quarta-feira, 29 de julho de 2015

Subconsciente


Me conceda o descanso, o digno silêncio
Pois a morte me é de direito
O suspiro sufocado na escuridão que almeje a paz
A tranquilidade que se movimenta na sombra, que seja meu aconchego
O caçador precisa dormir, sonhar, triunfar
O trabalhador precisa da recompensa dos seus esforços
Os sentimentos que me dão trégua
As emoções que pararam de me seguir
Agora é o momento da dúvida me esquecer
É o momento da mente ficar lúcida
A conexão interna do ser, o combate interno do ego
Nada disso será um incômodo significante
Pois tudo agora deixa de fazer parte do meu eterno
E passa a ser manipulável
A morte leva um pouco do consciente
Mas eu trouxe os experimentos do inexistente
Eu sou uma alma que fecha os olhos
Eu sou uma alma que descansa em paz
Não preciso mais pensar, não preciso mais questionar
Apenas necessito entrar na escuridão
Visitar as trevas, entrar no subconsciente
Nada haverá, somente vultos
Nada me tocará, somente eu mesmo.

Noctur Spectrus

segunda-feira, 27 de julho de 2015

Inferno


Uma alma soprada no vento, um doce acalento em ternura. Uma sabedoria entregue ao mais interior da alma. A loucura, a insanidade, a mais pura humanidade correndo direto para o fogo. O suave aroma dos pecados enveredava pelos altos. As colinas distantes produziam diamantes negros que apontavam para as quatro direções.

Havia na estrada da morte, um assassino em série. Arrastando uma criança com o braço. Ela era uma vítima, uma refém do medo e da soberba. Lá estava ele a enforcando, a garota quase estava sem ar. A terra imunda transportava impurezas, doenças, vermes e todas as fobias. Ninguém mais apontava o dedo para acusar o reflexo no espelho. Os entes queridos se tornaram entes despercebidos. Naquele inferno, julgavam-se os infiéis e os que nunca compreenderam a razão de um dia terem tido a oportunidade de estarem vivos.

Correntes quebradas se espalhavam por todos os lados. Elas eram o resquício de sofredores que tentaram escapar. Em vão olharam para o céu e desistiram de toda a esperança. A cura para a dor não existia ali. Não havia prazer, nem drogas, nem amor. Era tudo seco, morto, sem cor. Era uma era que nunca teve início e nunca teria fim. Era um estado interminável e inquebrável.

Noctur Spectrus

domingo, 26 de julho de 2015

Nunca obsessor


Simples, interessante sofrimento
Doce, amargurado talento
Em rabiscos, desenhava o tempo
Cantarolava para meu próprio acalento
Eu intervia no meu próprio pensamento
Eu dava luz ao meu próprio sentimento
Fiel... ao meu desejo insondável
Forte no meu íntimo impenetrável
Adocicado no meu coração afável
Adormecido na minha alma estável
Eu sonhava e me esticava para o interior do Universo
Eu era lúcido, indiferente, mas disperso...

Em tantas horas de pensamentos confusos, ouvi a dúvida cutucar minha mente. Era uma sombra, uma peculiar amargura que passeava sem rumo nos corredores da cabana. Que triste, sem aparência, vislumbrava uma luz no formato de uma gente. Quem poderia ser? Eu tinha pena, mas por que? Talvez tivera sido alguém que conheci no passado...

Eu era um espaço vago esperando a mais bela flor. Enigmático, sofredor, mas nunca obsessor. Eu espionava os atos mecânicos do meu corpo. Sentia subir a energia primordial do sexo. Eu era a paz convertida no pecado, no erro, na insanidade. Eu era simples, interessado na lucidez da alma universal. Eu lutava contra todas as forças da solidão. Eu lutava e não temia... Esse era, talvez o maior dos problemas...

Noctur Spectrus

sábado, 25 de julho de 2015

Anjo caído


O início de uma transgressão sociopata. Um surto da inteligência que se deslocou para o mais maligno desejo de morte. A fusão de ideias e loucuras que levavam à um único vilão: o ser humano. Raça imunda de vermes sem noção. Seres inferiores, tomados pelo medo e pelo egoísmo. Tão insignificantes eram, mas pra quem vive nas traças de um mundo imperfeito, tomar qualquer atitude, não seria nada inesperado.

