sexta-feira, 19 de junho de 2015

Preto e branco


Diante da morte, ele escapou do temporal de lâminas. Estava sem entender o porquê das coisas. Um buquê de flores negras jogada no chão, esperando tão somente, a água da chuva carregar suas pétalas. Um choro obscuro em um filme preto e branco. Ele não sabia nada sobe si próprio. Sua memória a chuva carregou.

Estava sozinho e confuso, sua mente não raciocinava à seu favor. Imaginava sem parar qualquer coisa que pudesse ter sido seu passado. Mas não conseguia nada... Era estranho, tão estranho quanto a vida. Ele via-se em um enigma indecifrável. Sua visão paralela que parava no tempo sem nenhum pensamento. Subia nos algures da alma.

Suspiros e mais suspiros, nenhuma resposta. Estava trancafiado no seu próprio coração. O que tinha que fazer? Olhou para o céu cor de cinza e para as paredes dos edifícios. Via por todos os cantos diversas tonalidades escuras e claras. Pessoas sem expressão nos olhares, ausência de crianças, estilos antigos de vestimentas. Sabia nada sobre si, nem nada sobre o mundo que o rodeava.

Noctur Spectrus

domingo, 14 de junho de 2015

Deserto das almas


Esperando o tempo passar para reclamar ao alto minha tragédia. A vida, um sufoco no nada, um suspiro na água, uma dor sem palavras. A intensa viagem nos caminhos da alma. Um caminho trilhado em meio a tantas frases questionáveis. Estou aqui, apenas esperando como sempre estive, uma esperança qualquer que possa surgir no meio deste deserto.

Estou, antes de mais nada, sem emoções e sem desejo. Apenas jogo ao esmo os restos de minha inspiração. As vezes me sinto um arqueiro aqui neste deserto, atirando flechas em qualquer direção para que elas caiam nesta areia quente e torturante. O calor, a respiração ofegante, um prisma na minha mente que divide a luz do sol em milhares.

Eu vejo um oásis, com grama e animais bebendo sua água. Parece um paraíso, se eu já não tivesse lido inúmeras vezes sobre essas miragens. Apesar do ceticismo que acompanha minha razão, nunca me custou nada saber se tudo é simples imaginação. Tudo o que vejo, tudo o que sonho durante as noites mais interessantes indica que a fantasia é mais divertida que a realidade. Tudo parece mais belo, ao mesmo tempo em que tudo pode parecer mais terrível. O bem estar da mente define o bem estar do espírito.

Noctur Spectrus

sexta-feira, 12 de junho de 2015

Passarinhos ao alto


Encantado seguindo o canto dos pássaros. Verídico, supremo, sim... Uma luz desceu e me inspirou a escrever este poema. Eu via, eu compreendia e eu voava como uma ave. Sentimentos elevados que me levavam tão alto. Coração amargurado que experimentava sua salvação. Estava em dia de festas, abraçado com o amor.

Uma doce alma que subiu para ver o céu
De mais perto percebeu o quão era lindo
Aquele lugar tão cheiroso e confortável
Com perfume de rosas e brisa refrescante
A soberba e corrupção na Terra
Não passavam de obstáculos superáveis
O sofrimento, a dor, a angústia, a tristeza
Tudo eram águas passadas
A água, acredito eu, carregou consigo as mágoas
Levou embora as emoções ruins
O céu é um mar, o céu é uma nuvem
O céu é uma imaginação fiel da sua liberdade
Realidade, ilusão ou sonho, não importa
Mais feliz é quem esquece essa dúvida
E aprecia o quanto pode os momentos de felicidade.

Noctur Spectrus

O padrasto assassino


Uma casa abandonada, jogada as traças em uma rua escondida da cidade mais estranha. Ali estavam enterrados no porão corpos de tristes crianças vítimas do padrasto assassino. Uma história triste repleta de ira, rancor, ciúmes e covardia. Uma mulher que um dia achou ter encontrado um novo amor. Mas na verdade, havia apenas trazido um monstro pra dentro do seu lar.

