quinta-feira, 30 de abril de 2015
Inferno das almas
Sufocados no medo, abandonados nas trevas. Ninguém se importa, se da hipocrisia foram servos agitados. Ora dane-se a vida destes, já que suas almas estão apodrecidas. E agora, quem será o feliz imortal da aura celeste? Ninguém! Ninguém estará nos céus se gabando da palavra divina. Perderam tempo atingindo os que deviam amar, nem sequer aprenderam com seus próprios mestres. Agora sofrem e queimam no inferno de suas próprias crenças.
Lá estão eles se arrastando sem as pernas, com os braços rasgados e a cabeça inerte em pensamentos fúnebres. Seus últimos objetos sagrados foram seus caixões, enterrados a sete palmos embaixo da terra, o que não significou nada no fim das contas. Tudo se resulta em luto, em demandas obsessivas provocadas por espíritos viciados. A esperança é uma dama real dançando nua na sua frente, mas você está tão sujo que não lhe é permitido tocá-la. Olha para os lados e não vê uma fonte onde possa se banhar, se purificar. Então a esperança é somente um desejo, e você um sonhador iludido, preso no seu próprio carma.
Olhe para você, nem sequer aparece no espelho de ametistas, nunca aparecerá. Fagulha trevosa do medo e da ganância. O que dirão ao ver alguém tão esperto pagar por pecados carnais tão simples? A dor não escolhe personalidade, ela é uma lágrima inesperada na noite de outono, um pedaço de gelo que queima a pele no inverno, uma vela acesa que incendeia o lar. E você? Você não é nada perante ela, somente um conjunto de neurônios que a transmitem. Vire-se para trás e olhe seu caminho trilhado... Tem certeza que você é isso tudo que você pensa ser?
Noctur Spectrus
quarta-feira, 29 de abril de 2015
Neblina da morte
Uma névoa negra que se espalhava por todos os lados, se aproximava devagar mas de forma perigosa. O desespero guarnecido no peito, explodia intensamente para fora do corpo. Um amontoado de corpos podres empilhados uns sobre os outros. Não havia como escapar, a menos que pudéssemos voar. Não éramos dignos da vida, da morte, da escapatória. Divina misericórdia, era a única que podia nos voltar os olhos. O que seria de nós? A neblina nos pegaria.
Ouvimos no céu o canto das águias gigantes que outrora foram nossas guardiãs. Será que voltaram para nos buscar? Seríamos enfim valorizados? Que houve no semblante da serpente venenosa? Por que não nos matou com seu próprio veneno? Um pensamento sombrio infestou minha alma, estava só, as águias carregaram os demais. Como pôde isso acontecer? E enquanto à mim? Sou acaso o pior dos males da Terra?
Esqueci de tudo naquele instante, meus pensamentos se voltaram para a neblina ofuscante e tenebrosa. Não havia esperança, estaria morto, como os outros. Meu corpo envenenado faria parte da pilha dos mortos. E por que? Por que eu merecia tudo aquilo? Acaso matei alguém? Já não se lembrava, talvez matei um ou dois anões, mas porque isso pesaria agora? Minha mente bloqueada... talvez fosse isso.
Durante muito tempo andei soterrado na lama. Entristecido e amargurado nas chamas do meu próprio ego mortal. Isso me condenara, não honrei minha guardiã, logo ela não me honrara na hora mais necessária. Fui condenado à morte duas vezes, uma pelo destino e outra pela arrogância. Não seria um triste fim, no entanto, se eu fechasse os olhos e respirasse. Como eu fazia na infância ao passear livremente entre os campos da minha terra natal. Como era bom... eu tinha amigos, talvez tivesse até a felicidade. Àquela altura nem lembrava o que era tudo isso, mas algo me fazia pensar que já tive. Tudo jás na vida, tudo some na morte. Se amanhã eu despertar no inferno, engulirei seco e continuarei minha jornada.