Era a hora e a época, o signo e a véspera. Estava no tempo desejado, na condição adequada. A vida, uma substância volátil que esperava sua libertação. Um poço obscuro, molhado, esquecido. Não havia para onde olhar, senão para cima, mas mesmo assim, olhei para baixo. Vi, mesmo no escuro o reflexo de um sujeito humilhado pela própria existência. Um ser caído nas trevas com uma promessa desconhecida.

Entre diversos enigmas, havia um em especial que superava o estigma. Era ele relacionado ao tamanho das circunstâncias provocadas por todas as revoltas. O surreal, o mais mutável caminho desconhecido. O caminho que nunca mostrava paisagens, mas ao invés disso, tormentos. E mesmo assim, eu tentava abrir minhas cicatrizes e ferir o medo mais ainda. Mesmo assim eu ousava desafiar as sombras e encarar com emoção meu coração...

Noctur Spectrus

Palavras sábias


Quando o tempo passar, e ele sempre passa, algumas coisas ficarão para trás. O passado é um armazém de lembranças e o futuro um armazém de incertezas. O ser quer sempre estar para continuar sendo o que ele está a ser. Ciclos e mais ciclos vivemos num mundo onde as coisas parecem não ter sentido. Na verdade o sentido é como a perfeição, sempre desejamos alcançar, mas nunca obteremos com veracidade.

Possuímos medos que nos retraem, nos aprisionam e nos manipulam. Possuímos inseguranças e desafios e temos que tentar lidar com as duas coisas ao mesmo tempo. A alma é uma pintura que está sendo retratada em um quadro. O quadro é o nosso corpo, nossa matéria. Estamos aqui, vivendo uma obra de arte sem conhecer a verdade. O conhecimento é uma fronteira infinita porque não somos capazes de contê-lo.

Pensar, refletir, questionar é ao mesmo tempo desafiar o pensamento. Mas as vezes as pessoas tem medo de fazer isso, pois estão acorrentadas por ideias inatas. Ideias que sempre acompanharam sua linha de raciocínio e não querem deixar de existir. Para isso, tentam fazer com que a mente elimine qualquer discordância. Até parece algum tipo de sobrevivência maliciosa. Todas as pessoas do mundo estão sujeitas à essa alienação. A fase mais difícil, é entender o que se passa e se libertar disso.

Pessoas que vivem isso são escravas e inflexíveis. Elas vivem uma verdade falsa construída em uma linha de pensamento falsa. Mas ainda assim, não conseguem entender a falsidade por trás de si mesmas e encaram isso como uma ideia absoluta. Muitas vezes até, querem que os mais próximos se juntem à isso. Isso seria talvez, uma forma de replicação dos próprios pensamentos e de forma natural. O grande risco da natureza dessa ação, é a forma como uma ideia, mesmo que falsa, se espalha.


De todos os lugares, de todas as palavras, estão vindo influências de todo o tipo. Elas podem mudar nossa mente, fazer nossa cabeça e podem até nos transformar em algo que não conhecemos. Tudo isso, muitas vezes, sem tomarmos conhecimento do que está acontecendo. Ideias são como venenos, tóxicos, você está o tempo todo diante delas e precisa sobreviver. Precisa aprender a manipular todas elas ao invés de ser manipulado. Precisa aprender a construir no seu interior suas próprias ideias, porém com todo o cuidado, para não estar somente replicando insanidades sem perceber.

Não é que a vida seja difícil, é que ela é como um jogo, cheio de estágios e obstáculos. Quando você está equilibrado e com o jogo em equilíbrio, é sinal de que está com uma ótima pontuação. Quando está deprimido, com baixa autoestima e confuso, significa que está com uma pontuação mais baixa. É basicamente assim que funciona. O último estágio é a morte. Ela é o fim do jogo, mas apesar de tudo, não traz a certeza de que tudo acaba por ali mesmo.