Os ventos frios que circulavam lá dentro eram tão sombrios que davam calafrios constantes em quem entrasse ali. Tudo era tão negro e obscuro ali dentro que até os mais céticos sentiam-se tristes. Em todos os lugares da casa dava para se ouvir gritos da mulher desesperada que não sabia o que fazer para se salvar. Em todos os lugares podia-se ouvir os choros das crianças mortas...


À noite era possível ouvi-las correndo, subindo e descendo as escadas. Algumas vezes até algumas batidas de machado nas paredes. Não havia nada físico ali, somente a tormenta espiritual que gerou um ciclo contínuo de morte e sofrimento. O maldoso padrasto houvera ficado preso no porão sem saber como sair logo após ter matado as crianças.

Tudo tivera ficado emperrado e não havia saídas. Ficou ali e sofreu de fome e tormento. O mal cheiro das crianças mortas o destruía completamente. Vomitava, passava mal sem parar. Ele foi atormentado pelo choro e pelo grito das crianças até a morte. Não conseguia dormir, elas não deixavam.

A casa era um triste local. Ali a história se repetia sem parar. Todos os dias e todas as noites as crianças eram perseguidas pelo padrasto assassino. Todos os dias e todas as noites a mulher era morta e as crianças também. Ele era um perseguidor movido pela loucura. A casa era um ambiente amaldiçoado em uma cidade vazia, abandonada. Muitos gritos tristes eram ouvidos por ali. Outras maldições encarceravam aquele lugar...

Noctur Spectrus

quinta-feira, 11 de junho de 2015

Inegável contestamento

Em consequência do incêndio mental que destruiu meu ego, declaro-me vencido, derrotado. Eu estou agora no mais sujo chão, em sofrimento e em dor. Roubaram minha imaginação, retiraram minha criatividade. Meus braços estão feridos, cortados, derramando sangue. Olho para minhas mãos e tento fazer uma leitura fiel do meu destino inegável.


Não há nem mais linhas vulneráveis que possam me trazer uma mensagem. Eu esqueci no passado armas infalíveis para derrotar meus inimigos. O quanto eu sofro agora é consequência de um erro terrível. Eu sou um enigmático sem noção da própria dívida que criei com meu egoísmo grotesco. Que triste saber que eu traí minha própria confiança.

O inferno supostamente é a linha final da minha penumbra. Agarrei com força meu orgulho e não me permitirei perdê-lo. Nenhum ser imundo vai julgar meus pensamentos e apontar para onde deverei caminhar. Posso estar caído, mas ninguém pisará em cima de mim. Avareza, discórdia, eu sou o tenebroso insano cheio de espinhos. Nenhuma flor há de encostar em mim assim como nenhum animal. Não sou palco de olhares ridículos, não serei artista de uma obra de arte mal feita.

Noctur Spectrus

terça-feira, 9 de junho de 2015

Sou criança


Eu tento todos os dias ser melhor. Eu olho para mim e penso, e sei... Eu vejo, não prospero, mas acredito. Eu tenho algo bom pra mostrar, mas não consigo. Eu tenho um ponto forte, mas ele não luta por mim. Você não vê, você nunca vê. Você enxerga coisas que não existem em mim. Não sei se você sabe, mas você está errado! Eu não sou o monstro que você condena.

Eu não sou o vira lata perdido nas ruas catando restos de comida. Eu não sou a carcaça velha de um tolo infantil. Talvez eu não tenha atitudes tão adultas e mecânicas, porque eu não quero ser um robô social. Mas eu sei pensar e agir de forma matura e intelectual. E você não vê... eu não tenho dinheiro, não tenho muitos bens, porque eu nunca me preocupei em ter, mas sim em ser.


Eu sou, eu não tenho! Meus valores estão alocados na minha mente racional e no meu espírito. Se você não enxerga, é porque você não possui esses valores. Está preso as coisas materiais e elas cegam. Escondem o que realmente importa, são ilusões, tolices. Talvez eu permaneça pobre por um bom tempo, não tenha condições financeiras. Mas no meu interior eu sempre estarei fortificado e rico em sabedoria e bondade.

