Uma névoa negra que se espalhava por todos os lados, se aproximava devagar mas de forma perigosa. O desespero guarnecido no peito, explodia intensamente para fora do corpo. Um amontoado de corpos podres empilhados uns sobre os outros. Não havia como escapar, a menos que pudéssemos voar. Não éramos dignos da vida, da morte, da escapatória. Divina misericórdia, era a única que podia nos voltar os olhos. O que seria de nós? A neblina nos pegaria.
Ouvimos no céu o canto das águias gigantes que outrora foram nossas guardiãs. Será que voltaram para nos buscar? Seríamos enfim valorizados? Que houve no semblante da serpente venenosa? Por que não nos matou com seu próprio veneno? Um pensamento sombrio infestou minha alma, estava só, as águias carregaram os demais. Como pôde isso acontecer? E enquanto à mim? Sou acaso o pior dos males da Terra?
Esqueci de tudo naquele instante, meus pensamentos se voltaram para a neblina ofuscante e tenebrosa. Não havia esperança, estaria morto, como os outros. Meu corpo envenenado faria parte da pilha dos mortos. E por que? Por que eu merecia tudo aquilo? Acaso matei alguém? Já não se lembrava, talvez matei um ou dois anões, mas porque isso pesaria agora? Minha mente bloqueada... talvez fosse isso.
Durante muito tempo andei soterrado na lama. Entristecido e amargurado nas chamas do meu próprio ego mortal. Isso me condenara, não honrei minha guardiã, logo ela não me honrara na hora mais necessária. Fui condenado à morte duas vezes, uma pelo destino e outra pela arrogância. Não seria um triste fim, no entanto, se eu fechasse os olhos e respirasse. Como eu fazia na infância ao passear livremente entre os campos da minha terra natal. Como era bom... eu tinha amigos, talvez tivesse até a felicidade. Àquela altura nem lembrava o que era tudo isso, mas algo me fazia pensar que já tive. Tudo jás na vida, tudo some na morte. Se amanhã eu despertar no inferno, engulirei seco e continuarei minha jornada.
Noctur Spectrus
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