Noctur Spectrus

quinta-feira, 23 de julho de 2015

O garoto primogênito de Sara


Estava lá, aturdido, coitado. Era pequeno, uma criança sem pais e sem notícias sobre qualquer coisa. Eu nunca o deixaria, mas não podia me mover. Estava diante de um campo minado, qualquer passo me destruiria. O garoto tinha um grande potencial, ele poderia ser um grande homem no futuro. O que eu mais desejava era ver como ele seria capaz de ajudar todas as pessoas. Mas naquele momento, não tinha o que fazer.

Ele estava assombrado, finalmente olhou para mim. Tentei o avisar para não se aproximar, mas ele não atendeu meus pedidos. Foi-se o primeiro passo na área do campo minado. Houve a primeira explosão. Ele pisou em cima da mina, meu Deus, meus olhos lacrimejaram. Mas de alguma forma, o seu corpo resistiu. Fiquei surpreso. Haviam alguns arranhões, ferimentos, mas ele estava intacto. Como poderia ser? O garoto tinha realmente super poderes.

Foi-se o segundo passo, mais uma bomba explodiu. A cada passo ele ia ficando cada vez mais ferido, mais danificado. Eu chorava, implorava para que ele parasse. Mas ele continuava. Estava sofrendo muito. Eu imaginava que a cada bomba que estourava, era como ser morto terrivelmente. Eu vi ele sofrer isso por dezenas de vezes até chegar à minha frente completamente ferido e ensanguentado. Me estendia a mão.

Não tive reação. Perguntei o porquê de ele ter feito isso. Ele simplesmente respondeu: "Eu sei que tenho grandes capacidades, mas preciso de alguém para me ensinar o valor de tudo isso, preciso de alguém que me ensine a desenvolver isso. Não posso viver neste mundo sozinho, sem direção". O garoto, apesar de novo, tinha uma personalidade forte. Peguei na sua mão e juntos saímos dali. Cuidei dos seus ferimentos. Eu sei que um dia ele será um grande herói e restituirá a Terra. Mas por enquanto, é necessário se preparar por anos e anos.

Noctur Spectrus

terça-feira, 21 de julho de 2015

Caído no deserto

Meus pés ardendo, tão quente estão. Circulando neste deserto que nunca acaba, o que eu faço? Olho para o céu e tento encontrar uma resposta, mas até a luz do sol brilhando me incomoda. Sinto que estou queimando aos poucos, minha garganta está seca. Não há nada, somente o mais terrível medo do sofrimento. Estou sufocando, perdendo mais água enquanto o tempo passa. Será que ao adormecer, viverei a mais eterna miragem?


Não tenho forças suficiente para caminhar com bom semblante. Não existe mais disposição, foi a falta dela que me pôs aqui. Não sei sair, não sei onde estou, não sei quem sou, não sei... Eu apenas sinto uma camada quente em volta do meu corpo. É como se eu estivesse tendo uma combustão interna. Estou delirando, tonto, sem norte. Sinto que vou desmaiar e que vou morrer aqui mesmo. Neste lugar, quente e seco, onde nem o vento é capaz de apaziguar a tortura.

Finalmente, caí ao chão, a areia quente agora me queima como se eu fosse lenha. Agora sei que tudo está perdido, pois não posso mais me levantar. Não tenho mais forças nem sequer para pensar. A dor invade meu coração, não consigo me lembrar de nada que vivi. Se tive experiências elas foram completamente em vão agora. Nada mais está no meu caminho, somente a miragem que eu já esperava que iria encontrar...

Noctur Spectrus

segunda-feira, 20 de julho de 2015

Disperso


A distância e o pecado, um terror sem identidade. Um estado sólido petrificado no coração amargurado. Sem espaço para o tempo e sem tempo para o espaço. Uma dor insuportável renegava o medo irresponsável. Estava memorizando os números da minha anormalidade. Quem sabe meu quociente me levaria à algum lugar... Eu tinha em mente aquilo que o intelecto precisava.

Eu era ambicioso, progressivo, mas também um guia de evolução interna. Eu enchia balões de ar somente para representar o universo e depois, propositalmente, estourava todos. Quem era eu? Um ser na nudez da natureza inflame? O que eu sentia? Não sei, não lembro... Eu sei que tem alguém em algum lugar tentando me frear. Eu sei que pessoas por aí não querem que eu me supere. Só que felizmente, a minha superação depende somente de mim.