Ganhar a vida não é conseguir um casamento, filhos, um trabalho e uma poltrona para sentar e esperar a morte. Ganhar a vida é muito mais que isso, é adquirir um motivo para a felicidade e ter objetivos à serem alcançados. Viver é saber sorrir e saber ser criança. Mas esse "ser criança" pra você é a mesma coisa que "ser idiota". Por isso você não vê. Por isso você me julga...

Noctur Spectrus

segunda-feira, 8 de junho de 2015

Amor não correspondido


Uma paixão reprimida. Um amor nunca retribuído, nunca correspondido. Uma dor no peito, a solidão, o afastamento. A sombria voz do fracasso. A timidez que um dia trouxera a perca. E ela se foi... de mãos dadas com outro cavalheiro. Virou as costas sem saber que alguém mais a amava. O véu escondeu seu rosto e o sofredor não teve nem o direito de assistir sua cerimônia.

Sem forças e abatido, precisava partir e tomar outro rumo. O amor o decepcionara, fez ele sentir com todas as forças a rejeição sentimental. O amor é isso, uma doença que causa euforia, mas depois destrói aos poucos o coração. A paixão é uma ilusão, uma técnica de manipulação para os desejos insensatos. Não existem flores nem chocolates. Não existem sorrisos para aquele que não teve de volta o amor concedido.


Em pouco tempo seria esquecido, pois o amor também cega. Sua amada ficaria cega por outros beijos. Aos poucos ele sumiria até mesmo de sua visão periférica. Os dois talvez se encontrariam num futuro distante, mas apenas como amigos, como sempre foram. Nunca seus lábios se tocaram, nunca seus olhares foram trocados profundamente. E todas as chances sumiram.

Olharia para o passado e se arrependeria. Se arrependeria fortemente de tê-la observado, compreendido, ajudado, levantado, mas nunca tentado conquistar o seu coração. Se arrependeria de nunca ter lhe paquerado de verdade. Ficaria louco por nunca ter pedido ela em namoro. Agora, já tarde demais, a única coisa que restava eram as lamentações e o silêncio. Até tudo ser esquecido ou surgir uma nova ilusão, uma nova paixão, um novo sentimento.

Noctur Spectrus

sábado, 6 de junho de 2015

Cander


No selo estava escrito, mas ninguém percebeu. Em uma língua estranha, as palavras de uma invocação suprema. Uma grande abertura misteriosa que ligava uma dimensão à outra. Jasmin, Pandi, Soconi, Andarah! Foram chamados os espíritos elevados. Nenhum ousou tocar a mão na caixinha que brilhava. Todos pensavam e imaginavam. Não sabiam o que fazer. Precisariam de um banho purificador caso ousassem desobedecer.

Um candelabro de cinco velas... Um leão com sete jubas. Um touro com doze chifres. E no céu, mil setecentas e vinte estrelas esperando sua vez. Em glória ou em dias de guerra. Missões, favorecimentos e desejos subalternos. Uma medíocre donzela parada numa esquina movimentada. Um impuro desceria e outro impuro subiria. O temor ofuscante que buscava outrora, o tão desejado doce das fadas.

Noctur Spectrus

Mente chuvosa


Um paraíso oculto se revela no âmbito emocional. Uma saga indecifrável que corre em linha circular no tempo indevido. A emoção guardada no peito que espera o momento certo para sair. Ocorre constantemente uma tempestade, um peso, um caminhar aleatório. A surpresa contínua do rio sem fim que nunca está o tempo todo no mesmo lugar. Angústia... inquietude...

À noite na minha cama não consigo dormir. Minha mente não permite que meu corpo descanse, tudo porque ela precisa gastar seu tempo pensando em coisas fúteis. Um turbilhão de ideias, um algoritmo feroz que faz um loop infinito. Os olhos doem, tento deixá-los abertos. Não dá, gastei muito tempo na tela do computador escrevendo coisas quaisquer.