Noctur Spectrus
Borboletas
Voando nos jardins do palácio
abandonado, voavam as borboletas negras
Naquele mesmo espaço, o vento
transmitia as lembranças
Do passado, onde tudo vivia com
tranquilidade, antes da guerra
Por todas as partes, houve invasão,
seres das trevas com armaduras de ferro
Espadas afiadas e escudos impenetráveis
Os guardiões do palácio não puderam
combater-lhes, foram massacrados
Os seres das trevas dominaram tudo, o
palácio foi altamente danificado
As cabeças dos mortos foram penduradas
Por duas semanas, depois reunidas e
enterradas no mesmo lugar
Neste lugar nasceram novos jardins,
floridos das mais tristes flores
Ali voavam as borboletas negras
Cada uma delas carregando a alma de um
dos mortos
Cada uma delas carregando uma lembrança
triste de sua época.
Noctur Spectrus
O som das fadas
Ela era uma senhora de idade, se arrastando ensanguentada em direção às fadas. Ouvia o tempo todo a música das flautas, a linda música das flautas. Desejava incansavelmente descobrir quem estava tocando de forma tão maravilhosa. Seu cansaço não lhe permitia dar longos passos, mas isso não a faria desistir, por nada no mundo.
Era uma senhora já quase morta, não lhe restava muito tempo. Mas não se importava com a morte, a única coisa que lhe interessava era conhecer a origem daquele som tão belo que escutava. Temia não poder chegar a tempo. Temia morrer no meio de caminho. Chorava, sentia dor, lamentava por todo esse tempo não ter ouvido aquelas lindas flautas.
Caiu ao chão, morreu a triste senhora. Não alcançara seu objetivo, não realizara seu último desejo. A senhora teve uma triste história, uma triste série de dores emocionais terríveis, e nos seus últimos momentos, não pôde ter o que queria. Nunca tivera realizado um sonho, morreu sem ter ganho nada, sem ter conseguido nada por completo. Triste alma...
Noctur Spectrus
terça-feira, 28 de abril de 2015
Jovem arqueiro
Ontem, durante o sono, fiz uma viagem no tempo para descobrir minha verdadeira origem. Uma vaga lembrança de outras vidas intermediou o espaço escuro do meu pesadelo. Fez surgir um paraíso de emoções esquecidas. Era cedo demais para sonhar com coisas boas, mas eu já imaginava que havia trevas em tudo aquilo. Trevas aliás, é um vácuo no meu universo, sempre existirá, sempre estará comigo.
Uma terra perdida em meio as montanhas sagradas, era tudo o que um jovem arqueiro que ainda não tivera a audácia de matar ninguém, sonhava como seu céu particular. Um lugar onde haveria paz universal, para tudo e para todos. Quem dera fosse real... Mas apesar de tudo, contava os dias. Esta era sua mania, sua perseguição pessoal. O último dia selaria o fim. Seus sonhos não realizados seriam escritos na sua tumba para que as pessoas aprendessem que nem sempre tudo se realiza. O arqueiro deixaria de ser um símbolo de proteção de sua terra humilde, e passaria a representar a frustração. Um coração puro, angustiado pela falta de emoção.
Doce morte, que carrega consigo não só a vida, mas sonhos e esperanças. Tu sempre foi a juíza real das trevas. Soberana rainha da escuridão, que apesar de tudo, cede espaço ao renascimento. O que será do pequeno arqueiro? Ferido no espírito, deixou seu arco. Sua flecha, atirou ao esmo, esperançoso de que ela caísse na sua terra perdida. Para que soubessem que um dia ela fora sonhada, no nobre coração de um jovem arqueiro.
Noctur Spectrus
segunda-feira, 27 de abril de 2015
Uma dançarina na chuva
Uma dançarina na chuva de outono
Quase não se movia
Mas seus poucos movimentos
Demonstravam seu ritmo negro
As vezes parava completamente
Não sabia porque
Não sabia nem quem era
Sua pele pálida acusava a doença
De uma pobre senhorita sem companheiro
Seus cabelos negros eram bonitos
Mas não permitiam que o rosto dela fosse perfeitamente visível.