Não importa o quanto eu erre, não importa quanta obscuridade eu viverei. Eu sempre superarei tudo isso e estarei de pé. Eu serei um corpo infestado de sentimentos e pensamentos. Mas mesmo assim, seres inúteis tentarão em vão me destronar. Eu reino no meu íntimo e viajo na minha existência. Se você não tem valor dentro disso, como poderá me enfrentar?

Noctur Spectrus

Transmutação


É inexplicável a forma, o vazio e a alma indiscreta num espaço inerte. Você é Sol, você é Lua, mas você não brilha. Já pensou como é se sentir assim? Talvez eu tenha em mim apenas mais um aspecto negativo ligado à autoconfiança. Mas eu não sei te dizer o porquê. Eu vivo sem substantivos tentando entender a vida nos adjetivos. Eu sei qual é a sensação de morrer, mas nunca me pergunte o que é viver.

Eu brinco sim, as vezes, com piratas e navios. Eu nunca sei por qual direção navegar. Mas isso não me assombra pois nunca desejo chegar à lugar nenhum. Eu espero no final encontrar um lugar onde o mar desabe no abismo. Eu queria poder viver um pouco das terras planas. Eu queria entender um pouco mais sobre a discórdia e sobre a ciência natural das coisas. Eu quero criar uma companhia confortável para os dias luxuosos.


Preciso parar de escrever diretamente e voltar a ser indiferente. Eu quero sentir novamente o sabor de uma doce fruta, aromática, livre de venenos. Eu não sou capaz de entender meu próprio ser surreal. Penso assim, vivo assim, mas também não necessito entender minha própria loucura. Viver intensamente? Talvez, mas não quero ser no fim das contas, engolido por um buraco negro.

As palavras produzem formas do meu pensamento. Minha mente potencializa meus desejos e os faz se tornarem reais. Eu sei que posso trazer para esta dimensão as coisas sombrias que guardo no meu próprio quartinho na escuridão. Eu sei que sou o tudo e o nada. Sei que sou o cheio e o vazio. Sei que sou a forma e a essência. Eu sei quem eu sou nos mais variados sentidos, mas eu sempre esqueço tudo sobre mim no momento que eu durmo. É estranho viver uma realidade paralela sem ao menos ter o direito de decidir qual deve ser a verdade. Mas, de qualquer forma, as vezes acho que tenho esse poder, quem sabe...

Noctur Spectrus

domingo, 19 de julho de 2015

O andarilho


Espere um pouco, tenho algo pra te dizer antes que você se vá. Não seja arrogante, pare e me escute, um instante, por favor. Eu sei que você carrega mágoas no seu coração e que isso irá te prejudicar no futuro. Eu sei que você passou por muitas coisas difíceis e que não adianta dizer que a vida é assim mesmo. Sua vida é complicada e eu entendo, mas não custa nada ouvir umas palavras a mais.

Você é apenas uma entre milhões de pessoas que passam por problemas difíceis de serem solucionados. Existe um grande número de gente desabrigada por aí. E você? Será mais um andarilho em uma busca inexistente. Sua missão é caminhar e nunca parar. Sua meta é nunca chegar à lugar nenhum, todos nós sabemos que isso fará você se sentir melhor. Mas de vez em quando, descanse. Passe uns dias aqui e acolá, seja um pouco estacionário também.

Um dia todos morrem, você também passará por isso. Não sabemos o que vem depois da morte, nem sequer sabemos se vamos se lembrar de algo aqui vivido. Então a sua chance de vivenciar de fato essa realidade, é fazendo parte dela em todos os sentidos. Eu já o vi sorrir, já o vi dar ótimas gargalhadas. Sei que você é capaz de se lembrar disso, mas e se um dia não for mais? Pense nisso, você pode viver tudo agora e deixar para depois um recomeço triunfante.

Eu só te desejo uma boa jornada! Que você vá e reflita com essas palavras e tente ver que em sua trilha também existem flores e moradia. Um bom andarilho não é aquele que simplesmente passa por vários locais, mas sim, aquele que guarda um pouquinho de cada canto que visita. Seja um verdadeiro andarilho, seja um armazém de coisas boas. Preencha seu coração com os bons sentimentos, eu tenho certeza que um dia eles superarão suas mágoas. Agora... até mais meu caro amigo.