É o início de um novo dia, é o início de um novo passo, um novo risco. Vou desenhar veemente a estrada nova. Colocarei bom material para que eu possa seguir em frente. Um artista sempre sabe onde colocar o toque do seu íntimo. Ele sabe que o ponto final que expressa nos seus textos não é, na verdade, o final da história. Hoje está chovendo... é belo pensar que quando a chuva passar, terei boas lembranças de sua passagem.

Noctur Spectrus

sexta-feira, 5 de junho de 2015

Eu intruso


Nos cantos jogado. Amortecido no chão molhado e frio. Eles me cercavam e eu olhava sem medo e sem receio. Não tinha forças, estava estragado, enfraquecido. Perdido no espaço errado na hora errada. Fui descoberto em meio à um mundo onde eu sou intruso. Sem opções de fuga, só me restava apanhar até morrer.

Com pedaços de madeira e barras de ferro, me batiam e o sangue escorria. Socavam em todas as partes do meu corpo e eu não conseguia reagir. Estava quase... logo morreria e aquele pesadelo acabaria. Era só esperar até minha vitalidade esgotar. Então retornaria para meu mundo. É certo que sofreria de dores em todas as partes, talvez até ficasse totalmente vulnerável à doenças. Mas não havia mais chances de impedir isso.

Jogavam sal em mim, atiravam pedras e cristais. Estavam de fato determinados a me eliminar, só não sabiam como. Querendo ou não eu sumiria, teria que sumir. Talvez ficasse uma lição para não retornar, mas minha mente ousada me jogaria novamente no mesmo lugar algum dia... Preciso me preparar para as decisões que eu esqueci que tomei. Por bem ou por mal, um dia tudo estará fácil de lidar, ou não...

Noctur Spectrus

Liberdade na escravidão


Ignorado, afastado do tempo. Abusivos eram os olhares que disseminavam a ira. Os vermes circulavam a área de escape. Eu andava pelas ruas e encarava qualquer foco nos meus olhos. Eu andava e despertava a incerteza que gera o preconceito. O que viam em mim eu não sei. Mas sempre que revelavam algo, eu me tornava o inescrupuloso satanista.

Eu era visto durante a madrugada vasculhando o cemitério. Eu era observado enquanto conversava com as almas. O indecifrável necromante. Eu sonhava em poder rasgar a carne, fazer a autópsia do corpo mais misterioso. Queria ver se havia algum ser humano que tivesse uma diferença brusca no interior do seu corpo físico. Sabia que não tinham... então porque se sentiam tão diferentes uns dos outros enquanto vivos? A resposta estava na mente.

A mente é um conjunto de pensamentos perversos. A mente é um pólo destrutivo e um pólo construtivo. A mente é uma bagunça que faz você ter os sonhos mais difíceis de entender. E você é uma vítima constante enquanto também é um sortudo em tê-la. Por muito tempo o ser humano deixou de ser original e racional e passou a ser alienado e manipulável. Talvez você pense que exista um grupo deles responsável por toda essa manipulação. Mas na verdade, não é o que ocorre, necessariamente. Uma ideia, uma sugestão, um pensamento ativo que possa insinuar algo, é capaz de formar uma manipulação agregada.

O ser humano é um animal movido à palavras. Ideias se expressam assim. Uma ideia surgida a séculos atrás pode manipular e enganar os pensamentos de pessoas contemporâneas. Por todos os lados há inscrições, livros, códigos e até mesmo leis que são tidas como bases para a sociedade. Você é obrigado a seguir o que é determinado pelos próprios homens. Sendo assim, acaba à margem destes valores. As vezes, as próprias ideias se escondem por trás de outras e se tornam invisíveis. E você, sem perceber, faz uso delas.