Noctur Spectrus
Prisioneira da insanidade
Ela fazia tão naturalmente, eu era vítima de seus impulsos psicóticos. Ela agia como se tudo fosse normal, como se algo no fundo de sua alma podre e demoníaca, justificasse suas ações. Eu era só uma vítima, mas eu via nos olhos dela o meu futuro. Eu faria o mesmo. Ela me amarrava sem piedade e me trancava no fundo da casa, eu ficava lá por horas, mas nunca sequer derramei uma lágrima. Ela só aparecia para me manter viva, me alimentar. Mas a vida pra ela não significava nada.
Eu ficava no escuro, no frio, no buraco das almas adormecidas. Eu sentia fome, sede, mas já havia aceitado. No fundo eu não tinha nada além daqueles momentos sozinhos pelos quais eu pensava em tudo que não podia viver. E viver pra que? Lá fora, certamente existiam mais loucos, mais psicopatas fazendo vítimas. Eu seria mais uma...
Eu não tinha sentimento algum, nem de ódio, nem de raiva, nem de amor, nem de compaixão. Eu era sua prisioneira, e ela prisioneira da insanidade. Um dia seria eu cortando o pescoço dela com uma navalha afiada. Um dia seria eu dilacerando sua pele e finalmente, rindo igual as crianças livres.
Noctur Spectrus
A ferida do medo
Uma ferida foi aberta, agora dela se espalha sangue por toda terra. Aconteceu um breve desequilíbrio no céu, e toda a humanidade pagará por toda insanidade. O que há de justo? Nada é justo, nada é justiça, apenas uma forca pendurada, esperando aquele que ousar desafiar o mundo. E o que esperar dessa canção mortal? O que será gerado a partir dessa rebelião?
Palavras sem sentido, vagam e desconhecem o seu caminho. Os passos de uma neblina ressecada não fazem parte do mais nobre coração algemado. Existe um espírito de sobrevivência dentro do ser, que luta por toda chance que vê. Onde uma fagulha de luz desperta, nunca mais há de morrer. No alto das montanhas mais altas, estará o ancião das coisas vagas. O ócio que ele goza da vida, é uma chaga, um resquício de uma história sofrida. Somente quem supera seus desafios, tem forças para escalar tão alto.
O medo é um memorando da derrota, que recorda o fracasso. Ele é o alerta do perigo mais próximo e o condutor da mais terrível queda. Cederam-se no passado o que será cedido no futuro. As gerações carregam no seu sangue o prêmio de seus ancestrais mortais. A luz que banhava a vida, hoje banha o conhecimento. Este é o sentido dos ciclos, a natureza que revela o mistério. Seres de luz cantam e adoram, aquilo que não vemos com os olhos. Mas eles não tem o privilégio de apodrecer nos pensamentos mais pacatos. O vazio da mente é a estrutura da criação. O que for revelado em segredo, será guarnecido em segredo.
Às alturas nossas almas, aos infernos nossa angústia. Que o sofrimento seja nossa escola e a luta nossa glória. Paz só existe para aquele que presenciou o caos, e o caos é o procriador do entendimento. Palavras são só palavras se aquele que lê não tem a capacidade de entender.
Noctur Spectrus
domingo, 26 de abril de 2015
A alma que não vê a luz
Minha alma almeja a salvação
Dos pecados, a tumba da morte
Glorificados foram os senhores da penumbra
Maldição lançaram mais uma vez, e o que pude fazer?
Nenhum anjo cairá do céu para me estender a mão
Eu sou apenas mais um corvo perdido na floresta sombria
De que adianta o sangue correr nas minhas veias
Se já não sei porque corre?
Para onde foi minha esperança?
Onde ela se esconde num momento tão crucial?
Mais uma vez o sol se pôs...
Estamos aqui todos mortos.
A solidão nos dias de hoje é uma dádiva. Ela é um presente que traz a responsabilidade do sofrimento, a dor lava a alma, mas apodrece o corpo e danifica a esperança. Viver é como participar de um jogo qualquer onde nós personagens, não encontramos a saída. Estamos aqui, enquanto nos resta tempo, porém quando ele se esgota, estaremos lá. Que a paz nos tenha, que nossa alma descanse. A tumba é como um escudo, uma guardiã. A morte é nossa melhor amiga.
Noctur Spectrus
Assinar:
Postagens (Atom)