Noctur Spectrus

segunda-feira, 13 de julho de 2015

Por trás daquela janela


É comum ver, desejar, deixar-se inspirar. Um veneno correndo nas veias, uma dádiva, um presente das serpentes do inferno. O poder de determinar e vencer o medo e a solidão. A sadia sensação de tristeza que traz a morte sagrada. O vazio interno que é preenchido pelo vazio universal. O silêncio, sim, nada tão nobre quanto o doce silêncio.

Sentada em um chão meio molhado pela chuva que entrou pela janela. Espionava os galhos com folhas balançarem. Traziam-me lembranças de qualquer momento cismado que tive na vida. Passei por tudo, menos amores. Vivi a escuridão, mas não as cores. Parecia diferente sair de um terrível meio obscuro e viver em um quarto sem móveis, mas no fundo era quase a mesma coisa.

As vezes cantarolava canções de ninar. As vezes chorava enquanto sorria. Deixava as lágrimas descerem por todo meu corpo. As vezes me cortava só pra passar o tempo. As vezes comia os insetos para não passar fome. As vezes uma coisa de cada vez e as vezes todas as coisas ao mesmo tempo. Eu morreria, e daí? Não é esse o rumo natural das coisas? Tudo morre, tudo apodrece, menos nossa alma, ela é imortal. Ela pode viver uma alegria intensamente ou uma tristeza eternamente.

Noctur Spectrus

domingo, 12 de julho de 2015

Erguer


O ódio tomou conta do meu ser, possuiu minha mente e me fez ver, com olhos sangrentos, a idolatria do teu altar. Tu és ira disfarçada de amor. Vejo na penumbra teu ciúme e arrogância. Eu conheço o desprezo e o sofrimento. Eu estou aqui para confirmar a realidade dos meus pesadelos. Por muito tempo você vem se alimentando dos fracos. Você não passa de um grande espírito das trevas usando uma máscara de palhaço.

Todos que caem de joelhos diante de ti acreditam que você irá fazer por eles o que eles acham que não podem fazer. Você sobrevive nas lacunas dos desejos ditos impossíveis. Mas eu sei que você também julga aqueles que não te dão ouvidos. Quem você pensa que é? Você pode ser a coisa mais importante para aqueles que dedicam tempo te adorando, mas para quem não se importa, você não é nada e nunca será nada.

Você não é capaz de atacar diretamente aquele que não acredita em você. É por isso que insiste tanto para que seus escravos façam outros escravos. Você quer dominar o mundo por completo se escondendo por trás de bendições. Mas você não passa de um agregador de maldições. No fundo do meu coração eu tenho guardado as relíquias da verdade. Eu também me lembro da tortura que você tentou me causar. Hoje você é impotente e eu sou maior que você.

Você nunca saberá nada sobre minha origem, nunca mais. Você está muito longe de me alcançar pois você é limitado. Eu não tenho limites, vivo ou morto eu estarei existindo e consciente da minha essência. Um mundo apodrecido em escuridão está sendo infestado por sua ganância. Você briga e mata por uma fruta podre. As pessoas se tornaram um câncer e você é uma das causas. Talvez você se sinta ofendido, não me importa, eu também por toda a minha vida fui ofendido por culpa sua.

Noctur Spectrus

sábado, 11 de julho de 2015

Venha comigo


Por sorte encontrei seu rosto nesta escuridão. Vejo seu olhar sofrido, cansado, sem esperança. Eu queria muito te encontrar, te busquei por anos e anos. Finalmente consegui, é uma pena estar te vendo assim, perdida, confusa... Eu sei que não é fácil depois da morte. A gente acaba acumulando tanta coisa no nosso interior que em algum momento tudo volta para nos assombrar. Mas não tema, agora você tem a mim.

Eu sei que você pode pensar que eu não sou mais real, que eu fiquei na sua vida passada. Agora não é isso que importa, pois de qualquer forma, eu estou aqui. Eu não tenho como te garantir de que não sou apenas mais um demônio tentando te iludir. Não tenho como te provar que não sou uma ilusão da sua mente desgastada. Mas eu te proponho a arriscar seguir os meus passos.