Somos livres? A liberdade com certeza não consiste em ser escravo de um conjunto de leis que nem sempre são cumpridas. A liberdade não está no convívio imposto por outra pessoa, seja ela quem for. Dizem que sem leis, os humanos se destruiriam. Embora mesmo com elas, é o que está ocorrendo... Sabemos que o homem é um assassino natural. A liberdade é algo bom, mas você acha que merecemos? A total liberdade é algo que os humanos nunca deverão ter, pois são imundos demais para isso.

Talvez digam que o que todos precisam é de fé, devoção... Dizem os idiotas, que o ser humano que possui isso não sairia por aí causando atrocidades e danos. Isso está longe de ser verdade. Maioria das pessoas em dezenas de países dizem pertencer a grupos religiosos ou de paz. Mas se houver, por algum instante, a falta de monitoramento policial, elas se destroem ou destroem as coisas. Isso não é uma hipótese. É um fato observado em vários cantos do mundo. Mas os cegos nunca entenderão... quem não vê a hipocrisia, não vê nada em uma sociedade como essa.

Noctur Spectrus

Forca

As energias esgotadas, nem caminhava mais... Estava sendo empurrado pela última força que insinuava uma boa recompensa. Já havia trilhado uma jornada de longo desespero. Mas uma hora eu sei que chegaria até lá. Ela estava balançando me esperando. E eu estava louco para pagar pelo meu erro. Sair dessa vida, conhecer a morte.

Cada passo uma dúvida. Talvez eu devesse desistir. Não! Havia caminhado demais para morrer no meio do caminho. Não gostaria de virar comida de urubus. Meu corpo deveria ficar pendurado em lembrança da dor. Eu gostaria que escrevessem meu nome junto com um texto melancólico para recordar minhas feridas. Mas não havia ninguém para escrever. Eu fui o único autor de minha história. Nunca houve ninguém para entortar uma linha.

No final da história eu alcançaria a forca tão desejada. Não acertei as palavras, não acertei as letras. Eu seria o bonequinho enforcado no final de dezembro. E nenhum cristo me salvaria... Voavam sem parar, pássaros negros. Eu ali tentando entender a impaciência dos demônios. Não me arrastaria para a morte. Com certeza eu estaria vestido com boas roupas e de cabeça erguida. Minha cabeça, aliás, seria o suporte dos meus restos.

Noctur Spectrus

Bestas da escuridão



A vela estava quase se apagando. A única luz que se fazia presente naquele casarão assombrado iria chegar ao fim. Não haveria mais esperança, sem luz não haveria vida. Estávamos todos reunidos sem pensar, sem falar. Sabíamos que morreríamos, o escuro é a porta de entrada para os seres que se escondem da luz. E eles estavam próximos. Estávamos na casa deles.

Pobres de nós que na nossa inocência se perdemos. Entramos num lugar amaldiçoado e acendemos uma vela. Sofreríamos, eles não teriam dó de nós. Éramos jovens curiosos demais diante de um massacre. Nosso sangue seria alimento de terríveis feras. Seus dentes rasgariam nossa carne e destruiriam nossos ossos. A dor não era o pior. A morte não era o pior. O que mais nos condenava era o medo que nos deixava aflitos e loucos.

O relógio no topo da parede batia cruelmente. Estava próximo da meia noite. A vela se apagaria enfim... seria uma coincidência? Talvez houvesse um horário em que as trevas dominassem e estávamos prestes a descobrir. Não faltava quase nada, ninguém ousava se mover. Nossos corações estavam agitados. Não havia saída.

Uma alma presa no espelho se movia pelas paredes em busca do seu destino. Nas escadas, passos melancólicos de vítimas passadas. Dava para sentir presenças malignas por toda a parte. Um grito, passos estendidos em direção à porta. Uma garota correu mas antes que pudesse fugir foi capturada. Sumiu na escuridão. Ela experimentou a tentativa frustrada que à levou para a destruição.


Eu seria o próximo à tentar, mas faria diferente. Peguei a vela e corri em direção à porta. Os seres das trevas não se aproximaram, os outros vieram atrás de mim, os dois últimos foram raptados. Abri a porta, todos saíram, arremessei a vela dentro do casarão. Iniciou-se um incêndio. Corremos, eu estava na frente. As bestas corriam atrás de nós. Eram mais rápidas, mas ágeis, mais velozes.

