser humano, era uma besta feroz que precisava mostrar sua ira. Eu estava ali, diante dele sem conseguir respirar direito. Não poderia encarar aquilo como um combate mortal. Eu sabia que ele não tinha culpa. Se eu o fosse impedir, teria que tirar sua vida. Mas não tinha outra forma.

Se eu o deixasse vivo, permitiria que o demônio tomasse conta da cidade. A desgraça seria muito maior... Com certeza eu não moveria um dedo para salvar aquelas pessoas hipócritas. Mas ao lembrar das crianças, parecia que eu via dezenas delas me implorando por ajuda. Minha mente tinha pouco tempo para raciocinar. Decidir optar pela ação mais dramática em meio a um retorno compulsivo. Engatilhei a arma e atirei. Um tiro na cabeça e o cérebro se destruiu. Estava morto, caído no chão. O sangue preto e diabólico escorria pelo chão, o odor inexplicável me deixava sem noção. Era o fim... simplesmente, o fim...

Noctur Spectrus

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