Eu realmente não poderia deixar você aqui sozinha, no frio, na penumbra, sem nenhuma proteção. Qualquer coisa poderia te fazer mal, até você mesma. Por favor, permita-me te ajudar. Eu passei anos te procurando sem parar. Eu nunca esqueci de você. Eu nunca deixei de acreditar que você estaria em algum lugar como este, tentando deixar de existir. Eu não sou a sua melhor memória, sei disso... Mas no momento, eu sou a única que voltou com uma intenção diferente. Não vim te atormentar, vim segurar na sua mão. Quero que sinta meu calor, quero que sinta meu amor.

Olhe para mim, veja os meus olhos. Eu sei que você pode ver a sinceridade e eu sei que você ainda pode acreditar. A esperança é a última coisa que deixa de existir. Se você ainda existe, é porque ela ainda não se perdeu completamente. É muito triste esperar de você qualquer reação e você ficar parada, imóvel. Sei que não posso exigir nada de você. Nunca desistirei, cheguei até aqui e com a sua permissão, quero te salvar deste lugar. Venha comigo, vamos embora, eu soube vim, saberei voltar. Você perdeu tudo, infelizmente. Mas agora pode recomeçar, não tenha medo. Você ainda é uma dama, linda, gentil e meiga. Sei que ninguém quis te dar o valor que deveriam dar, mas eu consigo ver através do seu olhar. Você é uma flor muito bonita por dentro. Eu acredito em você, sempre acreditei.


Sei que não posso contar com seu sorriso neste momento. Sei que é difícil escapar da depressão, mas quero que saiba que a partir de agora, você não está mais sozinha. Durante a vida sofreu, por isso quis morrer. Agora, morta, descobriu que de nada adiantou. Não podemos escapar do nosso carma. Não podemos fugir de nós mesmos. Mas podemos lutar, enfrentar, conviver, sobreviver. Eu pude fazer isso e sei que você também pode. Agora erga-se e vamos seguir juntos. Eu amo você e é por isso que nunca te abandonarei.

Noctur Spectrus

sexta-feira, 10 de julho de 2015

Uma flor de jasmim


Tão suave como aroma de jasmim
Ela tocou... em mim...
Olhou nos meus olhos com amor
Meu coração logo se apaixonou
Sua pele macia ao me acariciar
Me fez intensamente desejar
Seu coração, um furacão
De emoções e emoções
De tanto lar, eu fui estar
Ao seu lado à esperar
Um beijo seu, sentir seu cheiro
Satisfazer o meu desejo
Que seja cor azul do mar
Lindo e profundo, sempre a brilhar
Que seja verde como a grama
Que seja vida e esperança
Que o meu amor seja teu sabor
Que nossa união esteja sempre aqui
Fazendo eu e você sorrir
Ao ver as flores nos campos distantes
De mãos dadas, observando o horizonte

Noctur Spectrus

quinta-feira, 9 de julho de 2015

Eu sobrevivi à guerra


Em meio as trevas, olhei para o além. Descobri nos altos da minha misericórdia, a dor sufocante que perdi na guerra. Um mar de sangue cobria a Terra. Os mortos fediam e os vivos sofriam pelo medo e devastação. Não era uma guerra civil pois ninguém mais era civilizado. Não havia mais esperança de que tudo voltasse ao normal. A ganância e a sede de poder fez com que todos entrassem em um conflito interminável.

Por muito tempo a humanidade acreditou nas antigas profecias apocalípticas e em um único momento no qual deixaram de acreditar, elas se tornaram realidade. Os humanos enterraram sua própria vida numa cova profunda. Eu observava e apesar de tudo, não estava surpreso com aquilo. Muitos cavavam o chão tentando se esconder. Muitos perfuravam a própria pele, cortavam os pulsos, se jogavam de edifícios altos. Tentavam se suicidar, mas sempre eram frustrados, nunca conseguiam morrer.


A morte por muito tempo tivera sido o que todos evitavam. Naqueles momentos obscuros e terríveis, a morte passou a ser a passagem mais desejada. Todos queriam deixar de existir para não sofrer pelos seus erros. Eu não me importava, eu achava o máximo. Eu sabia que não haveria mais salvação para mim nem para mais ninguém ali. Eu poderia assassinar quantas pessoas eu quisesse e o diabo não olharia para mim. Nunca seria um recruta das invenções infernais.