O casarão pegava fogo enquanto elas saíam e nos perseguiam. De um à um todos íamos sendo capturados por elas e massacrados. Logo descobri que havíamos tomado o caminho errado. Ao final me deparei com um precipício imenso. Uma queda significaria a morte. Na minha frente a lua brilhava fortemente, como uma bola gigante brilhante. Estavam próximos. Pulei... Fui caindo enquanto o vento frio me fazia sentir o vazio inexplicável da emoção. Fechei os olhos e... adormeci antes de chegar ao chão.

Noctur Spectrus

quinta-feira, 4 de junho de 2015

Mar de monstros


A vida é um livro, minha meta é escrever. Eu sou um poeta gótico sem luz. Eu sou uma figura sombria em um espaço dinâmico. Mas eu estou parado, não me movo, não vejo, não quero ver. Eu sou um corvo cego voando durante o dia, perdido na neblina, molhado da chuva. Sou um semblante em meio a milhares de sorrisos tristes.

Atravessar o mundo pra que? Virarei de vez este barco e deixarei as sereias me carregarem. A fantasia é minha melhor amiga neste mar de loucuras e devaneios. Vou brincar um pouco com esta adaga que guardei na cintura. Que tal um corte para o sangue descer e lavar meus pecados? Vamos levar este desejo para o nível da garganta. Um suicídio é uma preocupação desfavorecida. Grande filósofo seria aquele que o encarasse como uma melodia.


Ondas vão e vem e meu coração não se ajeita para sentir seu ritmo. É quase uma dor insuportável olhar para o sol e encarar sua luz, seu fogo. O que tenho aqui comigo é uma esfera tenebrosa e negra. Se ela explodir, o mundo inteiro saberá. Não há um ser sequer no esplendor da glória. Todos os espíritos apontam uma pirâmide ao avesso. Por que? Sério, por que?

O que é um sigma? Jogue um pouco seus pesadelos para trás. O mundo surreal é muito mais completo, mas você não entende. Nem adianta reclamar, nenhum de nós entende o mundo real, por que? Seja louco, seja normal, não existe um grande separador de águas entre dois pólos. O vento sopra em direção a cachoeira esmagadora. Estarei em meio as primeiras enxurradas que descerão. Vagando como um grande aventureiro. Serei só eu junto com minha amortecida consciência. Morte para que um dia acabados estejam os impetuosos.

Noctur Spectrus

Nostalgia


Um arrependimento talvez, uma mágoa sem nome. Não consigo entender o que ocorre. Eu acordei com um temperamento frágil e os olhos cheios de lágrimas. Não consegui avançar passos em direção às brumas. Estive num deserto pacato que me trouxe lembranças muito intensas. Folhas secas estão caindo neste outono. Todas as vezes que algo morto se deita, algo vivo se desperta.

Não tem um ser rastejante. Não tem uma criatura gélida. A doce tristeza do ímpeto vazio. No vaso de rosas expande-se a nostalgia. O aroma sem gosto e sem cor de uma moça delinquente. Sabem todos que nem sempre há um conforto no fundo das sombras. Estamos afugentados e presos, mas em nossas mentes encontramos a liberdade. A pureza do cotidiano é uma prece rogada para o coração mundano.

Vigentes, temos ingredientes difíceis de serem preparados. A alma prospera no infortúnio do ser. Um grande amargurado de pessoas que andam em multidão à espera de um milagre. Não existe nada que possa salvá-las. Não existe um caminho que possa guiá-las. Não existe um pastor que as leve para a mata. Não existem milagres, a vida é cheia de precipícios... ou você cai, ou espera o próximo.

Noctur Spectrus

quarta-feira, 3 de junho de 2015

Intolerância


Você se acha o detentor da verdade. Você acredita que aquilo que satisfaz suas dúvidas é capaz de satisfazer a de todos. Você acha que deve julgar o comportamento dos outros e determinar o que é certo e errado. Você quer dizer para todos qual deus seguir e em qual profeta acreditar. Você acha que tudo o que é verdade pra você, é também a verdade universal.

