segunda-feira, 13 de julho de 2015

Por trás daquela janela


É comum ver, desejar, deixar-se inspirar. Um veneno correndo nas veias, uma dádiva, um presente das serpentes do inferno. O poder de determinar e vencer o medo e a solidão. A sadia sensação de tristeza que traz a morte sagrada. O vazio interno que é preenchido pelo vazio universal. O silêncio, sim, nada tão nobre quanto o doce silêncio.

Sentada em um chão meio molhado pela chuva que entrou pela janela. Espionava os galhos com folhas balançarem. Traziam-me lembranças de qualquer momento cismado que tive na vida. Passei por tudo, menos amores. Vivi a escuridão, mas não as cores. Parecia diferente sair de um terrível meio obscuro e viver em um quarto sem móveis, mas no fundo era quase a mesma coisa.

As vezes cantarolava canções de ninar. As vezes chorava enquanto sorria. Deixava as lágrimas descerem por todo meu corpo. As vezes me cortava só pra passar o tempo. As vezes comia os insetos para não passar fome. As vezes uma coisa de cada vez e as vezes todas as coisas ao mesmo tempo. Eu morreria, e daí? Não é esse o rumo natural das coisas? Tudo morre, tudo apodrece, menos nossa alma, ela é imortal. Ela pode viver uma alegria intensamente ou uma tristeza eternamente.

Noctur Spectrus

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