Eu podia ser o que quiser. Quanto mais eu alimentasse meu ódio e minha fúria, mais poder eu teria. A Terra estava desamparada e eu poderia ser o novo rei. Em um dado momento, os anjos caídos abandonariam a Terra e buscariam outro refúgio. Eu queria muito poder voar para o horizonte, mas minha alma estava presa naquele solo infértil. Era uma tarde cinzenta, a brasa das fogueiras queimava os meus pés. Voltamos aos antigos costumes... as metrópoles foram todas destruídas. Uma nova raça seria criada para substituir a raça pecadora.


A Terra seria reconstruída para que deixasse de ser aquele inferno. Queriam transformá-la em um paraíso. O digno da luz que falhara outrora tivesse vindo encarnado para alimentar o amor, um dia gostaria de sentar no trono e citar ordens quaisquer conforme sua vontade. Ele seria acompanhado de vinte e quatro anciões fervorosos, loucos para mostrar o que são capazes. E eu estaria ali, esperando cada um deles. O rebelde humilde sem nenhuma chance de superação, o dolorido corpo esfaqueado pelas mãos de um espírito enfurecido.

Estaria eu ali, sem temer. Se superei toda a desgraça sorrindo e sem desejar a morte o tempo todo, eu que sempre a respeitei... Por que iria abaixar a cabeça para senhores de outras dimensões? Eu não me importaria, não havia nada que tivessem inventado nem aqui nem nos céus que fosse capaz de me causar medo. Não temia nem o bem nem o mal. Não se importava com tortura ou mutilação. Minha vida depressiva, no fim das contas, me tornou a pessoa mais preparada do mundo.


Eles iriam ter que se esforçar para me destruir na mesma medida que me esforcei para sobreviver. Deixaram o corpo errado sobreviver durante a dança cósmica da destruição. Agora, entre anjos e demônios, eu poderia olhar para qualquer direção com determinação. Eu sabia, sim eu sabia, que aqueles portadores de cajados que se diziam benditos e portadores do amor e da paz, não eram diferentes de mim. Eles tinham desejos obscuros e destrutivos, mas diferente de mim, escondiam por trás de suas auras. Mas eu vejo o mal, eu sou o mal, eu vejo o bem, eu sou o bem. Eu sou um ser ousado que sobreviveu a ira divina, agora... enfrentem-me!

Noctur Spectrus

terça-feira, 7 de julho de 2015

Seja insano


Você já pode investir em um novo paradigma surreal. Você pode novamente ser feliz escondendo a tristeza no cobertor da solidão. Você tem alguns frutos estranhos na mão, coma um deles, arrisque-se. A vida é feita de riscos, só assim você pode seguir em frente. Quem não arrisca não alcança. Você não precisa de algo mais concreto para viver sua estabilidade mental. Seja insano!

Seja controverso, enigmático ou favorável. Dependa do sujeito da frase que seu coração se ligou. Não deixe as artérias estourarem antes do sangue carregar sua esperança por todo seu corpo. Não se afogue em mágoas desconhecidas pelo tempo. Você é mais doce do que o amargo sabor de uma flor hidratada. Mastigue uma... seja insano!

Seja insano na alma e deixe palavras quaisquer serem libertadas pelos seus dedos. Escreva um poema e pregue em uma árvore. Deixe a natureza ler sua loucura. Confesse um dilema insensato, seja sincero e que se dane o que vão pensar. Ninguém é válido, uma multidão vazia não tem o peso de um corpo cheio de energia. Deixe as mutilações de lado, deixe de ser mastigado pelo sofrimento profundo. Anime-se, pelo menos no seu último dia de vida, seja insano!

Noctur Spectrus

segunda-feira, 6 de julho de 2015

Eu precisava que ele morresse


Olhei para ele e consegui ver através de sua carne. Um coração enfraquecido que bombeava um sangue preto e impuro. Seus olhos não tinham luz mas me encaravam firmemente, como se eu fosse uma presa. Ele estava furioso e desejava minha morte. Eu sabia que nada o convenceria de que eu estava certo e ele errado. Era um pouco tarde para salvar um corpo apodrecido.