Quem é você? Quem você acha que é? Vive o tempo todo falando de igualdade mas quando o assunto é religião, você quer ser o superior. Você é só mais um hipócrita cego que vive nessa sociedade achando que sua verdade reina. Você nada mais é do que um corpo mortal com uma mente estúpida e fechada. Você é aquela pessoa que segue o falso acreditando ser o verdadeiro, e se ilude.

Não há nada de glorioso e magnífico em ser convertido. Isso não fará de você melhor. Não fará ter conhecimentos que os outros não tem. Um ser convertido é um ser que saiu de uma prisão e passou para outra. É um tolo que se alista num exército sem lógica. Neste mundo existem mais perguntas sem respostas do que você pode imaginar, e ainda assim, você acha que possui a palavra da verdade?

Você se recusa a dar ouvidos para outras formas de pensamento. Você não abre espaço para novas informações. Você não suporta ser contestado e questionado. E mesmo assim ergue a cabeça como um sábio? O verdadeiro sábio é aquele que reconhece sua própria insignificância e age como um verdadeiro aprendiz. Não é possível saber de todas as coisas, bem como também não é possível saber se você está certo e o outro está errado.

O que existem no mundo são crenças e concepções diferentes. Cada um tem a liberdade de pensar da forma que preferir. Converter o outro é desrespeitar esta liberdade e implantar a sua forma de pensar. Não adianta acreditar em livre arbítrio se você acredita que se as pessoas não seguirem o mesmo caminho que você, elas vão se dar mal.

Você vive o tempo todo falando de um deus de amor, mas seu coração é cheio de inveja e corrupção. Você aceita que as pessoas compartilhem do mesmo pensamento que você, mas discrimina aquele que pensa diferente. Você não quer que outra verdade, além da sua, seja proferida. Você inventa ou acredita em coisas inventadas a respeito de outras crenças e formas de acreditar.

Você coloca a culpa em demônios por erros que você comete. Você associa toda e qualquer forma de pensar que não esteja de acordo com a sua, como algo demoníaco ou de origem diabólica. Você fala de amor o tempo todo, mas não ama de verdade e não entende o que significa amar. Você não tem respeito mas quer exigir isso para você. Você não compreende aqueles que são diferentes de você, mas quer que todos compreendam você.

Você quer que todos sigam os seus dogmas e se tivesse poder suficiente, tornaria isso uma obrigação. Me diga como você pode ser detentor da verdade? Como que alguém que tem a mentalidade fútil como a sua, pode ter algum conhecimento espiritual? Tente me explicar como alguém como você pode ser a pessoa certa para pregar a palavra correta. Você não é a pessoa certa, você não é nada. Você é só um alienado iludido que vive repetindo o que os outros falam. E eu não vou ser como você! Então não tente me enganar com suas frases sem nexo.

Noctur Spectrus

Nefele


As nuvens desenhavam no céu o rosto de uma Deusa curiosa. Ela vigiava meus passos, observava minha vida, aprendia também. Era uma princesa, praticamente a mais bela do panteão. Estava ali para abrir seu sorriso e mostrar sua luz. Tão linda... tão meiga... ela esperava até que a noite anunciasse sua retirada.

Os carneiros, no chão, corriam e celebravam sua vinda. Eram felizes criaturas do pagus, do campo. Lutavam, pulavam e se encaravam como verdadeiros guerreiros. Estavam apontando para cima o símbolo da batalha pela vida. As montanhas representam a vida aqui na Terra. Elas são o símbolo da necessidade de superação e ascensão.

As nuvens representam o céu, a divindade, a evolução, a capacidade espiritual. A Deusa que olha para nós com olhos de amor e de compaixão. Observa nossas atitudes e se entristece ou se alegra. Nada ela faz além de expressar seus sentimentos. É uma princesa de mãos delicadas, suaves e mansas. Ela é um belo ser que brilha.