Ele era uma alma mergulhada nas trevas. Estava no mais profundo sono, quando acordasse, já estaria morto e já teria matado centenas de pessoas. Não era mais um ser humano, era uma besta feroz que precisava mostrar sua ira. Eu estava ali, diante dele sem conseguir respirar direito. Não poderia encarar aquilo como um combate mortal. Eu sabia que ele não tinha culpa. Se eu o fosse impedir, teria que tirar sua vida. Mas não tinha outra forma.

Se eu o deixasse vivo, permitiria que o demônio tomasse conta da cidade. A desgraça seria muito maior... Com certeza eu não moveria um dedo para salvar aquelas pessoas hipócritas. Mas ao lembrar das crianças, parecia que eu via dezenas delas me implorando por ajuda. Minha mente tinha pouco tempo para raciocinar. Decidir optar pela ação mais dramática em meio a um retorno compulsivo. Engatilhei a arma e atirei. Um tiro na cabeça e o cérebro se destruiu. Estava morto, caído no chão. O sangue preto e diabólico escorria pelo chão, o odor inexplicável me deixava sem noção. Era o fim... simplesmente, o fim...

Noctur Spectrus

quinta-feira, 2 de julho de 2015

Liberte-se da religião


Seja livre, liberte-se das correntes sociais. Você não precisa ser um escravo das ideias pacatas dos seres humanos. Viva a sua vida e goze do seu prazer, não seja uma múmia enterrada num cemitério cristão. Você é uma arquitetura brilhante com uma mente poderosa. Por que então sofrer? Pense um pouco, pare tudo! Você vive o que as pessoas dizem trazer a felicidade, mas você é triste, acima de tudo? Então tem algo errado com você.

Não seja a ovelha que o pastor manipula como quer. Não deixe que dominem seus pensamentos e façam você acreditar em qualquer idolatria. Seja mais sensato consigo mesmo, veja as oportunidades que você tem diante de si. Você nunca será feliz enquanto não for livre, e nunca será livre enquanto não conseguir abandonar o templo.

Não existem ideias divinas expostas em nenhum tipo de livro ou escritura. Não seja tolo e infantil em acreditar que o homem possui a palavra da verdade. Pois ele pode usar qualquer palavra como tal. Abra seus olhos, enxergue a vida, olhe para outras direções e arrisque dar um passo torto. Não adianta passar a vida toda criando tabus se não vai seguir eles. Você é dono de si mesmo enquanto respirar, porque se entregar para uma criatura imaginária que você não tem como provar que existe?

Noctur Spectrus

quarta-feira, 1 de julho de 2015

Um escritor na natureza


É natural pensar, refletir, gozar da vida e ser feliz de vez em quando. As vezes as flores da primavera refrescam o aroma da alma e suavizam minha imaginação. Gosto de olhar para o alto das montanhas florestadas e me ver livre voando sobre elas. É demasiado cedo para uma lágrima de emoção, mas também um pouco tarde para um suspiro de alívio. Um coração meigo pulsa no meu peito me fazendo pensar borboletas leves e soltas.

Eu sou como a fumaça de um incenso de rosas. Mas em meio a tantas metáforas até me perco nos meus devaneios. Sou calmo, paciente, mas inquieto e insano nos momentos agitados. Eu tenho em mim o sangue ancestral, que um dia correu na seiva das árvores sagradas. Quem dera eu ser um pássaro novamente, como já fui em outras vidas. Quem dera eu poder conhecer o céu de pertinho e me perder no seu azul. A vida é uma poesia cantada em grandes versos. Eu sou um poeta caminhando ao esmo.

De longe vivi a harmonia simbólica do meu ser. Que sempre se via perdido em vários encontros simultâneos. Eu já dei passos longos com muita calma, e passos curtos com velocidade. As vezes paro para olhar minhas mãos sem qualquer motivo. Mãos suaves de um nobre escritor que entregou sua alma aos seus próprios desafios. Me sinto como um grande sonhador que vive um sonho a cada dia sem parar e sem temer. Me sinto uma grande raposa que espreita o semblante perfeito de uma aura feliz.

Noctur Spectrus