Noctur Spectrus

terça-feira, 2 de junho de 2015

Caminho para a morte


Vultos negros que eu vejo todas as noites. Escondidos por trás das cortinas estão os olhares malignos de uma criatura mística. Eu me impus a acreditar no mais insano e negro sentimento. Serpentes que me trazem frutos suspeitos. Eu de longe vejo a grande prosperidade da minha dor. Ninguém está ali por estar, algum motivo reuniu pessoas de semblantes tão diferentes.

Há um senhor com um tridente enorme sentado em uma cadeira demoníaca. Ele está ali para julgar e apontar para você com fúria e arrogância. É o Diabo, mas dane-se, não acredito nele. Não acredito em nada além da minha cilada surreal. Não há suspiros que minha imaginação negue na hora mais precisa.

Eu respiro o sentimento recaído da solidão. Eu sou um anjo caído com as asas cortadas. Mas estou pronto para me reerguer. Só que há atores vestidos de gente ao meu redor. O vácuo, o vazio, o vago... E tudo se fez do nada, mas um dia houve uma totalidade diferente. Algo que fizesse com que em algum momento, a mais incompreensível mente tivesse um sentido firme.

Noctur Spectrus

segunda-feira, 1 de junho de 2015

Paraíso mundano


Delicado sentimento, puro e amável. Doce sabor das amoras, vento que sopra noite e dia. A dama pálida que dançava livremente entre as rosas. Como era lindo o nascer do sol naquela cidade... Belas melodias eram cantadas nos festejos. Comida boa e tranquilidade. A paz morava ali.

Casas bem organizadas, telhados lindos, maravilhosos. Os passarinhos voavam de um lado para o outro. Não haviam muitas coisas para se preocupar. As crianças acordavam cedo para brincar e estudar. Os cavaleiros encontravam suas esposas sorrindo todos os dias. Aquele era um paraíso mundano.

Os maiores valores eram o do amor e do carinho. Haviam jardins belos e ruas arborizadas. A população vivia uma cultura de compreensão da vida e da morte. Um processo de reencarnação e um de evolução. O ser humano como um ser de múltiplas fases que necessita viver para aprender. Esta é a cidade completa que o sonhador almeja. Este é o paraíso que não é perfeito, mas que também não é imundo e corrupto.

Noctur Spectrus

Campo


Os animais estão mortos, a seca devastou nossas terras. O que iremos fazer, perecer? Onde está nosso refúgio agora? Vida difícil... estendemos aos nossos olhares a verdadeira realidade deste mundo. A fertilidade da terra é uma necessidade para nossa sobrevivência. A colaboração natural que nos traz o alimento.

Nós cultivamos a vida, nós cultivamos a esperança. Trazemos do campo o sabor verdadeiro da natureza. Aqueles que vivem na ilusão urbana nunca entenderão... Na verdade, onde há muitas luzes piscando, nunca haverá uma brilhando constantemente. Não adianta ter beleza e não ter conteúdo. A compreensão é uma princesa no reino da sabedoria.


São exigências demais, críticas insensatas. Falam tantas coisas de nós que até ficamos sem jeito. Geralmente é assim no mundo dos hipócritas. Tudo sempre se volta contra o bem concebido. Pensando, refletindo, algemando os desejos imundos. Ninguém segue bons exemplos onde a corrupção domina as famílias. Ninguém nem sequer segue seus pais quando eles nunca foram presentes.

A hipocrisia traz a vontade estúpida de acusar e condenar aquilo que você usa. Nenhum hipócrita tem o coração honesto. Todos são impuros e se deixam levar pela fraqueza de suas mentes. Não importa tanto assim... não seremos os primeiros a cair mortos por causa disso. Mas, desde quando nascemos, temos a grande e falsa missão de tentar salvar o nosso ego. Por isso muitos se matam por aí, mas existe uma sombra escura em volta desta multidão, então... Serão os degredados humilhados.

Noctur Spectrus